quarta-feira, 11 de maio de 2011

Kate

A mulher informa eufórica ao marido.
- Kate, nossa filha, vem nos visitar. Vai passar o fim de semana conosco. E com uma novidade. Vem junto com o namorado:
O pai meio cabreiro, desconfiado do provável, prevendo para ele o indesejável – os dois dormirem juntos -, intromete logo uma indagação como não quer nada, mas deseja ter a certeza de alguma coisa:
- Ah é... Mas ele vai dormir em que lugar? Pergunta que poderia impedir qualquer possibilidade de os dois dormirem juntos.
A mãe protetora e compreensível informa ao pai que isso é o de menos. Sempre se arrumará um lugar para cada um dos dois, algo que não se confirmou.
O pai é do tempo de casar de papel passado. Esse negócio moderno de “namorido”, de juntar os trapos e morar junto não é com ele. Nem mesmo expressões jurídicas para explicar esse estado de coisas, como a situação neo-estável é pouca coisa para convencê-lo. Para ele essa relação não formalizada, mas estável e legal, não tem valor algum. O seu raciocínio é de antanho, arcaico na interpretação, como se dizia antigamente de forma pejorativa: trata-se de um casal amasiado e amancebado.
Fim de semana. Para desespero e fúria do pai, o casal de namorados dormiu junto.
A mãe de Kate, observando o inconformismo do marido e pai, tentou desanuviar seus pensamentos indignos, explicando que os tempos são outros, que tudo mudou até no relacionamento de um casal de namorados.
Começa a recordar o namoro dos dois e como era diferente antigamente. O namoro na sala e sempre por perto a mãe, ou seja, a futura sogra. No sofá o casal sentado respeitosamente e o máximo permitido, as mãos dadas. Esse comportamento durava o tempo da novela das oito (hoje das nove). Ao final da novela a mãe, recolhia-se aos seus aposentos (bem assim como antigamente), recomendando a filha para não demorar. O “não demorar” significava um namoro até 11 horas, quando muito um acréscimo de meia hora. Nas reminiscências desse namoro, o marido, pai de Kate, rejubila-se:
- Era um namoro respeitoso.
A mãe de Kate, com um sorriso maroto parece dizer que não era bem assim.
Depois da novela, da mãe ter deixado a sala, o amor não tinha nada, se assim pode se entender, de respeitoso. Os amassos eram conduzidos por uma força sexual intensa. Propositadamente, em dias de namoro, ela colocava aquela blusinha cheia de botões, que desabotoados um a um permitiam uma mão boba a apalpar o desconhecido.
O antigo namorado, o marido, pai de Kate, calou-se, ficou quieto.
Para conformar o marido, mostrar de que realmente os tempos são outros, a mãe de Kate fez a seguinte observação:
- A outra Kate, a princesa, casada com o futuro rei namoraram durante oito anos, sendo que nos últimos quatro viviam juntos, ou seja, em tempo de “namorido”. Se a realeza pode porque os plebeus não.

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