segunda-feira, 17 de agosto de 2020

Coronavirus e outras ependemias

 

Século XIV, época da Idade Média, período de 100 anos marcado por um acontecimento de imensa proporção: surge uma hecatombe, a devastadora peste bubônica, que ficou mais conhecida como peste negra (devido as manchas negras na pele), uma pandemia que se deflagrou na Europa.  A origem da peste seria asiática, e sua instalação no continente europeu, ocorreu por meio de caravanas comerciais. A moléstia, teve como origem um tipo de bactéria, com seus agentes transmissores, as pulgas dos ratos. A pandemia gradativamente diminuiu seus surtos, com higienização e vigilância sanitária. Até hoje não há vacina, mas antibióticos eliminam a bactéria. A pandemia foi imensamente trágica e de efeitos demográficos superlativos: a população mundial de 450 milhões indivíduos ficou reduzida para 350 milhões de sobreviventes.

Gripe Espanhola ficou conhecida como “o maior holocausto médico da história” foi causada por um vírus influenza de força mortal ao início do século XX. A pandemia deve ter levado a óbito, acredita-se, entre 40 a 50 milhões de pessoas e, mais de um quarto da população mundial foi infectada. Os sintomas da doença muito parecidos com os da Covid-19.

Varíola é doença de milhares de anos desde os tempos dos faraós. O vírus era transmitido de pessoa para pessoa por meio das vias respiratórias, apresentando diversas erupções no rosto, garganta e pescoço. A varíola foi erradicada após uma vacinação em massa.

Cólera, no século XIX pandemia que matou milhares de pessoas. A bactéria sofreu mutações e por isso causam de tempos em tempos surtos, principalmente no continente africano. Sua contaminação acontece a partir de consumo de água ou alimentos contaminados. No Iêmen, país árabe, ano passado, a cólera matou 40 mil iemenitas.

Gripe suína (H1N1) foi a moléstia que causou a primeira pandemia no século XXI. O vírus surgiu no México em 2009, transmitida por suínos espalhando-se mundo afora, matando milhares de pessoas

Tifo, mais uma doença infectocontagiosa conhecida desde o século XV, mas começou a afligir a população de fato em surtos no começo do século passado, depois da primeira guerra mundial, alcançando grande parte da população, principalmente crianças em torno de cinco anos de idade. Aproximadamente três milhões de pessoas em cinco anos, sucumbiram diante da pandemia. O mal é transmitido através de piolhos contaminados, hoje com vacinação está extinguido.

Tuberculose, teve períodos de surtos num período de 100 anos  (1850/1950), doença causada por uma bactéria, o bacilo de Koch, calculando-se que naquele período (100 anos) houve um total 1 bilhão de óbitos, hoje controlada com antibióticos.

Gripe asiática entre 1956/1958, foi causada por uma mutação do vírus da gripe, chamado H2N2, transmitida ao ser humano por meio de aves. Originária da Ásia e por isso chamada de gripe asiática. Cerca de dois milhões de pessoas morreram em consequência.

Gripe de Hong Kong, gripe do subtipo H3N2, surgiu na China, passou por Hong Kong, entre 1968/1969, dois a três milhões de pessoas morreram.

O ebola, outro mal disseminado por contágio, causou pandemia com altas taxas de letalidade, capaz de levar o indivíduo a óbito. O vírus é do continente africano.

 

