O retrato na capa do livro denota a
fisionomia de alguém prepotente, vaidoso, pedante... pode ser. A foto em “close
up” é capaz de revelar em detalhes o rosto de um arrogante lorde inglês, ou em
primeiro plano a figura de um esnobe comendador italiano. Talvez o retrato
possa atribuir a personalidade de uma, até duas, personagens sugeridas, ou
nenhuma delas. Na verdade o retrato da capa do livro nem é de nenhum lorde ou
comendador, é do seu autor, o publicitário Washington Olivetto. Por ser quem é
Olivetto, a fotografia é produto da arte de um dos mais famosos fotógrafos do
mundo, Sebastião Salgado. O livro, “Direto de Washington”, afirma-se como
autobiografia, na realidade trata-se de uma autolouvação, exagerada autoestima,
que vangloria as conquistas de prêmios internacionais obtidos e palestras de
sucessos. Sobremaneira a autonarração chega aos píncaros da megalomania por
parte do mais famoso publicitário brasileiro. Por tudo isso, o livro de 400
páginas, em alguns momentos de sua leitura torna-se monótona ao referenciar vaidades,
desinteressante por repetir acontecimentos.
Olivetto, dono da maior empresa
publicitária do país, W/Brasil, entre seus clientes tinha a Grendene. Parte do
livro é interessante aos habitantes da aldeia por envolver a empresa
farroupilhense em dois casos pitorescos contados de forma resumida.
No primeiro
trata-se do comercial do sapato 752, sapato popular, da Vulcabras, com a
participação de Paulo Maluf. Certa ocasião Maluf convidou Olivetto para
visitá-lo. De antemão avisou ao anfitrião que não realizava campanhas
políticas, assim mesmo foi até a cada de Maluf. Foi quando inesperadamente
surgiu a ideia do comercial. Deduziu Olivetto que político atrás de voto tem
que andar muito. A mensagem publicitária agradou Maluf que ganharia mídia de
graça na televisão. O segundo passo acertar com Pedro Grendene, que tinha
acabado de comprar a Vulcabras, realizar o acerto para o comercial, o que
aconteceu, sucesso absoluto. Passado
algum tempo Pedro sugeriu então que se fizesse outro comercial com a
participação de Leonel Brizola e Olivetto raciocinou: “Ideia ótima, fizemos o
pé direito e agora vamos fazer o pé esquerdo”.
Segundo caso,
ainda contado por Olivetto. As sandálias Rider vendia milhões de pares por mês
aos brasileiros, produto calçado por trabalhadores, pelo povão em geral e também
por ricos frequentadores do Club Athletico Paulistano. O Brasil inteiro usava
Rider, exceto no Rio de Janeiro, que tratava a sandália como brega. Para
reverter essa imagem Olivetto e sua equipe tiveram a surpreendente e esquisita
ideia de fazer uma festa no porta-aviões Minas Gerais. Conta o publicitário que
não teve nenhuma dificuldade em convencer os irmãos Alexandre e Pedro Grendene para
a realização do evento, o que aconteceu. A festa no porta-aviões terminou
somente as cinco horas e no livro, no primeiro capítulo, são contados detalhes
curiosos, engraçados, de irreverência total na festa de muita gente famosa, de
muita comida e bebida. Conforme menciona Olivetto, a festividade alcançou seus
objetivos ao ter sido o grande destaque da mídia naquele ano, atingindo o
público formador de opinião do Rio de Janeiro. Dessa forma o chinelo Rider deixou
de ser algo brega e aumentou consideravelmente suas vendas em terras cariocas.
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