O golpe é
conhecidíssimo, manjado por longos anos. O sujeito se mostra com aquela
aparência tímida, meio boboca, expressando plena humilde, com jeito de alguém
desorientado, parecendo sem instrução. Com um bilhete da loteria federal,
evidentemente falsificado, depois de uma espreita, se aproxima de uma pessoa
previamente escolhida como personagem de uma trama (sempre um idoso) na saída
de um banco depois da retirada de determinada quantia. O encontro e inicia-se a
lenga-lenga como isca (não sabe como receber o dinheiro, não conhece ninguém),
a conversa fiada, o engodo; a promessa de um bilhete premiado de interessante
valor e a possível troca por um interessante valor maior, sempre quantia
superior àquela que a vítima retirou da agência bancária. A ganância, a ambição
exagerada, facilita a ação criminosa dos meliantes. Tenho meu dinheiro, mas é
fácil ter mais. O bilhete falso é trocado por dinheiro verdadeiro.
Essa fraude,
a adulação astuciosa, esta na cultura transgressora, também chamada
popularmente conto do vigário. Não sou pessoa gananciosa, nem ambiciosa, nem um
tolo para ser iludido por uma farsa repetida, batida.
No entanto
passei por otário, bobo, pateta, pois fui iludido ingenuamente por um golpe
desconhecido completamente por mim.
Um domingo
desse qualquer. Almoço em família. Em determinado momento, o som intrometido e
inconveniente da campainha acionada lá fora no portão interrompe a refeição. Incomodado,
mesmo assim vou verificar do que se trata. A principio acreditei trata-se de pessoa
ligada a alguma seita – como vez por outra acontece – doando revistas e a
tentativa de me evangelizar. Não foi o caso.
Deparei-me
com um sujeito razoavelmente vestido, de razoável aparência.
Antes, porém
do fato propriamente dito a ser relatado, é imprescindível dizer que moro por
mais de 30 anos no mesmo local e com isso o conhecimento de todos os vizinhos. Algum
tempo atrás na esquina da rua onde moro (aproximadamente 100 metros) foi
construído um prédio de apartamentos - desvirtuando todo o panorama local em
que as residências são casas -, cujos moradores desconheço.
Pois bem,
dito isso, vamos ao fato. Indago ao individuo o que deseja. Esbaforido, se mostrando
inquieto e ansioso, com aquela fisionomia de “pelo amor de deus, me ajude”, com
voz tremula, quase gaguejando, suplica:
- Moro ali
naquele prédio. Perdi a chave do apartamento e tenho que chamar um chaveiro e
não tenho nenhum tostão. Eu preciso de 35 reais. Poderia me emprestar?
Meu coração
caridoso pronto a cooperar, o meu ser altruísta com intuito de colaborar, o
espírito filantrópico de amor ao próximo, prontamente prestou a ajuda e com
isso mais um panaca, um imbecil na crônica do cotidiano cômico, idiota e
hilário.
Mais. Mais
bobeira feita. Não dei somente os 35 reais necessários. Como tinha somente duas
notas de 20, doei 40 reais. O individuo vigarista deve ter ficado alegre de
felicidade com a minha bondade boba e a estúpida ingenuidade.
Quando
forneci a grana ao falso individuo, ficou a promessa de que naquele mesmo dia
ele devolveria o valor e até mesmo como garantia ofereceu seu celular
(provavelmente roubado).
Por tudo
isso, o epilogo do cômico acontecimento, o final da bestial ocorrência não é difícil
adivinhar. O sujeito nunca mais voltou, desapareceu como fantasma e deve morar no quintos do inferno
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