domingo, 2 de agosto de 2015

Otário...bobo...panaca

O golpe é conhecidíssimo, manjado por longos anos. O sujeito se mostra com aquela aparência tímida, meio boboca, expressando plena humilde, com jeito de alguém desorientado, parecendo sem instrução. Com um bilhete da loteria federal, evidentemente falsificado, depois de uma espreita, se aproxima de uma pessoa previamente escolhida como personagem de uma trama (sempre um idoso) na saída de um banco depois da retirada de determinada quantia. O encontro e inicia-se a lenga-lenga como isca (não sabe como receber o dinheiro, não conhece ninguém), a conversa fiada, o engodo; a promessa de um bilhete premiado de interessante valor e a possível troca por um interessante valor maior, sempre quantia superior àquela que a vítima retirou da agência bancária. A ganância, a ambição exagerada, facilita a ação criminosa dos meliantes. Tenho meu dinheiro, mas é fácil ter mais. O bilhete falso é trocado por dinheiro verdadeiro.
Essa fraude, a adulação astuciosa, esta na cultura transgressora, também chamada popularmente conto do vigário. Não sou pessoa gananciosa, nem ambiciosa, nem um tolo para ser iludido por uma farsa repetida, batida.
No entanto passei por otário, bobo, pateta, pois fui iludido ingenuamente por um golpe desconhecido completamente por mim.
Um domingo desse qualquer. Almoço em família. Em determinado momento, o som intrometido e inconveniente da campainha acionada lá fora no portão interrompe a refeição. Incomodado, mesmo assim vou verificar do que se trata. A principio acreditei trata-se de pessoa ligada a alguma seita – como vez por outra acontece – doando revistas e a tentativa de me evangelizar. Não foi o caso.
Deparei-me com um sujeito razoavelmente vestido, de razoável aparência.
Antes, porém do fato propriamente dito a ser relatado, é imprescindível dizer que moro por mais de 30 anos no mesmo local e com isso o conhecimento de todos os vizinhos. Algum tempo atrás na esquina da rua onde moro (aproximadamente 100 metros) foi construído um prédio de apartamentos - desvirtuando todo o panorama local em que as residências são casas -, cujos moradores desconheço.
Pois bem, dito isso, vamos ao fato. Indago ao individuo o que deseja. Esbaforido, se mostrando inquieto e ansioso, com aquela fisionomia de “pelo amor de deus, me ajude”, com voz tremula, quase gaguejando, suplica:
- Moro ali naquele prédio. Perdi a chave do apartamento e tenho que chamar um chaveiro e não tenho nenhum tostão. Eu preciso de 35 reais. Poderia me emprestar? 
Meu coração caridoso pronto a cooperar, o meu ser altruísta com intuito de colaborar, o espírito filantrópico de amor ao próximo, prontamente prestou a ajuda e com isso mais um panaca, um imbecil na crônica do cotidiano cômico, idiota e hilário.
Mais. Mais bobeira feita. Não dei somente os 35 reais necessários. Como tinha somente duas notas de 20, doei 40 reais. O individuo vigarista deve ter ficado alegre de felicidade com a minha bondade boba e a estúpida ingenuidade.
Quando forneci a grana ao falso individuo, ficou a promessa de que naquele mesmo dia ele devolveria o valor e até mesmo como garantia ofereceu seu celular (provavelmente roubado).
Por tudo isso, o epilogo do cômico acontecimento, o final da bestial ocorrência não é difícil adivinhar. O sujeito nunca mais voltou, desapareceu como fantasma e deve morar no quintos do inferno

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