sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Verônica

Verônica é professora do ensino público, portanto mal remunerada. Salário miserável tradicionalmente representado pelo dedo indicador próximo ao polegar com uma ínfima separação entre os dois. Verônica está cansada depois de mais de 20 anos no magistério. Perdeu o entusiasmo em lecionar. Professora das primeiras séries do ensino fundamental não tem mais o encantamento com os alunos. A paciência está se esgotando com crianças bagunceiras colocadas na escola não com o intuito de aprender, mas como um local para deixar as crianças, segundo os pais. Verônica, nesse caso é mais assistente social do que professora. Além disso, em seu trabalho, numa escola da periferia, numa área de risco, enfrenta assaltos, ameaças de traficantes, se esquiva de balas perdidas. Se mostra exausta e frágil. Profissionalmente está inconformada e extenuada. Pessoalmente enfrenta outras dificuldades.

Verônica tem relacionamento difícil com o ex-marido. A mãe, com a necessidade de realizar uma cirurgia pelo hospital do serviço público, está esperando uma vaga, tem três meses. Não tem recurso para fazê-la em hospital privado. Verônica recorre ao ex-marido pedindo dinheiro emprestado para a cirurgia. Ele diz que não há problema, mas sutilmente insinua em levá-la para a cama. Indignada ela se sente como uma prostituta. A mãe terá que esperar. Não tem jeito. Dinheiro pelo sexo, jamais.

Um dia, na saída da escola em que trabalha, percebe que ninguém veio buscar Leandro, aluno de oito anos. Aguarda com o menino o comparecimento de alguém por várias horas. Anoitece e Verônica resolve levá-lo em casa situada em meio a uma favela. Quando se aproxima observa intenso movimento policial. Toma conhecimento de que traficantes foram assassinados, entre eles, pai e mãe de Leandro. Verônica redescobre sentimentos que estavam adormecidos e tenta fugir, retirar dali a criança.

Leandro também está jurado de morte. Dias antes da chacina, seu pai desconfiado do que poderia acontecer, pendura em seu pescoço um pen drive, instrumento que armazena e revela o conluio existente entre traficantes e policiais. Leandro é o da vez. Verônica fica apavorada. Busca ajuda com o marido ex-policial. Colegas professores receosos não colaboram. Descobre o pen-driva com o menino. Descobre mais; o lado podre da polícia e o envolvimento com traficantes. Não sabe em quem confiar. Se quiser sobreviver não pode seguir regras ou procurar a lei. Qualquer decisão racional e legal que tome não garante que seus problemas acabem. Existe uma única alternativa; fugir.

É o que faz Verônica junto com Leandro. Um recomeço, uma nova vida.

Verônica é o título do excelente filme de Mauricio Farias, com interpretação magistral de Andréa Beltrão, visto noite dessas sem qualquer preconceito por ser filme nacional.

sexta-feira, 20 de agosto de 2010

Uma rica profissão

O sujeito estuda, chega à faculdade. Forma-se num curso superior, encaminha-se para uma profissão liberal. De repente por uma questão ideológica, por acaso, por crença, convidado por um militante político e principalmente pelo futuro promissor oferecido de ganhar dinheiro, torna-se político. Começa como vereador, quem sabe prefeito, deputado, vai galgando gradativamente objetivos e partir daí se torna um profissional da política. Mas de repente sua carreira é truncada no aspecto eletivo, quando as urnas não lhes são mais favoráveis, os eleitores o esquecem, perde votos. O político profissional não se atormenta. Como companheiro de partido sempre encontrará um emprego, como apaniguado estará à disposição de qualquer boquinha, sempre com a ajuda de um padrinho político em plano superior, evidentemente, desde que seja bem remunerado. Certamente deu para ganhar dinheiro suficiente, formou seu pé de meia, poupança para investimentos, acumulou bens, garantiu uma boa aposentadoria, enfim tornou-se um político rico, porque nessa profissão, político pobre inexiste.
Mas o que dizer do milionário, do afortunado endinheirado que se enreda pelos caminhos da política, qual o seu interesse. Ganhar dinheiro certamente não. Projeção pessoal, prestígio, talvez. Interesses particulares a defender no Parlamento, provavelmente. Por tudo isso, se não for por vaidade, existe muito a questionar.
Blairo Maggi, ex-governador do Mato Grosso, candidato ao Senado, magnata do agro-negócio, o maior plantador individual de soja no mundo está na política por qual razão.
Lírio Parisoto na região alguém já ouviu falar dele. Começou em Caxias do Sul com uma loja locadora de filmes. Buscou a fortuna na Zona Franca de Manaus com a produção de DVDs tornando a marca Audiolar uma das mais importantes. Seu patrimônio é avaliado em mais de R$ 600 milhões. Com toda essa dinheirama é candidato como segundo suplente de senador por Amazonas. Certamente é o financiador de campanha do candidato titular, que mais do que nunca no Senado defenderá interesses da Zona Franca.. É bem provável. E de repente, de lambuja, pode se tornar senador sem um voto sequer. Aliás 40% dos senadores atualmente exercem mandatos pela carona.
xxx xxx
Político além de rico gosta de gastar dinheiro dos outros. No caso, dinheiro do otário contribuinte. Que beleza. A turma de vereadores passeando com dinheiro do povo. Realizaram um curso prático de turismo. Ao vivo nas quedas da água. Nada de teoria. Foram pegos em flagrante na maior farra turística. Não foi a primeira vez. Quatro anos antes 16 vereadores, fazendo turismo sob pretexto de algum curso.
Culpa do eleitor que também passa por otário. Pois bem. Dos vereadores inescrupulosos 11 foram reeleitos. Os outros não foram eleitos porque não se candidataram.

