sábado, 21 de setembro de 2019

Deputado gago


O deputado era um daqueles representantes do povo que falava pouco, abria a boca somente para comer ou bocejar. Conversar pouco, discursar jamais. Quando algum de seus colegas falavam alguma coisa naquele estilo enfadonho de discursos alongados comum a classe política, se aborrecia. O nosso amigo deputado chegava ao plenário da Câmara sonolento, mostrando o jeito pachorrento, com o seu andar preguiçoso. Não se sabe se prestava atenção nas mensagens orais, prolongadas e fantasiosamente solene de seus colegas. Nas decisões por votação, o nobre parlamentar não estava nem aí, de fato não prestava atenção para nada. Não era necessária sua percepção, afinal votaria conforme determinação do líder da bancada. Fácil não é mesmo, porque queimar neurônios?Obrigação cumprida sem esforço mental. Sessão encerrada, mais um dia ganho com dinheiro público, contribuição obrigatória do povo.
Fechou seu laptop, não se sabe a necessidade dele aberto, provavelmente para enganar as câmeras da TV Câmara. No primeiro ano de mandato todo mundo procurava entender seu procedimento. Seus colegas, os mais experientes, de inúmeras legislaturas, tinham a observação simplista: “ele é novo aqui”, justificando o seu excêntrico silêncio. Na verdade os colegas mais antigos admiravam o procedimento do mais novo, sua quietude parlamentar. Um a menos para ocupar a tribuna no espaço do pequeno expediente, quando a maioria dos discursos dos parlamentares - aqueles desconhecidos do conhecido “centrão”- que não interessam a ninguém, a não ser sua base eleitoral, elogiando seus cabos eleitorais enviando fotos, gravações, demonstrações de falso trabalho. No ano seguinte o silêncio do deputado persistia e a grande maioria já conhecia o seu jeito de ser. Assim seja.
Passou o  segundo ano legislativo. O deputado em questão mantinha seu jeito de ser. Terceiro período na Câmara. Em sua base eleitoral falava pouco, afinal na conversa se ganha voto. Vez por outra, colegas faziam troça dele, chacota, piadas, hilariantes situações, para provocá-lo mas ele somente ria.
O controvertido parlamentar, em seu mandato, depois de ouvir milhares de vezes, vossa excelência, data vênia, colenda casa, urge que, urgência urgentíssima, um aparte nobre colega.  Num dia de sessão ordinária a grande surpresa. O silencioso deputado repentinamente levantou-se da confortável cadeira de couro, em plena discussão, soqueou a mesa com força provocando um barulho como se fosse um estrondo chamando atenção de todas vossas excelências e pediu a palavra, para outra vossa excelência, o presidente da Casa. Até o orador do momento silenciou-se. Todos silenciaram.
Em meio a esse ambiente, a única coisa ouvida era o fraco ruído dos microfones. Os parlamentares ansiosos aguardavam o esperado momento. O silencioso deputado pronunciou meia dúzia de palavras e então descobriram a razão do silêncio: o deputado tinha o distúrbio da fluência da fala, gagueira.

