Segunda-feira. Um dia depois do domingo de manifestações
públicas.
Dois amigos ocasionalmente se encontram. Tem vidas
completamente diferentes, socialmente e economicamente. Amigos desde a infância
em determinado bairro.
Eles têm condição e estilo de vidas inversas e como causas
diferenciais as oportunidades oferecidas para estudar.
O primeiro amigo estudou. A família é possuidora de recursos
financeiros confortáveis. Estudos básicos, depois graduados. O curso superior
lhe deu conhecimento para prestar concurso público, ser aprovado como servidor
público no governo federal.
O segundo amigo, sem qualquer preconceito, em relação ao que está
escrito - simplesmente ser segundo é por
uma questão de ordem no texto - não teve ocasião favorável para os estudos
imposta, claro, por circunstância financeira oposta ao primeiro amigo.
Estudo... ensino fundamental e médio. O estudo mais adiantado resumiu-se a um
curso profissionalizante, que oportunizou trabalho como operário na indústria
metalúrgica. Sujeito tipicamente proletário.
Os amigos encontraram-se na segunda-feira. Cumprimentaram-se.
Troca de gentilezas. Como vai? Como está? Lembranças rápidas. Em seguida início
de um diálogo que envolve os acontecimentos do dia anterior, domingo.
A conversa começa pelo primeiro amigo.
- Estou em plena ressaca.
O segundo amigo replica com ironia.
- Andou bebendo “umas e outras” e pelo seu estilo de vida
deve ter sido um porre de whisky importado.
- Não, nada disso. A minha ressaca é por aquela manifestação
democrática contra o estado de coisas que passa o país.
- Amigo, não leva a mal. Não estou sabendo de coisa nenhuma.
O amigo, o primeiro, ficou aparvalhado com a “ignorância” do
amigo segundo.
- Você não anda pelas ruas? Não observou nenhuma movimentação
diferente?
De fato o amigo não viu nada que lhe pudesse chamar a
atenção. Mora numa rua num bairro da periferia.
- Não, não vi nada. Onde moro foi mais um domingo modorrento
igual a tantos outros. Tudo acontece igualzinho. Eu por exemplo. Vou até a
lanchonete antes do almoço. Lá enquanto converso com os amigos, num martelinho
bebo um “rabo de galo”. Vou para casa, preparo o churrasquinho para família. Assim,
não vi nenhuma passeata.
- Churrasquinho, nada mal. Comer uma boa picanha num domingo
é bem legal.
- Amigo... picanha coisa nenhuma. Fui ao supermercado e
comprei numa promoção coxinhas de galinhas. Churrasquinho baratinho. Bem
assadinhas as coxinhas estavam saborosas. Com apetite, com tremenda fome
devorei as coxinhas.
- Pois bem. No seu bairro nada aconteceu de diferente. Mas
você não houve rádio?
- Claro que ouço. Adoro escutar aquelas bandinhas alemãs na
rádio Imperial.
- Você não é analfabeto. Deve ler jornal.
- Sim, como não. Acompanho sempre o noticiário esportivo e
policial.
- E televisão. Não vê televisão?
- Quem é que não vê. Evidentemente que assisto. Domingo por
exemplo. Vi o jogo do Internacional e depois, em seguida, assisti o programa do
Silvio Santos.
O papo terminou. Despediram-se. Lembranças. Abraços.
No dialogo observa-se claramente o posicionamento político do
primeiro amigo, conservador, à direita, ou seja, conhecido coxinha.
Quanto ao segundo amigo não se pode definir seu
posicionamento ideológico por suas palavras com um viés de ironia, dúbias, por um pensamento enigmático.
Pode ser um petralha dissimulado, ou simplesmente um alienado
político social.
Nenhum comentário:
Postar um comentário