quinta-feira, 19 de agosto de 2010

O jogo

Internacional x Chivas jogo na televisão. Não me interessa. Busco, em um dos canais a cabo, um outro entretenimento. Encontro na rede telecine, mais exatamente no canal Cult, um antigo filme de faroeste. Os cenários tem por fundo o estado Colorado (EEUU), como também parte no México. O roteiro, como na maioria dos filmes de caubois, envolve os indios americanos dos peles vermelhas, como sempre massacrados pela civilização. Mas os indios de pele vermelha também como fugidios conquistadores, chegaram até o México e obtiveram importantes vitórias. Os mexicanos reagiram. Foram até as terras colorados e foram mais uma vez derrotados. Os peles vermelhas contra muita coisa, inclusive os "mocinhos" da vestimenta azul dos soldados. A partir das coloradas, os peles vermelhas conquistaram a América. Um bom filme, bom enredo e de final feliz.

quarta-feira, 18 de agosto de 2010

Flauta

Deu no noticiário. O goleiro Bruno, ex-Flamengo, confessou o crime. Foi o responsável pela morte de sua amante. No entanto muita gente questiona essa confissão. Sobre pressão do delegado, confessou. Intimou o delegado. Ou você confessa ou irá jogar no Grêmio.

A nova seleção brasileira tem Pato e Ganso. Dizem que Victor, goleiro do Grêmio, colabora com a seleção. Leva o frango.

Gremistas afirmam: qualquer pode ganhar do time das cabritas. Como se sabe, chivas em espanhol significa cabrita.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Animal político

O homem tem traços fundamentais como animal, que fala e discorre, portanto segundo o filósofo grego Aristóteles, o homem é um animal político. O italiano Maquiavel, em o Príncipe, diz que a política é a arte de conquistar, manter e exercer o poder, o próprio governo. É a partir daí a realidade da organização política de um povo, de um país.
O poder pela política, segundo ainda Maquiavel, é o domínio do homem sobre o próprio homem. O homem político conquista, mantém e exerce o poder através do homem eleitor, que vota. Para se fazer política é necessário haver os políticos.
Ser político é considerado uma profissão honrada. Assim deve ser o político, cidadão idôneo, de caráter sem jaça. Talvez uma ínfima parte dos políticos assim se comporta, pratica a política de anseios autênticos e honestos compromissos, apto a desempenhar com satisfação certos cargos, conforme vontade universal do homem eleitor, pelo voto.
Lamentavelmente a grande maioria do povo - a ser dirigido pelos políticos - tem opinião negativa a respeito dos políticos como classe. Não acredita existir o político imaculado, sem desvios na arte política. São vistos como pessoas inescrupulosas, ligadas as falcatruas, de vida devassa, aliados as corrupções, incorrigíveis políticos na arte do conluio, nas maquinações, nas tramas. Na política não é à toa que se usa uma expressão pejorativa – maquiavelismo. Ela está associada à ideia de perfídia, do procedimento astucioso, do comportamento indevido. Homens, profissionais da política que a usam para negócios escusos, de alcançarem uma maneira hábil de atingir o artifício de lograr, a fraude. Utilizam os fins para justificar os meios, ou seja, tem a finalidade da eleição com honestos propósitos mas que somente servem para alcançar objetivos por meios escabrosos, como por exemplo, enriquecerem-se.
Política enriquece, ou alguém já viu político pobre. Uma profissão altamente lucrativa.
Isso é comprovado pelas declarações de bens que os candidatos fazem junto ao TSE. É desse modo que a gente certifica-se de que a política é a arte de ganhar dinheiro. Teve candidato, numa comparação da eleição de 2006 a de 2010, um aumento patrimonial de 355%. Vadão Gomes deputado federal (PP) de São Paulo declarou em 2006 patrimônio de R$ 35 milhões, hoje R$ 193 milhões. A dona Iris Rezende deputada federal do PMDB de Goiás tinha zero de patrimônio na última eleição. Para a próxima declarou 14 milhões. A série das declarações dos políticos é enorme, tudo na base milhões. Como se faz para ficar rico dessa maneira? Um deputado federal tem o salário liquido de R$ 12 mil; uma verba de gabinete de R$ 50.8 mil; uma verba indenizatória de R$ 15 mil (hospedagem, consultoria); R$ 3 mil de auxílio moradia: total um pouco mais de R$ 80 mil. Em quatro anos de mandato de forma bruta o deputado arrecadaria quase R$ 3.500 milhões. Evidentemente que há despesas pessoais e de família. Na verdade, refletindo bem, como pode um político em quatro anos possuir tão enriquecido patrimônio de milhões reais. Verdadeiramente o homem é um animal político e rico.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

