Quinta-feira, dia da semana em que normalmente redijo minha
crônica semanal.
De repente me dou
conta. Mas afinal escrever porque, digitar um texto para a publicação no jornal
na edição de sexta-feira se nada mais vai existir, que chegou o fim dos tempos,
se o mundo acabou, que nada ficará pedra sobre pedra, a humanidade finda.
A preguiça, a falta de vontade em elaborar as mal traçadas linhas
de um assunto qualquer, incentiva-me a pensar que a crença escatológica é
verdadeira, que chegou o dia do Juízo Final. O mundo vai acabar.
Fico sem escrever. Pronto. Não tem coluna, não tem jornal,
não tem mundo.
No entanto é conveniente raciocinar. A peremptória atitude
de nada fazer tem por princípio o apocalipse ao 1 minuto de sexta-feira 21. E
se assim não acontecer. Se a hecatombe ocorrer ao meio-dia ou mais tarde, à
noite, perto das 24 horas.
Será tempo suficiente para ainda se fazer muita coisa,
inclusive ler “O Farroupilha”, o que se deduz como obviedade que o jornal
circulará.
Circular, chegar às bancas, às casas dos assinantes, sem a
minha coluna, um espaço vazio porque disseram que o mundo ia acabar, desculpa
besta. Bronca na certa do diretor, esculacho do editor, decepção para a minha
meia dúzia de leitores.
E daí. Se nada escrever, sem a publicação da crônica.
Queixas, críticas, reclamações nem acontecerão. O mundo acabou.
Mas se de fato nada ocorrer. O cataclismo anunciado foi
somente sensacionalismo. Enganos acontecem, profecias não são validadas. Pode
ser.
Então a vida continuará serena e alegre, tranquilidade para
se ler o jornal e aquela minoria que lê minha coluna. Por isso a iniciativa
para um dia normal. É de bom alvitre, sugestivo, escrever.
Mas irá permanecer a incerteza, a dúvida angustiante, a
humanidade hesitante até o fim do dia de sexta-feira, quando feliz a humanidade
poderá constatar que houve somente o fim de mais um dia da semana.
Toda essa celeuma por causa de um antigo e misterioso
calendário maia, agora malfadado e famigerado. A civilização maia se
desenvolveu plenamente como uma das culturas pré-colombianas (povos existentes
antes do descobrimento da América do Sul e Central), notável por sua língua
escrita, sua arte, arquitetura e matemática. Além disso, excelentes astrônomos,
os maias tinham verdadeira obsessão pelo tempo. Com exaustiva observação dos
astros eles construíram calendários preciosos e previam eventos que determinava
a vida de sua civilização. Uma inscrição do século VII faz menção a uma data e
correlação feita trata-se de 21.12.2012., último dia do calendário criado pelos
maias. O fim do mundo.
Muita gente não está levando a sério esse desgraçado final
épico, simplesmente porque o indígena que elaborava o calendário informou ao
seu chefe que estava de “saco cheio” e que não faria mais porcaria alguma.
Então o “fim” não tem validade pela preguiça.
Em todos os casos teve gente que foi acampar em São Francisco de
Paula, ao que parece cidade incólume a catástrofe, conforme afirmação de seu
prefeito..
Tem gente que acredita que por aqui, no Brasil, nada
acontecerá. O país não está preparado, não tem estrutura para protagonizar um
evento desse porte.
De qualquer maneira, nessa quinta, aguardemos a sexta.
Certamente nada acontecerá. Escrevi minha coluna baseado num anunciado fim do
mundo. Nada acabou, mas o calendário maia me serviu como tema para o meu texto,
assunto para a coluna.