segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Cunha: Pilatos, Judas, fariseu. Voto de castidade vale

Faço minha caminhada diária percorrendo ruas da cidade. O ideal, mais saudável, seria andar entre árvores, por alamedas. Exigir demais. Uma exigência não demais, seria que os logradouros tivessem calçadas sem aqueles buracos, frestas, vãos, verdadeiras armadilhas para uma queda, uma torção ou fratura do tornozelo.
Apesar dos percalços sigo a caminhada. Hi... quem encontro. Maroca.
Maroca como sempre elegante, em qualquer lugar. No mercado, na casa das amigas, na casa da comadre Etelvina (principalmente lá para que ela não faça qualquer comentário desairoso). Cabelos bem arrumados, com aquele irresistível charme do tom natural grisalho. O rosto com maquiagem de leve base. O vestuário simples, vestido gracioso de cores discretas. Sapato de salto baixo.
Assim passeia Maroca com sua inseparável bolsa para carregar não se sabe o quê.
É bom ressaltar que não se trata de apetrecho de “marca”, afinal Maroca é professora aposentada recebendo salário em atraso.
Lá vai ela cheia de estilo, posuda, pose com jeito de empáfia. Sempre foi assim na sua postura altiva, que fazia com que, quando lecionava, ao entrar na sala de aula, os alunos de pé a recebia e assim a reverenciava.
Cumprimento-a: “Como vai Maroca?” (ela não admite ser chamada de dona).
Antes de falar alguma coisa como resposta, dá para notar a fisionomia de jeito maroto, mistura de satisfação e malicia, o sorriso irônico.
Diga Maroca, digo eu: “Qual o motivo da satisfação”?
O semblante agora inspira maldade. Maroca solta o verbo.
- Estou sim muito satisfeita. O salafrário do Pôncio Pilatos de hoje, que condenou Dilma, o patife do Judas atual que traiu Dilma, o fariseu cabotino foi cassado. Vai ser deputado agora no quinto dos infernos. Sabe, por causa dele e tantos outros sem-vergonhas, imorais, devassos, não vou participar da canalhice política, da eleição. Vou protestar, já disse, vou anular meu voto.
- Maroca seguinte, preste atenção: anular seu voto não vai anular coisa alguma
- Por que não? Estou sabendo que se 51% dos votos forem nulos, a eleição é anulada.
- Não Maroca. Explico. Se mais da metade dos eleitores faça a opção pelo voto nulo, assim mesmo a eleição não poderá ser cancelada, será rigorosamente válida, isso porque os votos nulos são descartados na contagem final. Dessa forma ganhará o candidato que tiver o maior número de votos válidos. Então seu protesto nada vale.
Digo mais. Uma eleição só pode ser anulada mediante decisão da Justiça eleitoral tornando os votos nulos, por crime eleitoral.
- Entendi. Então vou votar em branco
- Não, não adianta Maroca, trata-se da mesma coisa, o mesmo ditame do voto nulo, ou seja, não terá nenhuma influência no resultado final da eleição. Tem mais, a abstenção também não anula coisa alguma.
- Voto de castidade, pode?
Bem, aí nada sei. Sabe Maroca, votos nulos e brancos podem proporcionar uma situação inusitada. Exemplo: numa eleição, no universo de 5 mil votos, descartando 4.990 votos nulos e brancos, o candidato que tiver mais votos entre os 10 válidos, será eleito.
Digo tchau à Maroca e ela ainda irritadíssima, cuspindo maribondos, diz:
- Nisso tudo, votos nulos, brancos, de castidade, tenho uma certeza: tem um patife que durante muitos anos não vai ganhar voto algum.


  




terça-feira, 13 de setembro de 2016

Dilma despedida e Fátima separada: Maroca e Etelvina fofocam

O telefone toca. A campainha ecoa por todo ambiente de forma insistente. O som da sineta tem baixo volume, mais o efeito produzido no sentido da audição em ambiente de sossego, irrita, incomoda, perturba Maroca.
Maroca é quem deve atender. Não há alternativa. Tem que ser ela. Mora sozinha. Não faz o atendimento. Está entretida com o manuseio da agulha bordando crochê, contando cada ponto. Não dá para fazer as duas coisas ao mesmo tempo.
Com sempre acontece, depois de soar meia dúzia de vezes o telefone desliga.
A pessoa que está no outro lado da linha insiste. Refaz a ligação. Segunda chamada. Maroca, refestelada no sofá com o seu crochê, a contragosto resolve atender a chamada. O aparelho é o convencional. Do tempo analógico.
Maroca tem que se deslocar. Faz esforço para se levantar do sofá. Uma, duas tentativas. Na terceira... opa, deu certo. Idade... talvez. Mas tem muito de indolência, de deixar a zona de conforto do sofá.
Maroca é sim idosa, porém ainda não expirou seu prazo de validade. Não gosta de ser chamada de velha, acha depreciativo. Muito menos dizer que está na melhor idade o que para ela é frescura. Enfim, atende o dito cujo telefonema.
- Alô. Aqui é Maroca
- Oi, aqui é Etelvina. Maroca franze a testa, olhar para cima, tipicamente de entediada. Etelvina inicia a conversa. Está sabendo o que houve?
- Sim, sei. Dilma foi execrada, despedida, destituída, cassada, impichada.
- Não, não é isso Maroca. O que quero dizer..
- Sei muito bem o que você quer dizer. Há muito tempo estou sabendo que você bandeou para os lados dos coxinhas. Andou até batendo panelas.
Itelvina fica indignada.
- Você parece petralha. Jamais faria isso, bater nas minhas ricas panelas Tramontina”
 Maroca retruca: Agora para você é tudo Michel. Você sabe o que significa em francês o nome Michel? Trata-se de um diminutivo, coisa pequena. O traíra, o golpista tornou-se presidente sem nenhum voto, enquanto 54 milhões foram anulados. Eu irei anular meu voto na urna para não ser anulado no Congresso.
- Desculpe Maroca, tem que haver respeito com o aquele que foi interino, provisório,  e agora é efetivo, definitivo, nosso presidente.
-  Às favas Etelvina. Pode ser teu, meu jamais.
Etelvina mais sensata muda de assunto.
- Maroca, desde o início da nossa conversa o que eu queria comentar é a separação de William e Fátima. Maroca surpreendida.
- Não acredito. Porque não falou logo? Sabe o motivo da separação?
Etelvina desconfia que a causa foi ciúme.
- Sabe Maroca, o William estava meio se fresqueando com a Maju. Você repara quando ele sai da bancada para falar com ela caminha sacolejando-se, alegre e satisfeito. Ela sempre elegante, deslumbrada, sem tempo a perder fala do tempo.
- Sabe querida Ete. Há ciumeira quanto a Renata, jornalista e recém-separada.  
- Maroca tem o outro lado. O William parece estar enciumado também. Naquele comercial em que parece Fátima e o chef Fogaça os dois se mostram alegres e felizes.
- Etevilna você tem a língua ferina. Eles estão assim, vai ver pelo cachê recebido.
- Maroca uma coisa é certa: o motivo da separação de Dilma e Michel, não há dúvida, foi o poder.

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