sexta-feira, 17 de julho de 2020

DILÚVIO: NOÉ E SUA ARCA

Chuva é um fenômeno comum no meio ambiente. Cientificamente a chuva é a precipitação de água, em forma de gotas, como afirmam os meteorologistas: “proveniente da condensação do vapor de água existente na atmosfera”. Ela geralmente está em estado líquido, embora às vezes surja em estado sólido (chuva de granizo). Quando as chuvas em gotas são bem menores, até incomodativas, trata-se de um fenômeno denominado garoa. Há chuvas amenas, oferecendo fertilidade e fecundidade, condição sine qua non para desencadear a vida. Chuva fértil e fecunda, excelente para a natureza, para o cultivo de plantações, irrigação do solo, enfim, em todos os sentidos propícios à vida humana. Tem gente que não gosta de chuva, não a suporta, mas ela é prioritária para o planeta até para quem dela não goste. Tem gente que tem temor as chuvaradas, e não é para menos, compreende-se: chuvas fortes, temporais, que em muitas ocasiões transformam-se em violenta agitação atmosférica, acompanhada de granizo, ventania, relâmpago, trovão, fenômenos que formam uma mistura, conjunto denominado por tempestades, verdadeiros cataclismas, intempéries que provocam inundações, desmoronamento de morros, desabrigo aos ribeirinhos, rios transbordando e por aí afora, série de transtornos às populações. Tempestade, toró, tromba d´agua, seja o que for em termos de tormenta, tudo que provoca danos, como os que se observaram, na natureza nesses últimos dias. Católicos, com toda fé, queimaram ramos distribuídos no Domingo de Ramos e/ou rezaram para Santa Bárbara. Os índices pluviométricos ultrapassaram 250 mm. Muita chuva. O mundo vai acabar? É o dilúvio? Seria viável se o povo desesperado implorasse a presença de Noé e sua arca salvadora. O povo, com água quase no pescoço, prestes a morrer afogado, com esperança aguardava a salvação por Noé, homem virtuoso, salvo por Deus que o embarcou junto com a família, na arca. Os terráqueos impacientes, esperando por Noé. Repentinamente envolvido pelas nuvens, no horizonte surgiu, sem máscara, mostrando-se imune ao vírus, afinal era ele o porta-voz de Deus – também imune -, informou a todos que não havia lugar para o pecador, o desobediente a vontade de Deus, o impuro, a raça humana contaminada pelo demônio, e, portanto, sem direito à salvação, morreriam todos afogados em meio ao dilúvio. Porém, para dar continuidade à vida animal, determinou que casais de toda a espécie de bicho embarcasse na arca, com uma ressalva: não foi permitido o embarque, de pulgas, morcegos e ratos, para que não houvesse contaminação.

                                                    *** ***

A quem interessar possa: Canal Bis, dia desses, reapresentação do sensacional show da banda de Paulo Simon, da dupla de Simon/Gafunkel, no Hyde Park, no centro de Londres.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                       

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Brasileira Natalia Borges Polesso no jornal inglês The Observert

O jornal inglês The Observer escolheu seis escritores ao redor do mundo para relatar a experiência do isolamento social e a vida na pandemia. A revista Carta Capital publicou o texto londrino com a seguinte manchete: “Planeta Vírus”. Participaram os escritores Tayari Jones (Estados Unidos), Maxim Leo (Alemanha), Emily Perkins (Nova Zelândia), Domenico Starnone, (Itália) Sjón (Islândia), e a escritora brasileira, natural de Bento Gonçalves, Natalia Borges Polesso                                                                              

Passageiros da Agonia: embarcados no coronavírus

Vida sofrida, existência dolorida, vivência lastimável. Não deveria ser assim, mas uma infinita parte da humanidade, comunidades vulneráveis, sobrevivem em derradeira indigência. Na passagem pela vida milhões de seres humanos são verdadeiros passageiros da agonia. Resignados, não tem direito a qualquer coisa, algo que possa oferecer uma breve satisfação, um pequeno limite de contentamento, um exíguo momento de felicidade. Acreditam ainda numa pequena parcela de esperança, no âmago de cada um, o diminuto sentimento de coisa melhor. Buscam estoicamente uma saída onde somente encontraram a entrada da penúria, da deplorável mendicidade. Desiludidos e desconsolados, não têm mais a expectativa de dias melhores. Enfrentam periculosidades, expõem-se as ameaças de agressões, correm riscos quanto a integridade física. Não há medo do medo. Indigentes da espécie humana e o que lhes sobram para sobreviverem é a compaixão e a piedade, queiram ou não, de seus outros irmãos em situação mais confortável.

