O telefone
toca. A campainha ecoa por todo ambiente de forma insistente. O som da sineta
tem baixo volume, mais o efeito produzido no sentido da audição em ambiente de
sossego, irrita, incomoda, perturba Maroca.
Maroca é
quem deve atender. Não há alternativa. Tem que ser ela. Mora sozinha. Não faz o
atendimento. Está entretida com o manuseio da agulha bordando crochê, contando
cada ponto. Não dá para fazer as duas coisas ao mesmo tempo.
Com sempre
acontece, depois de soar meia dúzia de vezes o telefone desliga.
A pessoa que
está no outro lado da linha insiste. Refaz a ligação. Segunda chamada. Maroca, refestelada
no sofá com o seu crochê, a contragosto resolve atender a chamada. O aparelho é
o convencional. Do tempo analógico.
Maroca tem
que se deslocar. Faz esforço para se levantar do sofá. Uma, duas tentativas. Na
terceira... opa, deu certo. Idade... talvez. Mas tem muito de indolência, de
deixar a zona de conforto do sofá.
Maroca é sim
idosa, porém ainda não expirou seu prazo de validade. Não gosta de ser chamada
de velha, acha depreciativo. Muito menos dizer que está na melhor idade o que
para ela é frescura. Enfim, atende o dito cujo telefonema.
- Alô. Aqui
é Maroca
- Oi, aqui é
Etelvina. Maroca franze a testa, olhar para cima, tipicamente de entediada.
Etelvina inicia a conversa. Está sabendo o que houve?
- Sim, sei.
Dilma foi execrada, despedida, destituída, cassada, impichada.
- Não, não é
isso Maroca. O que quero dizer..
- Sei muito
bem o que você quer dizer. Há muito tempo estou sabendo que você bandeou para
os lados dos coxinhas. Andou até batendo panelas.
Itelvina
fica indignada.
- Você
parece petralha. Jamais faria isso, bater
nas minhas ricas panelas Tramontina”
Maroca retruca: Agora para você é tudo Michel.
Você sabe o que significa em francês o nome Michel? Trata-se de um diminutivo, coisa
pequena. O traíra, o golpista tornou-se presidente sem nenhum voto, enquanto 54
milhões foram anulados. Eu irei anular meu voto na urna para não ser anulado no
Congresso.
- Desculpe Maroca,
tem que haver respeito com o aquele que foi interino, provisório, e agora é efetivo, definitivo, nosso
presidente.
- Às favas Etelvina. Pode ser teu, meu jamais.
Etelvina
mais sensata muda de assunto.
- Maroca,
desde o início da nossa conversa o que eu queria comentar é a separação de
William e Fátima. Maroca surpreendida.
- Não acredito.
Porque não falou logo? Sabe o motivo da separação?
Etelvina desconfia
que a causa foi ciúme.
- Sabe
Maroca, o William estava meio se fresqueando com a Maju. Você repara quando ele
sai da bancada para falar com ela caminha sacolejando-se, alegre e satisfeito.
Ela sempre elegante, deslumbrada, sem tempo a perder fala do tempo.
- Sabe querida
Ete. Há ciumeira quanto a Renata, jornalista e recém-separada.
- Maroca tem
o outro lado. O William parece estar enciumado também. Naquele comercial em que
parece Fátima e o chef Fogaça os dois se mostram alegres e felizes.
- Etevilna você
tem a língua ferina. Eles estão assim, vai ver pelo cachê recebido.
- Maroca uma
coisa é certa: o motivo da separação de Dilma e Michel, não há dúvida, foi o poder.
-
.
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