Enorme é o lugar, extraordinariamente
imenso, de tal forma que de qualquer ponto, lado a lado, de cima para baixo ou
vice-versa, parece algo infinito. Ás vezes encontra-se vazio, parecendo
abandonado o descomunal espaço, melancólico e assustador. Nessas ocasiões
observa-se a linda ornamentação natural de plantas e flores. Constata-se assim
uma exuberância ingênita em todos os detalhes. Em sua construção o prédio tem
esmero trabalho. Sua construção e toda a estrutura é sustentada por
madeiramento, inconfundível e resistente de cor avermelhada, pau-Brasil. O
mistério é saber como foi conseguido.
Afinal que lugar é esse narrado em prosa
e verso, de suntuosas visões palacianas, paradigma do paraíso. A aparência de
um grandioso salão de festas, luxuosa boate, sofisticada danceteria.Ao
contrário da imensidão solitária de alguns momentos, em algumas ocasiões o espaço
está lotado, fervilhando de gente: privilegiados do poder, milionários,
magnatas, a elite, estratificação social de uma casta superior, são assíduos
frequentadores. Comenta-se que cenas escabrosas por lá acontecem. Bebem, dançam
ao som estridulante, elevados decibéis. Enquanto isso a poluente sonoridade serve
para que em cantos escusos, homens suspeitos, estereótipos da imoralidade,
realizem negociatas, especulem, se corrompam. Nesse ambiente de luxuria não
faltam mulheres exuberantes, aproveitando o êxtase, arrebatadas pelo enlevo
amoral.
Tem um outro lado, o do lado de fora,
dos miseráveis famélicos, da miséria, da mendicância, da indigência em busca de
emprego defronte àquele maravilhoso mundo burguês. Em noitadas de festa
acontecem confusões, a ordem não é mantida, falta um mínimo de zelo na organização.
O pessoal empregado, gerentes, garçons serviçais auxiliares, mostram-se incompetentes,
desleixados. Pândega situação, perrengue sempre, isso tudo por causa de
desentendimentos generalizados entre frequentadores. Há necessidade de colocar
a casa em ordem, precisa de mudanças. Ouvem-se murmúrios de que vagas de emprego vão
surgir. A radicalização é primordial, troca de gerência, do grupo de empregados.
Ocorre a inconformidade daqueles despedidos, perderam seus empregos. Outros
ali, desempregados, buscam a oportunidade do emprego. Muita gente interessada, cabendo,
primeiramente, o preenchimento da vaga de gerente, depois das demais vagas.
Primeiro entrevistado foi um sujeito que falava demais, voltou para casa
calado. Outro candidato de nome esquisito, com mais consoantes do que vogais,
parecendo ser estrangeiro, educado, aparência de um pastor evangélico, falando
compassadamente. Moralista, certamente não iria dar certo naquele ambiente
contrário a sua religiosidade. Um senhor idoso, respeitado, reverenciado,
experiente, de passado ilibado, tinha todos atributos de um gerente, mas de idade
avançada. Apareceu até uma senhora, dispensada pois o local era inadequado para
trabalho feminino. Pessoas que se apresentaram indecisas, inseguras,
demonstraram falta de aptidão. Um afrodescendente forte, com aquele porte tamanho
de um
armário, foi informado que a escolha de segurança
seria outro dia. Repentinamente o local ficou tumultuado. Um indivíduo
tresloucado, no mínimo desesperado, gritou, berrou, incomodando muita gente
intolerante, revoltada. Baderna assumida, patuscada coletiva. Confusão, brigas,
polícia em ação. Pimenta nos olhos, cheiro de gás lacrimogênio. Muitos voltaram
para casa, lamentavelmente ainda na condição de desempregado, alguns com
hematomas, outros com os olhos vermelhos e ardentes.
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