PÁTRIA AMADA


O Hino Nacional é uma conclamação importante em qualquer solenidade - até mesmo antes de uma partida de futebol, não tão solene assim -. Trata-se de uma concitação, um brado, mais do que isso, uma incitação, em época de um povo descrente em tudo e em todos, a pasmaceira diante de um estado de coisas, numa combinação desafiadora e complicada. Talvez, tudo isso, seja a resposta para a falta de patriotismo, de estímulo,  disposição afetiva do brasileiro, desiludido com a incompetência governamental, a imperícia da classe dirigente, a baderna financeira, o caos econômico, impunidade para mais corruptos, a injustiça social. Poucos brasileiros acreditam em promissoras possibilidades futuras em meio a desarvorada situação no contexto nacional. Há um quadro insuportável de violação aos direitos fundamentais do cidadão: saúde, educação, segurança. Embaraçada economia sem propostas positivas (talvez o aumento de impostos), que proporciona desemprego para milhões de pessoas.
Existem crentes, de pensamento moderador, para os quais a situação não é tão ruim assim. Os ciosos, que tem o raciocínio conservador, afirmam que tudo vai bem. Os dois grupos argumentam, que a suposta precariedade nada tem a ver com a sensibilidade do amor à Pátria. O sentimento de frustação e decepção origina-se nos atos despropositados e ineficazes, motivados pela ingerência de incompetentes políticos. A reação de cada brasileiro, inclusive aquele inserido no sistema de estratificação social, abaixo da linha da pobreza, à margem da sociedade, excluído do convívio social, ser humano tratado como desigual não quer saber de patriotada. Gente de passado desconhecido, de presente incerto, futuro... quem sabe. Essa pessoas tem a reação compreensível de repúdio à Pátria, na verdade, pensando bem, elas não tem compreensão de patriotismo, desconhecem esse aspecto. Paradoxalmente, melhor não saber da Pátria ingrata e megera. Não se pode desvincular uma realidade de completa mazela no país, algo profundamente ruim com a Pátria Amada.
Afinal o que é Pátria. Simplesmente o país onde se nasce, torrão natal. Podemos dizer que se trata de uma instituição abstrata, alegórica, contemplativa e por ser assim adjetivada, surge como pleno sentimento de amor. A Pátria, também etérea e sublime, lamentavelmente no contexto confunde-se com a canalhice dos políticos.
Como pensar e desejar amor à Pátria quando se trata de uma nação representando segmentos de uma sociedade sem princípio do igualitarismo, comunidades de pensamento individualizado, de pensamento do “primeiro nós” e de raciocínio “salve-se quem puder”, do poder maior e da ganância dos privilegiados, prevaricação de autoridades.
Patriotismo é o sentimento de orgulho, amor e dedicação à Pátria. Diante desse conceito a famosa frase de Samuel Johnson: “Patriota é o último refúgio dos canalhas”, soa como pejorativa, entendida como ultrajante. Entenda-se:
o historiador e político inglês, referia-se ao seu partido o Patriota, pela presença cada vez maior de vários oportunistas.
Em tempo: Essa coluna serviu como tema em outra escrita há 30 anos. Passou o tempo, nada mudou.


Dia 7 de setembro - que bom, feriado nacional !!!... - comemora-se mais um ano da Independência do Brasil. Milhares de brasileiros, multidões, se reúnem em logradouros públicos (avenidas, ruas, praças) para assistirem solenidades cívicas, desfiles militares e estudantis. São quase 200 anos em que o Brasil livrou-se do jugo monarquista português, não mais ficou dependente de Portugal.
Comemorações pelo Dia da Pátria começaram no século XIX. Houve um período de 10 anos (1831/1840), nos quais comemorações perderam o destaque, devido ao tempo de regência. Com a maioridade do imperador D.Pedro II, a data recuperou a importância histórica.
O desfile militar mais importante do país ocorria no estado do Rio de Janeiro, na avenida Presidente Vargas.
Os americanos adoram o Brasil (inclusive o Trump). Em 7 de setembro de 1947, no palanque oficial, naquela data, o presidente da República Marechal Eurico Gaspar Dutra, assistiu a solenidade, ao seu lado o convidado especial, presidente norte-americano, Harry Truman. Dom Pedro I, com seu vistoso uniforme, resplandecente e engalanado, montado num cavalo portentoso, cercado por sua guarda de honra, conforme o célebre quadro de Pedro Américo – alguns afirmam que trata-se de um plágio de Napoleão Bonaparte-, a beira do Ipiranga, altivo, empunhando sua espada, bradou o histórico grito de liberdade: Independência ou Morte, versão oficial do acontecimento, ensinado nas escolas. Entretanto existem fatos pitorescos e divergentes . Alguns historiadores afirmam que ele não estava montado num alazão e sim numa mula, animal mais condizente como meio de transporte para percorrer o caminho periclitante na Serra do Mar. Sabe-se mais: que Dom Pedro estava com diarreia desde quando partiu da cidade de Santos o que deve ter estragado o seu humor. Esse desconforto lhe deixou incomodado e irritado. A comitiva retornando de Santos foi encontrada por um mensageiro, trazendo mensagem de Dona Leopoldina (esposa de D. Pedro) e José Bonifácio (estadista, conhecido como Patriarca da Independência). O conteúdo da mensagem informava a exigência dos deputados portugueses para que D. Pedro se apresentasse em Portugal, pois ele contrariava os seus interesses. Esse episódio precedeu grave crise na capital Rio de Janeiro. A presença de D.Pedro deveria ser imediata. Oficialmente, D. Pedro foi a Santos por questões políticas, na verdade o príncipe que vivia uma aventura romanesca, de grande repercussão, com a amante Marquesa de Santos, foi visita-la e com a qual ocorrerá m desentendimento. Com tantos acontecimentos cabulosos, D.Pedro ficou ensandecido. Não se sabe exatamente onde ocorreu o “grito”. Há controvérsias. Dizem que não foi à margem do rio, mas numa colina. Pouca gente presente, alguns guardas e moradores da vizinhança
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