terça-feira, 5 de fevereiro de 2019

BRUMADINHO: DESGRACEIRA


O estado de Minas Gerais tem esse nome por conectar-se literalmente com diversas regiões de extração de minérios. Primeiramente essas localidades eram denominadas simplesmente minas, objeção as minas particulares e para diferenciação, o nome configurou-se como Minas Gerais. Ricas jazidas de ouro foram descobertas no século XVIII, polo aurífero que fez fortuna de muita gente, principalmente de portugueses.
O ciclo do ouro terminou, mas Minas Gerais continua sendo o mais importante estado minerador do país, portentoso na extração do mineiro de ferro. A região mineira chama-se Quadrilátero Ferrífero, ao qual pertence desgraçadamente as cidades de Mariana e Brumadinho.
O processo de extração do minério de ferro começa a partir da descoberta de uma jazida. Após o momento inicial há necessidade de separar-se o material útil - propriamente dito o ferro – de outros minérios desaproveitáveis.
O rejeito mineral, de nenhum valor comercial, é separado com o uso de agua. Os resíduos toda a porcaria, excrementos do minério, são depositados em algum lugar. Esse lugar é um depósito numa estrutura que forma uma barragem de contenção, onde são colocadas as sobras rejeitadas que irão protagonizar terrível, dramático acontecimento.
Barragens de contenção não são eternas. Pelo descaso, pela incapacidade dos homens, elas se tornam assassinas.
Mariana (60 mil habitantes) e Brumadinho (40 mil habitantes) são cidades que eram desconhecidas internacionalmente e pouco conhecidas para os brasileiros. Mariana e Brumadinho irmanadas no infortúnio, em traiçoeira desventura, em inacreditável desdita.
Tornaram-se catastroficamente conhecidas, caracterizadas pela tragédia, por um tétrico desenlace de vidas humanas.
Famílias desesperadas procuram seus entes queridos. Saíram para trabalhar pela manhã e não voltaram mais. Uma centena retornaram como cadáveres. Mais de duas centenas estão desaparecidas. Certamente voltarão como um corpo morto.
A jovem médica almoçava num ambiente que ficou totalmente destroçado, afundado em meio a criminosa lama. Deveria estar falando com colegas ou, sozinha relembrando a festiva noite anterior, seu aniversário. Nesse mesmo restaurante muitos funcionários conversavam sobre o desempenho no trabalho, as projeções em graduar posições na empresa. Um grupo de aficionados pelo futebol discutia suas preferências, quem era melhor, claro, debate entre cruzeirenses e atleticanos. Outros mais comedidos programavam o que fazer no final de semana.
Não sabiam, não era possível acreditar no que iria acontecer. Todos os sonhos de projeção na vida funcional não mais teria futuro. Cruzeiro e Atlético continuam eternos, porém não mais terão aqueles torcedores do restaurante. Fim de semana que não aconteceu com tudo programado.
Ainda perto dali, nesse cenário catastrófico, a avalanche apronta mais mortes: trabalhadores e turistas de uma pousada tem a vida ceifada sem saber porque. Num dos corpos duas mortes. A jovem grávida levava em seu ventre o futuro filho.
Os resíduos misturados com água, resultando numa trágica pasta viscosa e pegajosa, material desprezível para nada servir. Não... serve sim, desgraçadamente para matar gente inocente.
A barreira de contenção rebentada. Lama fatal formada pela ambição dos homens, pela ganância capitalista. Desgraceira.







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