sexta-feira, 22 de novembro de 2019

Ricos e desempregados


Enorme é o lugar, extraordinariamente imenso, de tal forma que de qualquer ponto, lado a lado, de cima para baixo ou vice-versa, parece algo infinito. Ás vezes encontra-se vazio, parecendo abandonado o descomunal espaço, melancólico e assustador. Nessas ocasiões observa-se a linda ornamentação natural de plantas e flores. Constata-se assim uma exuberância ingênita em todos os detalhes. Em sua construção o prédio tem esmero trabalho. Sua construção e toda a estrutura é sustentada por madeiramento, inconfundível e resistente de cor avermelhada, pau-Brasil. O mistério é saber como foi conseguido.
Afinal que lugar é esse narrado em prosa e verso, de suntuosas visões palacianas, paradigma do paraíso. A aparência de um grandioso salão de festas, luxuosa boate, sofisticada danceteria.Ao contrário da imensidão solitária de alguns momentos, em algumas ocasiões o espaço está lotado, fervilhando de gente: privilegiados do poder, milionários, magnatas, a elite, estratificação social de uma casta superior, são assíduos frequentadores. Comenta-se que cenas escabrosas por lá acontecem. Bebem, dançam ao som estridulante, elevados decibéis. Enquanto isso a poluente sonoridade serve para que em cantos escusos, homens suspeitos, estereótipos da imoralidade, realizem negociatas, especulem, se corrompam. Nesse ambiente de luxuria não faltam mulheres exuberantes, aproveitando o êxtase, arrebatadas pelo enlevo amoral.
Tem um outro lado, o do lado de fora, dos miseráveis famélicos, da miséria, da mendicância, da indigência em busca de emprego defronte àquele maravilhoso mundo burguês. Em noitadas de festa acontecem confusões, a ordem não é mantida, falta um mínimo de zelo na organização. O pessoal empregado, gerentes, garçons serviçais auxiliares, mostram-se incompetentes, desleixados. Pândega situação, perrengue sempre, isso tudo por causa de desentendimentos generalizados entre frequentadores. Há necessidade de colocar a casa em ordem, precisa de mudanças.  Ouvem-se murmúrios de que vagas de emprego vão surgir. A radicalização é primordial, troca de gerência, do grupo de empregados. Ocorre a inconformidade daqueles despedidos, perderam seus empregos. Outros ali, desempregados, buscam a oportunidade do emprego.  Muita gente interessada, cabendo, primeiramente, o preenchimento da vaga de gerente, depois das demais vagas. Primeiro entrevistado foi um sujeito que falava demais, voltou para casa calado. Outro candidato de nome esquisito, com mais consoantes do que vogais, parecendo ser estrangeiro, educado, aparência de um pastor evangélico, falando compassadamente. Moralista, certamente não iria dar certo naquele ambiente contrário a sua religiosidade. Um senhor idoso, respeitado, reverenciado, experiente, de passado ilibado, tinha todos atributos de um gerente, mas de idade avançada. Apareceu até uma senhora, dispensada pois o local era inadequado para trabalho feminino. Pessoas que se apresentaram indecisas, inseguras, demonstraram falta de aptidão. Um afrodescendente forte, com aquele porte tamanho de um
armário, foi informado que a escolha de segurança seria outro dia. Repentinamente o local ficou tumultuado. Um indivíduo tresloucado, no mínimo desesperado, gritou, berrou, incomodando muita gente intolerante, revoltada. Baderna assumida, patuscada coletiva. Confusão, brigas, polícia em ação. Pimenta nos olhos, cheiro de gás lacrimogênio. Muitos voltaram para casa, lamentavelmente ainda na condição de desempregado, alguns com hematomas, outros com os olhos vermelhos e ardentes.

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