Os primeiros casos de contaminação no
Rio de Janeiro aconteceram em meados do mês de março, na zonal sul da cidade
carioca. Casos de fácil explicação, isso porque nos bairros de Ipanema, Leblon,
Arpoador e Copacabana, a maioria que por ali reside é abastada, com uma posição
financeira e social de prestígio invejável, pessoas consumidoras em lojas de
grife e que viajam constantemente pela Europa, mundo afora. Um caso explicito:
a madame viajou à Itália, voltou infectada pelo Govid-19, não informando à
empregada doméstica que estava com a doença contagiante e assim infectou-a.
Ela, a empregada, como muitos outros trabalhadores,
moradores da pequena cidade de Miguel Pereira (RJ), distante aproximadamente
100 quilômetros da capital fluminense, dali saem para prestar serviços na metrópole.
A empregada doméstica citada, trabalhando no Leblon, passava a semana no emprego
e, nos fins de semana, retornava à sua cidade para visitar a família. Numa
dessas idas e vindas o inesperado trágico ocorreu: a patroa retornou, como se
sabe, com o seu organismo portador de agentes infecciosos do coronavírus e, o
que era óbvio aconteceu: a transmissão da doença ocorreu facilmente no contato
direto. Vida que segue. Fim de semana, a doméstica visita parentes e, inapelavelmente,
pela sequência funesta e execrável de transmissão do parasita hospedeiro, deixa
vítimas e estigmas, na pequena cidade fluminense. Naquela semana sobreveio somente
para a doméstica a vinda, a ida jamais: ficou em sua cidade eternamente
sepultada.
*** ***
Country Club do Rio de Janeiro, a
centenária sociedade, situa-se em Ipanema, uma quadra perto da praia. Clube de
elite social, sofisticado, ostentoso, frequentado pela grã-finagem, pessoas de
condição social elevada. Pertinho da famosa praia de Ipanema, mas para aquela
gente requintada pouco importa, afinal quem tem uma sociedade que tudo oferece
(quadras de esportes, piscinas, bela área paisagística), não necessita daquela
praia frequentada pela aquela menina cheia de graça. Além do mais, aquelas
pessoas socialmente de classe elevada, jamais iriam se misturar com aquela
massa ignara, a desprezível classe pobre, com ninguém que seja um Zé Ninguém.
Festas suntuosas ali realizam-se, jantares com chef francês, casamentos e
etcetera. Uma estrutura enorme necessita de dezenas de empregados. Noite dessas
um jantar concorrido, todos convidados sem máscaras, sentem-se incólumes ao
vírus. Fim de festa, pessoal da limpeza em ação. Uma faxineira, moradora no
subúrbio da zona norte, adquiriu o coronavírus e assim infectou parentes e
vizinhos.
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