Entre beijos e abraços, sedentos de amor, em meio a
sensualidade excitante pelo prazer, a volúpia fremente pelo sexo, com a voz
baixa, murmurante, quase num sussurro, parecendo segredar, preocupada e
temerosa, ela disse- me assim:
- Por favor, tenha pena de mim, vá embora.
Entre mais beijos e abraços, pedi para ficar mais um pouco. Não,
ela disse-me não.
Tinha receio e pavor de um possível desfecho trágico, de uma
tragédia passional. Quase chorando, desesperada, persistiu, implorou, apesar de
estar vivendo também intenso amor, disse-me mais:
- Vá embora. Ele pode chegar, vais me prejudicar. Está na
hora.
Assim mesmo insisti para ficar. Fiquei para continuar com
aqueles momentos ardentes de prazeres proibidos, devassos, perigosos e
traidores. E aí ele nos encontrou.
Por um capricho
qualquer, pela sedução do amor fui fazer o que quis. Uma loucura e agora o
remorso me tortura. Por um simples prazer fui fazer meu amor infeliz.
Paixão, a sensibilidade que predispõe alguém a desejar outro
alguém, sentimento forte e profundo que mistura amor e ódio.
Amores podem ser passageiros, os eternos são paixões. Amores
inconsequentes ou imutáveis paixões. O romântico amor contraria a louca paixão.
As aventuras arrebatadoras apaixonantes, a certeza de consistentes afeições.
Ardentes paixões, amores platônicos. Amores desregrados, paixões libertinas.
Vocês estão vendo aquela mulher de cabelos brancos. Conheci
como moça, seu nome Maria Rosa, seu sobrenome Paixão.
Amou muito, apaixonou-se loucamente. Hoje pobre mulher: Maria
Rosa Paixão.
Houve um tempo, jovem, linda e sensual, paixão de todos os
homens, o amor desejado, tempo em que toda vez que falava iluminava mais o
ambiente do que a luz vermelha do refletor, que em volta as mariposas esvoaçavam.
O local, o cabaré onde ela dançava se inflamava e os homens embevecidos,
embasbacados, com desejos de prazer, de possuir ardentemente aquele corpo escultural
que os enfeitiçavam, todos seduzidos pela volúpia.
Você sabe o que ter um amor ou uma paixão? Ter loucura por
uma mulher e o desespero de um ser apaixonado encontrá-la ao lado de um tipo
qualquer e por esse amor quase morrer ao vê-la aos beijos e abraços com outro
alguém.
Há pessoas com nervos de aço, sem sangue nas veias e sem
coração. Não sei. Eu só sei que quando a vejo me dá um desejo de morte ou de
dor o que fez de mim um molambo qualquer. Muitas noites não dormidas, rolando
na cama insone, a sentir tantas coisas que a gente não pode explicar.
Para mim só existe um caminho a seguir: fugir de ti. Fugir
apesar da minha vontade em te seguir. Mas espero sua volta para viver outra vez
ao meu lado. Minha casa está a disposição, a porta aberta. É só entrar amor, a
casa é sua.
Cada vez que a lembro, sinto que a amo. Sempre recordo que a
adoro. E o pior é de que eu sei que tu andas dizendo para todo mundo que eu fui
abandonado por ser um vagabundo. Sim, um vagabundo do amor, um farrapo, o
molambo da paixão.
É por isso que eu digo a esses moços, pobres moços, que se
soubessem o que eu sei, não amavam, não passavam aquilo que eu passei.
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Crôníca baseada nas composições eternas de Lupicínio Rodrigues
– 100 anos