Miséria, pobreza extrema em que as vítimas são cadáveres da desigualdade social, a abismal distância existente entre as classes sociais, párias, excluídos do convívio social, à margem da sociedade. Pelo mundo, por todo planeta Terra é assim: famintos na África, famélicos na Índia, na periferia das cidades brasileiras, nas recônditas regiões do país, em muitos lugares, gente que morre de fome, desumanidade em forma de atrocidade, crueldade, barbaridade, selvageria, enfim, qualquer adjetivo que classifique a malevolência.

Para quem tem condições de alimentar-se, a produção de alimentos pode abastecer a população mundial, porém essa situação caracterizada pelo bem-estar pode ser discutida pela aguda insegurança alimentar: no mundo a cada quatro segundos uma pessoa morre de fome. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) alerta: 1,4 milhão de crianças correm o risco de morrer com “o surto da fome”, em países africanos e, que padecem muito mais pela desnutrição, que pela doença proporcionada pelo coronavírus.

No Brasil, no último boletim, dado disponível do Ministério da Saúde (2017), uma média de mais de 15 pessoas morreram por dia, 6 mil em todo ano pela desnutrição. O grande alerta da ONU é de que o catastrófica pandemia poderá colocar quase 270 milhões de pessoas no mundo, por falta de alimentos no severo roteiro da fome. Covid-19 não tem parâmetros para a escolha de suas vítimas: idosos, jovens, crianças, bebês de até dois anos de idade.  O Brasil já ultrapassou 60.000 mortes. Somente, entre quarta e quinta-feira, ou seja em 24 horas, foram quase 1.300 vítimas fatais. No R.G. Sul até quarta-feira notificação de 636 óbitos, 22 em 24 horas e quase 1.300 casos. Necessário lembrar que Minas Gerais e Paraná, tinham baixos índices de óbitos, repentinamente surge um surto da doença, quando tudo parecia normalizado. Outrossim, segundo cientistas o Covid-19, terá sua maior ascendência no RS neste mês de julho. Cuidado: muitos sobrevivem, passageiros da agonia

                                                *** ***

Para reflexão; entre a cruz e a espada, dilema: certamente, em determinado momento, a economia irá se recuperar. A mesma oportunidade de recuperação não existirá para a vida que foi ceifada pelo coronavírus.

 

 

 

 

  


Corunavirus: começo zona sul

Os primeiros casos de contaminação no Rio de Janeiro aconteceram em meados do mês de março, na zonal sul da cidade carioca. Casos de fácil explicação, isso porque nos bairros de Ipanema, Leblon, Arpoador e Copacabana, a maioria que por ali reside é abastada, com uma posição financeira e social de prestígio invejável, pessoas consumidoras em lojas de grife e que viajam constantemente pela Europa, mundo afora. Um caso explicito: a madame viajou à Itália, voltou infectada pelo Govid-19, não informando à empregada doméstica que estava com a doença contagiante e assim infectou-a.

Ela, a empregada, como muitos outros trabalhadores, moradores da pequena cidade de Miguel Pereira (RJ), distante aproximadamente 100 quilômetros da capital fluminense, dali saem para prestar serviços na metrópole. A empregada doméstica citada, trabalhando no Leblon, passava a semana no emprego e, nos fins de semana, retornava à sua cidade para visitar a família. Numa dessas idas e vindas o inesperado trágico ocorreu: a patroa retornou, como se sabe, com o seu organismo portador de agentes infecciosos do coronavírus e, o que era óbvio aconteceu: a transmissão da doença ocorreu facilmente no contato direto. Vida que segue. Fim de semana, a doméstica visita parentes e, inapelavelmente, pela sequência funesta e execrável de transmissão do parasita hospedeiro, deixa vítimas e estigmas, na pequena cidade fluminense. Naquela semana sobreveio somente para a doméstica a vinda, a ida jamais: ficou em sua cidade eternamente sepultada.

