Passou sua
adolescência em berço esplêndido. Família abastada, moça de vida burguesa,
assim foi a adolescente Ana Lúcia. Estudou em melhor colégio da rede privada,
mais tarde, adulta, o curso superior de pedagogia, sem saber se verdadeiramente
era sua vocação. Teria que estudar para fazer algo proveitoso. O tempo era muito
ocioso. Perdia horas na internet, em redes sociais, comunicando-se com as
amigas e como acontece entre adolescentes, tratando de futilidades. Foi criada em
ambiente de uma família conservadora, de uma educação apegada as tradições que
no mundo atual não passa de algo anacrônico, coisa de muitos anos passados. Nessa
tradição, nesse conservadorismo, sobressai o patriarcado machista, expresso por
atitudes de um chefe de família que recusa a igualdade de direitos e deveres,
favorecendo e enaltecendo o sexo masculino sobre o feminino. Trata-se de uma
educação retrógrada e depreciativa que determina um procedimento de opressão, de
forma infame e vergonhosa para com suas mulheres, “que devem fazer tudo pela
casa, pelo lar”. Ana Lúcia é uma bela moça, recatada e muito provavelmente pela
educação arcaica recebida, pelos obsoletos costumes, provavelmente seu futuro é
ser dona de casa, seguindo a tradição de sua mãe, de sua avó, sei lá...até a
tataravó, não se sabe se belas, mas certamente recatadas e sim donas de casa. Adulta,
relacionou-se com Antônio Augusto. Passada a condição de namorados os dois
foram viver suas vidas com a intenção de formar nova família. Ana Lucia, no
período de inicial do relacionamento, acreditava no jeito de Antônio Augusto ser:
personalidade íntegra, conduta ilibada, sem qualquer mácula, meigo,
compreensivo. Do namoro à união conjugal e aquelas qualidades que Ana Lúcia admirava em Antônio Augusto
verdadeiramente inexistiam e revelou especificamente suas atitudes machistas de
que ele tinha a “absoluta convicção do quanto a mulher faz pela casa. Do que
faz pelo filhos”.Descoberta a farsa Ana Lúcia decepcionou-se totalmente, um lastimoso
desenlace. A moça então resolveu quebrar a hierarquia familiar, encontrar a
plena liberdade feminina, excluir preconceitos, os privilégios dos homens, no
seu caso Antônio Augusto e para isso
teria que tomar uma atitude. Num momento apropriado, categórica e decisiva,
numa conversa franca e aberta com o marido declarou e informo-o: “Vou começar a
trabalhar. Exercerei a minha profissão”.
Antônio
Augusto ficou surpreso. Não acreditou. Tentou argumentar com, por exemplo, o
dia a dia referente a questão da educação dos filhos. Ana Lúcia contra-argumentou
dizendo com absoluta segurança que a solução adequada seria uma escola de
educação infantil e deu por encerrado o assunto. Antônio Augusto tentou ainda conceituar
para chegar a uma conclusão que lhe satisfizesse afirmando “que ninguém é
melhor do que você para cuidar dos afazeres domésticos”
Nada
resolveu. Ana Lúcia tinha tomado sua decisão. Acabou a dona de casa. Agora
seria uma mulher liberta do poder possessivo dos homens. Buscou novos
horizontes. Chega de ir ao supermercado “para indicar os desajustes de preço,
detectar eventuais flutuações econômicas”.
Diante desse
desencontro familiar o casal separou-se. Ana Lúcia, ainda bela, não mais tão recatada,
muito menos dona de casa, foi viver a vida como autêntica mulher. Quanto
Antônio Augusto foi procurar uma nova dona de casa.