sexta-feira, 20 de julho de 2012

O Chifrudo

A imagem mais divulgada de Brasília, verdadeira cartão-postal da cidade, é o edifício do Congresso Nacional, um conjunto de construções onde se destacam duas cúpulas que representam e abrigam o poder legislativo do país. Sob a cúpula maior, de forma côncava, situa-se em seu interior a Câmara dos Deputados. A cúpula menor, de formato convexo, abriga o plenário do Senado Federal. O cartunista Marco Aurélio publicou em seu espaço jornalístico, domingo passado, uma caricatura representando um momento da vida política nacional. A sátira envolve o Senado Federal. Por sobre a cúpula do prédio, um apêndice, um par de chifres. Como sabem o senador Demóstenes Torres teve seus direitos políticos cassados em votação no plenário, por falta de decoro, pelo seu envolvimento com o bicheiro Carlinhos Cachoeira. Sai um, o titular, entra outro, o suplente. O novo senador chama-se Wilder Morais (Dem/Go), rico empresário goiano. Rei morto, rei posto. Uma simples substituição. Nada demais. Em termos gerais, nem tanto. Pois o senhor Wilder que agora se tornou senador, alcançou essa condição por ser suplente de Demóstenes, que lhe ofereceu a suplência como um favor relativo (afinal quem poderia pensar na cassação de Demóstenes) por ter sido o maior doador financeiro na campanha eleitoral. Wilder Morais assumiu como senador é um chifre apareceu na cúpula do Senado. O chifre representa uma difícil situação conjugal que envolve adultério, traição. O fato envolvendo o novel senador poderia fazer parte das crônicas da vida cotidiana do genial Nelson Rodrigues, dos amores proibidos, da infidelidade conjugal. A exuberante jovem e bela mulher que trai o marido em busca da felicidade com outro alguém, amigo do marido, poderia ser um enredo, um roteiro de tantos folhetins de Nelson Rodrigues tendo como sugestivos títulos “Segredos da Alcova de Brasília”. O senador Wilde de Morais marido de Andressa foi amigo do Carlinhos Cachoeira. Cachoeira tornou-se amante de Andressa e Wilde foi traído, o que significa no popular ser chifrudo. Uma versão brasiliana do famoso e polêmico poema de Carlos Drumond cabe no episodio: “Wilde amava Andressa, que amava Carlinhos Cachoeira, que fingia gostar de Demóstenes, que não amava ninguém, mas adorava o poder”. O Senado da República já teve cassação de dois corruptos senadores. Outros também corrompidos por falcatruas escaparam de punição por estratagema político como a renúncia. O Senado foi palco de um episódio tragicamente escandaloso, quando o senador Arnon de Mello, em plenário, assassinou com três tiros o também senador Silvestre Péricles. Senado, local representativo de um dos poderes da República, agora passa por uma situação de depravação, constrangedor momento quando é diplomado um senador desmoralizado pela opinião pública como cônjuge traído, chifrudo e também sobre suspeição de corrupção. Assim é a vida política, “a vida como ela é”, segundo Nelson Rodrigues.

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