                                    *** ***

Country Club do Rio de Janeiro, a centenária sociedade, situa-se em Ipanema, uma quadra perto da praia. Clube de elite social, sofisticado, ostentoso, frequentado pela grã-finagem, pessoas de condição social elevada. Pertinho da famosa praia de Ipanema, mas para aquela gente requintada pouco importa, afinal quem tem uma sociedade que tudo oferece (quadras de esportes, piscinas, bela área paisagística), não necessita daquela praia frequentada pela aquela menina cheia de graça. Além do mais, aquelas pessoas socialmente de classe elevada, jamais iriam se misturar com aquela massa ignara, a desprezível classe pobre, com ninguém que seja um Zé Ninguém. Festas suntuosas ali realizam-se, jantares com chef francês, casamentos e etcetera. Uma estrutura enorme necessita de dezenas de empregados. Noite dessas um jantar concorrido, todos convidados sem máscaras, sentem-se incólumes ao vírus. Fim de festa, pessoal da limpeza em ação. Uma faxineira, moradora no subúrbio da zona norte, adquiriu o coronavírus e assim infectou parentes e vizinhos.

De outra feita, festa de casamento. Garçons atendendo aos convidados. Um deles em sua função é contaminado por alguém sem máscara. Dessa forma contraí o maligno coronavírus, ser inerte, parasita hospedeiro, dependente de outra células para se reproduzir. O citado garçom serviu para reprodução do vírus, colocando na estatística mais um óbito. Como o corona vírus tem princípios democráticos reconheça-se, atingindo vítimas de qualquer raça, gente pobre, gente rica. Uma grã-fina participante do lauto ágape, foi também vítima fatal da festa. Entre idas e vindas a vida segue, sobreviventes enfrentando a maldita moléstia.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                      

terça-feira, 7 de julho de 2020

SOMOS TODOS MASCARADOS

O local é denominado Cais da Alfandega, zona nobre, na capital de Recife, onde está construído um condomínio de três torres, empreendimento de alto padrão, planificado com luxuoso e faustoso projeto arquitetônico, conhecido como torres gêmeas.  Além da beleza, o residencial está adjacente ao mar, com um aprazível panorama do horizonte. O domínio predial, por toda sua estrutura, por sua magnificência e ostentação, com todos os requintes de conforto de quem deseja como moradia, certamente deve ser habitado por gente que faz parte da sociedade endinheirada, local propício para a vida burguesa. Numa daquelas torres, exatamente no nono andar, mora uma família afortunada, que desfruta de todos os bens materiais possíveis. Naquele endereço trabalhava a empregada doméstica de nome Mirtes, ela que em plena pandemia continuava trabalhando. Enquanto isso, a creche onde ficava o menino Miguel (cinco anos), filho de Mirtes, estava inativa. A solução para o imprevisto foi solicitar à patroa que “desse uma olhadinha em Miguel”. A solicitação foi feita, em razão de que Mirtes iria passear com o cachorrinho de raça, na parte externa e térrea do prédio, assim Mirtes cumpria sua obrigação passeadora canina. Miguel ficou aos cuidados da patroa. Repentinamente disse que estava com saudade da mãe, queria encontrá-la, determinado queria ver a mãe. A patroa o atendeu. Um vídeo gravou o drama, a caminhada de Miguel para a morte. Porta do elevador aberta, elevador de serviço (Miguel é um negrinho), a patroa lhe diz alguma coisa, aperta determinado botão, a porta do ascensor fecha-se, assim o menino é catapultado para a desgraça, tragédia consumada. A patroa volta para o apartamento para que a manicure termine seu serviço.  A porta do elevador abre-se e o garoto se enreda por caminho desconhecido, chegando até uma abertura. Por ali pretende encontrar a mãe, não a encontra, encontrou a morte. Cai de uma altura de 35 metros, no chão um corpo estatelado mortalmente. Foi dessa trágica maneira que Mirtes pela última vez viu seu filho. A patroa que deveria proteger Miguel, não o fez. Uma verdadeira mãe jamais teria o descuido com os filhos de outra mãe.

