O grupo de jovens aproveita o sol e calor para se divertir realizando um passeio em local apropriado, nas proximidades de uma cachoeira, a poucos dias da festa de Natal. Marcelo é um deles. Em determinado momento, de farra, exibicionista, avisa aos amigos que saltará numa piscina natural em busca de um suposto tesouro e para isso resolve dar um mergulho no lago. Naquele momento ele vê sua vida se transformar num pesadelo em questão de segundos. O espaço para saltar é amplo em largura, mas de pouca profundidade, um pouco mais de meio metro. O impacto é forte e trágico. A pouca quantidade de água não é suficiente para absorver com segurança o salto. Marcelo se choca com o piso de pedra. Fica tonto e com medo de morrer afogado. O corpo não responde aos movimentos, sente-se inerte, incapaz. Os amigos retiram do local, o conduzem ao hospital. Cirurgia, internamento em U.T.I, vértebra quebrada e irremediavelmente paraplégico. Começou no trágico mergulho a história contada no livro Feliz Ano Velho. De autoria de Marcelo Rubens Paiva - o rapaz do infeliz mergulho – é uma autobiografia, o relato verdadeiro do acidente que o vitimou e marcou toda uma geração de leitores dos anos da década de 80, tornando-se referência na literatura brasileira contemporânea. Marcelo, na juventude de seus 20 anos, esbelto, bonito e saudável tinha um provável futuro prodigioso, uma possível vida admirável, uma existência favorável pela frente. Filho de pais de classe média alta, de bem com a vida, incontáveis namoradas, muitos amigos do seu circulo de vivência, tratava-se de um bon-vivant na acepção correta da palavra, de viver no bem bom.
De repente sente-se recolhido, impotente, condenado a utilizar uma cadeira de rodas para se movimentar. Sempre quis tudo o que queria e a partir do acidente não mais poderia ter tudo como, por exemplo, o desejo de andar, correr, amar e viver plenamente. Ali estava ele fraco e vencido, na dependência dos familiares e amigos.
Foi o segundo trauma de Marcelo. O primeiro aos 11 anos. Viu seu apartamento ser invadido por bandidos travestidos de “agentes da lei” e com isso o “desaparecimento” de seu pai, o deputado federal Rubens Paiva, por ação da ditadura militar.
O acidente de Marcelo, seu segundo trauma, ocorreu dias antes do Natal, portanto um pouco mais de uma semana, para mais um ano terminar. Até antes do fatídico acontecimento para Marcelo havia sido um feliz ano velho, o mesmo não se poderia dizer para o novo ano.
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