A direita em ação

Ontem a noite (segunda-feira), no Jornal Nacional, a primeira entrevista dos candidatos à presidência da República. Coube a Dilma Rousseff a primeira entrevista. O apresentador e entrevistador William Bonner se mostrou autêntico "direitão" a serviço, como bom empregado, da direita autêntica como é a Rede Globo. Nas perguntas mostrou uma feição rispida, o rosto crispado, quase de íra. Suas indagações eram longas cheias de subterfúgios, até mesmo capciosas. De toda a maneira tentou enrolar a candidata. Diante de tanta pressão Dilma até que saiu razoavelmente bem.
Vamos aguardar que o comportamento, o tom das perguntas, sejam equivalentes, particularmente ao candidato Serra.

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

O jogo

Jogo pela Copa Libertadores da América entre São Paulo x Internacional, na capital paulista e a gauchada assistindo pela televisão. O torcedor sente-se nervoso antes da partida começar. Está irrequieto, ansioso e angustiado. Para "acalmar", uma dose de bebida destilada. Começa o jogo. Mais uma dose. Não importa que sinta palpitações. Provavelmente a pressão arterial esteja alterada. Internacional 1x0, placar bom, não muito bom, mas vale. Por enquanto vai para a decisão por penaltis. Parece aliviado, mas nem tanto. Prossegue com o sistema nervoso irregular. Enjoou da bebida destilada. Passa a beber cerveja. Nenhuma nem duas, diversas. O time colorado empata 1x1. O torcedor continua nervoso. mais um trago. São Paulo 2x1. O negócio não está bem. Mais nervosismo. Mais uma dose de whiski. Final do jogo. O torcedor gremista lamenta e reflete: "Os caras estão de novo na final. Pior, vão para a final dos clubes no Emirados Arabes". Vai dormir. Não consegue, apesar do trago. Medita sobre o inacreditável: "Os caras vermelhos vão disputar o título de campeão Libertadores da Améria e o mundial de clubes. É demais, não acredito". Toma mais uma dose. Dose nada. Um litro. Tem que esquecer o que para ele é um martírio. Na verdade o gremistão não bebeu mais, mas ficou mais uns dias sem dormir. Quem sabe vai conseguir dormir tranquilo se o tradicional adversário não vencer a Libertadores da América e perca o mundial de clubes. Ai será um sono só.

