segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Etelvina

Etelvina, caminha pela rua e ao longe, percebe a presença de sua amiga Gertrudes. Fica ansiosa pelo cumprimento e apressada, cinco metros antes do encontro, de modo espalhafatoso, abre o braço direito em forma de concha para encaixar um abraço envolvendo a amiga. O abraço é dado, de modo fútil, longe de ser um amplexo fervoroso. Os beijinhos na face são ambíguos, autênticos ou falsos, dependendo do espírito da beijada, cabendo interpretação da sinceridade ou não do osculo.
Ete (assim é chamada na intimidade) fala demais Muitas vezes fala o que não deve, até mentiras, é indiscreta, invejosa e mexeriqueira, portanto eximia em fazer intrigas, muito delas pela invencionice. Brigas entre homens e mulheres, casais separados, traições, o comportamento de amigas, verdades ou não, não escapam de sua fama de língua ferina. Imaginem. Fala até mal dos políticos. Está sempre sibilando, pronta à acrescentar um pouco de veneno a qualquer comentário. Como pessoa muito falante tem a abundância das palavras marcadas pela futilidade, de poucas ideias. É uma faladora contumaz, irrequieta não sossega a língua. Quem conversa demais dá bom dia a cavalo. Literalmente Ete fala pelos cotovelos. Para ter certeza que o seu ouvinte está atento e chamar maior atenção tem a mania de tocar o seu interlocutor com o cotovelo. Além disso, Etelvina tem um outro jeito para certificar-se de que realmente é escutada. A cada frase, ou uma única palavra, usa a exclamação “hein” repetidas diversas vezes. “Hein, hein, hein”. Um dia, Gertrudes, anteriormente referida, amiga de Etelvina, é o protótipo essencialmente contrário a Ete. Fala muito pouco, aquele tipo de que entra calada no recinto e sai muda. Gertrudes telefona para a amiga:
- Alô é Etelvina? (Gertrudes não gosta muito de intimidade, nada de Ete)
- Sim amiga. Sou eu mesmo. Como vai, tudo bem?
- Olha nem tanto, principalmente para você. Tenho que lhe contar algo de muito ruim.
Gertrudes é uma mulher recatada, muito modesta, do melhor pudor, de muitas virtudes. Titubeia, não sabe como começar a contar o fato ocorrido.
Do outro lado da linha Etelvina está ansiosa e curiosa para saber do que se trata o que pode motivar fofocas aumentadas para outras amigas. Diz Gertrudes:
- Ontem eu vi Antônio (marido de Etelvina) num agarramento só com uma loira, aos abraços e beijos. Atônita, Ete responde que não acredita. Nada mais diz. Confia no marido e não acredita que o Toninho seja um cafajeste. Desliga mal educadamente o telefone, em seguida reflete: “Como tem gente fofoqueira, até Gertrudes”.

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