A fotografia é o registro implacável de um fato, testemunha
de um acontecimento, congela um momento, trava um instante, cristaliza a beleza
da imagem tão desejada, busca segurar o tempo, revive o passado. A memória pode
ser confusa, as recordações não tão claras, mas o álbum de fotografias está
pronto para as reminiscências.
A fotografia é emoção, a sensibilidade da imobilidade,
retrata a paralisia de um rápido momento. Guarda o instante imperdível. Deixa o
passado registrado, comunica e informa.
A fotografia não precisa de tradução. É universal,
compreendida em qualquer idioma.
Ela reproduz ao infinito o que só ocorre uma vez. Será a
constante repetição em qualquer momento de alguma coisa que talvez nunca mais
irá se repetir. Imortaliza o momento único.
Voltar ao passado senão através do registro fotográfico. O
clique de uma brevidade, o registro em pequena fração de tempo de um único e
inesquecível momento.
Fotografar é marcar a magia do cotidiano, a captura para a
eternidade. Uma fotografia torna tudo importante em cada detalhe. Revela-se pelas cores. Nada deixa passar,
nada é irrelevante. Por ela se registra a passagem pela vida. Muita coisa que
poderia ser simplesmente uma ficção, a fotografia transpõe à realidade a
dimensão de sonhos, o sentimento da felicidade vivida, o prazer da alegria
intensa.
A fotografia não é somente o retrato dos bons e melhores momentos,
da plena felicidade e alegria em viver. Arquiva, guarda a tristeza, como o registro
que fica de uma ausência, a saudade em meio ao livro da coleção de retratos.
A fotografia é real, dura e autêntica. Revela o bem, a
maldade. Nada esconde. Romântica com o encanto, com as belezas do mundo,
radical com os seus opostos, guarda doloridas imagens.
A fotografia da criança, de olhar sereno, do sorriso
inocente nos lábios se contrapõe a figura do velho decrépito de feição
carcomida pelo tempo.
Fotografia reveladora do passar do tempo
A ave de penas de belíssimo colorido, altiva e imponente,
faz seu suave voo. O tigre de profundos olhos verdes fotografado em sua
indomável fúria.
Fotografia de plena afeição e do furor da cólera.
A fotografia da natureza tranquila e esplendorosa, outras de
desastrosos fenômenos naturais.
A fotografia de gente bonita. O desespero de jovens cheios
de vida, a tragédia de Santa Maria.
A fotografia percorreu o mundo. O anônimo em desabalada
corrida pela rua na tentativa de salvar o desfalecido desconhecido. Início da
tragédia anunciada.
Rapazes munidos de marretas e picaretas, com toda a força do
mundo, arrebentando parede na tentativa de abrir um caminho para vida. A foto revela,
testemunha a cena dramática.
A moça chora na extremidade, debruçada sobre o ataúde. O
rosto coberto pelo chapéu preto, com uma fita azul ao seu redor, típico da
indumentária gaúcha. Dela somente aparece os braços alvos e desnudos, no pulso
feminino e delicado uma graciosa pulseira, as mãos de dedos finos e longos, as
unhas embelezadas pelo esmalte rosa e cintilante. Com o rosto escondido chora
em desespero. A fotografia revela toda a dor, a dramaticidade de uma dolorosa e
inesquecível cena. A foto do vazio, da saudade, da ausência de alguém.
O namorado da moça do
chapéu preto lhe pediu para segurar o chapéu preto enquanto iria ao banheiro. Naquele
instante se desencadeou a tragédia. O rapaz não voltou. Nunca mais se viram. A
moça ficou somente com o chapéu preto. A fotografia mostra.
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