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Dinheiro no colchão

Pessoas de antigamente guardam dinheiro em casa. Gente que vive na roça distante tem a mania de colocar o dinheiro debaixo do colchão. Até se compreende, pelo jeito de criação, por uma questão de tradição familiar, por desconfiança da entrega do dinheiro a terceiros, por não ter a facilidade de manejo financeiro nos bancos, enfim seja qual for o modo pelo qual aquelas pessoas protegem suas economias se compreende. Decididamente não dá para cogitar o político ser assim, e acredita-se ter conhecimento suficiente para saber resguardar dinheiro de modo inteligente e evidentemente bem diferente do que fazem pessoas simples de métodos antiquados.
Na declaração de bens dos candidatos, segundo o TSE, uma boa maioria manifesta-se possuir valores em espécie, um eufemismo para dizer que tem dinheiro em casa, sob o colchão. São grandes quantias de dinheiro vivo guardadas em casa. Naturalmente sem medo de ser roubado, protegido por serviço de segurança a sua disposição. Não é ilegal manter o dinheiro em espécie, ou seja, debaixo do colchão. Mas parece existir safadeza ou no mínimo incoerência para um tipo de atitude em guarnecer dinheiro.
O eleitor que elege os políticos não é de todo otário, conhece alguma coisa dessa raça conhecida como política. O simples primeiro raciocínio é de que político não liga para dinheiro. Mais. Dá-se o direito de perdê-lo.
O candidato informa que em espécie, ou seja, guardado debaixo do colchão possui 200 mil reais. Perde dinheiro. Num investimento conservador como caderneta de poupança perde mensalmente (taxa de 0,6%) 1.200 reais, num ano 14.400 reais. Um esbanjador, muito mão aberta, dispersivo financeiramente.
O eleitor não é bobo. Então, qual a razão do dinheiro guardado em casa? De político a gente desconfia. Dinheiro debaixo do colchão parece significar maracutaia, falcatrua.
Nesse caso tem sentido guardar em espécie. Desconfia-se, porém ninguém sabe ao certo, o destino desse dinheiro em espécie em razão de sua grande versatilidade ao ser empregado. É quase impossível garantir sua existência, por consequência sua movimentação, pelo simples fato de que um fiscal da Receita exigir que seja mostrado, o candidato pode simplesmente declarar que gastou tudo repentinamente. Manter o dinheiro em casa trata-se de uma burra opção pessoal por perder dinheiro. Seria admissível essa maneira de agir em tempo de inflação galopante quando corroia patrimônios e era comum guardar dinheiro em casa em forma de dólares.
Dinheiro em casa pode significar que o político não confia no sistema financeiro. Ou o mais grave; não poder declarar e explicar a origem e o destino desse dinheiro.
Quem busca o eleitor, quem pede votos tem que explicar de onde o dinheiro ganho. Suas fontes, suas aplicações. As democracias verdadeiras são dessa forma exigentes. Esse fajuto negócio de dinheiro em espécie, debaixo do colchão é algo escuso.
Tem que ser devidamente explicado para o bem da exata informação. Para o eleitor.

quinta-feira, 5 de agosto de 2010

O juiz de 25 mil

Um juiz de Direito da comarca do Rio de Janeiro foi investigado e descoberto vendendo sentenças. Todas as ações liminares de um certo tipo de atividade criminal que caíam nas mãos do jurista, coincidentemente ou não, tinha seu parecer favorável. Os requerentes eram os chefões da máfia de caça-niquéis no Rio. Impentravam liminares para continuarem na contravenção e o juiz lhes favorecia. Investigado, descobriu-se que as decisões eram movidas a propina, ou seja vendidas.
No julgamento do STF, numa decisão administrativa, foi determinado que o juiz corrupto não poderia julgar coisa alguma, o que é muito certo. O que não é certo, errado por completo, é o juiz destituido de suas funções, ir para casa, se enfiar num pijama com a aposentadoria cumpulsória, acreditem, pois é quase inacreditável, recebendo 25 mil reais por mês.
Para consolo do contribuinte, que paga o salário do juiz, ele responderá pelo crime como um acusado comum, mas se condenado continuará a receber os mesmos 25 mil.

quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Frio, muito frio

Faz frio, muito frio. O sujeito fica carangado de frio. Frio que faz as diferenças sociais. Frio que dá alegria, frio que faz sofrer, até matar. Frio de alegria para apaniguados pelo dinheiro, que chegam aos hoteis e pousadas na serra. Gente do centro do país, do nordeste, que vibram, que se alegram, principalmente quando encontram neve, como aconteceu ontem e hoje. Enquanto isso pobres infelizes morrem de frio. Para eles nada a ver com a satisfação de turistas. Sofrem e morrem por falta de agasalhos, sem a mínima condição de conforto. Clara diferença social entre ricos e pobres. Ricos, que em suas casas, possuem calefação ou lareira e num aconchegado lar, tem a temperatura ambiente de 20 gráus. Pobres que conseguem enfrentar o frio com um fogareiro queimando carvão, sujeitos a intoxicação pela fumaça.
Frio alegria de alguns, condições de enfrentá-lo para outros, mas sofrimento para uma maioria.