Todo esse funesto fato mostra, dolorosamente, a desigualdade social, as diferentes condições de maternidade envolvendo a mãe rica, a mãe pobre.  Mirtes, a empregada, a mãe, de condições financeiras precárias, como tem que trabalhar, lhe é negado o direito legítimo da maternidade, cuidar e criar dignamente o filho Miguel, é obrigada a terceirizar o filho, por força de seu trabalho cotidiano, de ida e volta, da favela para o trabalho. Entrevistada, Mirtes fala numa dor muito forte no peito. Sente que algo está engasgado em sua garganta, quase sufocando-a, sente a aspereza no ar. Tristeza e angústia, unem-se em profundo sentimento de amargura. Tudo acontece no inesperado e precoce velório de Miguel. Desesperada, afligida e soluçante chora, verte lágrimas, diante do corpo inerte, sem vida, do filho, marcado pelos desígnios da vida. O desígnio de Miguel, foi marcado pela negligência, pelo modo relapso, pela irresponsabilidade daquela patroa.


TRAGICO DESTINO DE MIGUELZINHO

O local é denominado Cais da Alfandega, zona nobre, na capital de Recife, onde está construído um condomínio de três torres, empreendimento de alto padrão, planificado com luxuoso e faustoso projeto arquitetônico, conhecido como torres gêmeas.  Além da beleza, o residencial está adjacente ao mar, com um aprazível panorama do horizonte. O domínio predial, por toda sua estrutura, por sua magnificência e ostentação, com todos os requintes de conforto de quem deseja como moradia, certamente deve ser habitado por gente que faz parte da sociedade endinheirada, local propício para a vida burguesa. Numa daquelas torres, exatamente no nono andar, mora uma família afortunada, que desfruta de todos os bens materiais possíveis. Naquele endereço trabalhava a empregada doméstica de nome Mirtes, ela que em plena pandemia continuava trabalhando. Enquanto isso, a creche onde ficava o menino Miguel (cinco anos), filho de Mirtes, estava inativa. A solução para o imprevisto foi solicitar à patroa que “desse uma olhadinha em Miguel”. A solicitação foi feita, em razão de que Mirtes iria passear com o cachorrinho de raça, na parte externa e térrea do prédio, assim Mirtes cumpria sua obrigação passeadora canina. Miguel ficou aos cuidados da patroa. Repentinamente disse que estava com saudade da mãe, queria encontrá-la, determinado queria ver a mãe. A patroa o atendeu. Um vídeo gravou o drama, a caminhada de Miguel para a morte. Porta do elevador aberta, elevador de serviço (Miguel é um negrinho), a patroa lhe diz alguma coisa, aperta determinado botão, a porta do ascensor fecha-se, assim o menino é catapultado para a desgraça, tragédia consumada. A patroa volta para o apartamento para que a manicure termine seu serviço.  A porta do elevador abre-se e o garoto se enreda por caminho desconhecido, chegando até uma abertura. Por ali pretende encontrar a mãe, não a encontra, encontrou a morte. Cai de uma altura de 35 metros, no chão um corpo estatelado mortalmente. Foi dessa trágica maneira que Mirtes pela última vez viu seu filho. A patroa que deveria proteger Miguel, não o fez. Uma verdadeira mãe jamais teria o descuido com os filhos de outra mãe.

Todo esse funesto fato mostra, dolorosamente, a desigualdade social, as diferentes condições de maternidade envolvendo a mãe rica, a mãe pobre.  Mirtes, a empregada, a mãe, de condições financeiras precárias, como tem que trabalhar, lhe é negado o direito legítimo da maternidade, cuidar e criar dignamente o filho Miguel, é obrigada a terceirizar o filho, por força de seu trabalho cotidiano, de ida e volta, da favela para o trabalho. Entrevistada, Mirtes fala numa dor muito forte no peito. Sente que algo está engasgado em sua garganta, quase sufocando-a, sente a aspereza no ar. Tristeza e angústia, unem-se em profundo sentimento de amargura. Tudo acontece no inesperado e precoce velório de Miguel. Desesperada, afligida e soluçante chora, verte lágrimas, diante do corpo inerte, sem vida, do filho, marcado pelos desígnios da vida. O desígnio de Miguel, foi marcado pela negligência, pelo modo relapso, pela irresponsabilidade daquela patroa.