Alguém por certo já ouviu
falar do Praxedes. Quem nunca escutou nada sobre o nosso personagem, novamente
aqui retratado, alguns detalhes sobre seu perfil são informados. Trata-se de um
funcionário público!!! Opa desculpe. Retificação para o politicamente correto:
servidor público de carreira, aprovado em concurso.
Praxedes é exemplar no
desempenho da função pública. Idôneo, fiel cumpridor de suas obrigações
funcionais. Tem o inato pendor da responsabilidade do unicamente certo. Cidadão
de personalidade ilibada, figura impoluta de caráter sem jaça, probo, de indiscutível
retidão, intocável em sua honestidade, um ser incorruptível e ao que parece no
mundo dos espertos, preguiçosos, enganadores, velhacos, sem-vergonhas,
cretinos, canalhas e espertalhões, espécime em extinção.
A repartição em que
trabalha tem acumulo de serviço algo que não o assusta justamente porque ali
trabalha com eficiência, competência, desvelo e carinho.
Trabalho é seu desígnio
determinado, seu firme propósito, a realização pessoal, por isso não se importa
com as obrigações em demasia. Nunca reclama. Vive do trabalho e pelo trabalho. Por
suas virtudes profissionais, toda e qualquer enrolação administrativa, os mais difíceis
rolos, desordem na organização, confusão com papéis, sempre tem alguém que
recomenda: “Entrega lá para o Praxedes”.
Um barnabé diferente, modesto,
simplista, de salário mensal de um pouco mais de três mínimos, profundamente cônscio
de seus deveres, de integração total ao serviço. Desenvolve sua rotina
funcional - o expediente de seis horas - numa pequena sala, acanhada, mas
enorme para suas aptidões.
Às vezes ultrapassa em
uma ou duas horas o horário estabelecido, o expediente normal. Horas extras a que
tem justamente direito bem que poderiam ser cobradas sem qualquer
constrangimento. Não o faz. De moral límpida jamais alguém poderia desconfiar
da seriedade da cobrança, duvidar do trabalho realizado extraordinariamente.
Porém Praxedes não
permitiria que houvesse o mínimo de um pensamento negativo, a dúvida do deslize,
de ser confundido com falcatruas, com o comércio das horas extras. Decididamente não quer saber de horas extras.
Talvez por simples capricho.
Praxedes é um servidor
público de muitos anos. Não falta muito tempo para se aposentar. Nesse passar
de anos no serviço público, a cada eleição vê a troca nos cargos de confiança.
São dezenas, em certas ocasiões até centenas de pessoas, ocupando os chamados Ccs
gente de que por alguma maneira se faz por merecer uma “boquinha”, companheiros
apaniguados, cabos eleitorais, militantes, parentes, conhecidos, vizinhos,
amantes porque não, sempre tem uma vaguinha junto ao poder público.
A maioria estão ali
para passar tempo, sim aqueles que comparecem. Tem gente que nem aparece ao
local de trabalho que usufruem das benesses literalmente, sanguessugas do
erário público, aproveitadores do dinheiro do contribuinte.
Praxedes se esfalfa com
o trabalho. No salão contíguo lá estão os Ccs com o computador ligado. Puro
fingimento se alguém pensar que se trata de trabalho. Não.
Na tela de alguns
computadores se observa que malfadados Ccs buscam jogos. Há aqueles de massa
cinzenta com parcos neurônios que se divertem com o joguinho de paciência.
Aqueles beneficiados um pouco mais inteligentemente se aventuram com o freecell
ou campo minado. Tem gente que não joga nada, prefere ver mulher pelada ou
homem pelado. Afinal entre os Ccs há mulheres ou homens de dúbias opções
sexuais.
E o Praxedes
trabalhando.
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