Tudo começou algum tempo atrás como boato, mais parecendo ser
apenas uma medida intimadora, uma ameaça aos funcionários públicos gaúchos com
o parcelamento dos salários, providência desrespeitosa e injusta de cunho
social.
Mais. Iniciativa iníqua que revela uma desigualdade
funcional. O parcelamento dos salários atinge tão somente o pessoal do poder
executivo. Os servidores do poder judiciário e legislativo estão eximidos da
retaliação financeira do governo, injustiça que parece ser contrária ao
princípio constitucional da igualdade. Enfim, o que parecia ser balela tornou-se
verdade; a boataria uma realidade; aquilo que todos os servidores desconfiavam
aconteceu: o salário de parte dos funcionários seria parcelado em três vezes. A
confirmação dessa apreensiva situação aos funcionários ocorreu de maneira
informal numa declaração do vice-governador gaúcho. E o governador? Cadê o
governador? Estaria numa festa do Dia do Colono? No dia seguinte a informação
oficiosa do vice, foi a vez do secretário da fazenda oficialmente declarar que
os funcionários do executivo que percebessem acima de CR$ 2.150,00 teriam seus
ordenados decididamente, por irremediável medida, parcelados.
Vice, secretário, anunciando essenciais e consideráveis decisões
de intensidade envolvente na vida social, no cotidiano de parcela importante da
população gaúcha.
Cadê o governador? Esteve passeando pelo Paraná ou foi à
sauna? Num momento político tão relevante negativamente, numa significativa aflita
situação de governança, de administração pública de intensa dificuldade, o
governante se omitiu. Deveria pessoalmente e necessariamente se pronunciar. Preferiu
de certa forma ocultar-se, manifestando-se aos anseios do funcionalismo por
redes sociais.
Dito isso, nota-se que o parcelamento dos salários revela outra
situação difícil, perto da humilhação: o arrocho salarial do funcionalismo. 47%
dos funcionários não receberam os salários do mês de julho no período aprazado.
Razão disso, o parcelamento. O motivo - conforme foi dito - eles ganham acima
de R$ 2.150,00. Assim configura-se outra conjuntura, lógica dedução: a outra
maior parte, mais da metade dos funcionários públicos receberam em dia os
salários, ou seja, mais exatamente 53% ganham menos dos valores estipulados de
R$ 2.150,00, vencimentos concernentes em maioria ao pessoal de serviços gerais,
soldados da Brigada Militar e professores. Comprova-se. Há uma defasagem
salarial imensa na comparação dos gaúchos com outros estados. O Rio Grande do
Sul é o segundo estado que tem o pior salário pago ao soldado da policia
militar. Inferior aos gaúchos, só mesmo a corporação do estado de Roraima. O
estado gaúcho paga mal ao magistério. O seu piso salarial está entre piores do
país. Pelo parcelamento observa-se: um total de 62% dos professores recebeu em
dia seus salários. Não atrasou o pagamento. Beleza! Qual nada !!!
O percentual é prova irrefutável, de forma deprimente, que
entre 10 professores da rede estadual de ensino, somente quatro tem salários
superiores a R$ 2.150,00. Conjeturas quanto aos próximos pagamentos se fazem importantes
e necessárias através de um cálculo futurista salarial. A última parcela dos
salários de julho será paga em 25 de agosto. Provavelmente salários de agosto
pagos em setembro? De setembro em outubro? Outubro sabe-se lá quando. Novembro,
dezembro, 13º, certamente ano que vem, em que mês, mistério.
O pior está para acontecer. Cogita o governo parcelar
salários, desta feita, a partir de R$
1.000,00. Assim, alguns “privilegiados” receberão em dia: serventes em escolas,
professores de 20 horas semanais com salários de um pouco mais de R$ 800,00.
Em tempo: aqueles assessores de deputados – alguns que nem
comparecem ao trabalho – de salários que variam de R$ 2.700,00 a R$ 14.000,00 não
terão parcelamento: poder legislativo.