Deveria ser um local solene, decente e respeitoso, frequentado
por parlamentares responsáveis em suas atitudes, fieis aos preceitos de bom
comportamento, exemplos do cumprimento do dever, por estar ali estabelecida uma
das mais importantes representações democráticas dos negócios públicos e fatos
republicanos de um país.
O Senado Federal, numa metáfora religiosa, seria a catedral
de um culto, análogo a liturgia dos rituais não de uma igreja, mas da ordem
política, do cerimonial republicano.
Talvez esse sentido figurado, o ponto de semelhança colocado seja um
exagero, mas jamais seria lugar para uma bizarrice, para uma chanchada.
Sessão do Senado Federal em transmissão pela TV Senado.
Terça-feira à tarde, portanto um dia normal de trabalho, de
expediente para qualquer cidadão que exerça uma função em sua atividade profissional.
No entanto, na contramão de um dia de trabalho, o plenário
do Senado está vazio, com a impressão de uma casa abandonada por aqueles,
senhores senadores, pagos com dinheiro dos contribuintes, que ali deveriam
estar presentes em defesa dos negócios públicos e republicanos. Pelo Rio Grande
do Sul não se sabe por onde estavam e o que faziam os senadores Simon, Paim e
Ana Amélia.
Por estar desocupado, abandonado, o ambiente de um dos
poderes da República se oferece, para um momento propício, um oportunismo
inusitado para uma farsa, bandalheira montada por embusteiro.
Parece ser uma encenação, palco de uma comédia burlesca que
ridiculariza instituições, que consiste em uma parodia ou sátira aos costumes e
valores sociais. O recinto respeitoso republicano foi transformado, por tudo
aquilo que ocorreu em um picadeiro circense com palhaços, atores do ridículo e
fingimento.
Ratificando, plenário vazio. Não. Na verdade somente dois
figurantes, dois senadores, um verdadeiro, o outro, um fantoche. O senador
autêntico manobra o boneco protagonista da farsa em humilhante cena. Um humilde servidor é solicitado para um
papel caricato, personagem ridículo no palco do teatro burlesco da política
nacional.
Johnson Alves Moreira se passa, é o fingido senador, ele na
realidade, um garçom que serve água e cafezinhos aos genuínos senadores.
João da Costa, esse sim, senador pelo desconhecido e
inexpressivo (PPL) Partido da Pátria Livre, de Tocantins, é o único presente no
recinto e, por conseguinte faz tudo no momento, secretaria e preside a sessão.
Da tribuna se esforça em sua eloqüência, exagera na verborragia e loquacidade.
A retórica do discurso está em 14 páginas e com estilo empolado faz uma explanação
sobre o aborto “direitos do nascituro a luz do sistema do Direito romano e do
ordenamento jurídico brasileiro”.
Mas ele não vai falar para o nada, para ninguém. Há necessidade
para a lengalenga de platéia, nem que seja um único ouvinte. Com mais atenção se
observa sentado na cadeira como representante republicano um único assistente, tratando-se
de um pseudo senador, o garçom Johnson, convidado especial de João da Costa, que
passa por um momento de sentimento de júbilo ou vergonha.
Assim está composto o cenário cômico da vergonha, a
encenação do ridículo, o disfarce da mentira, a dissimulação da verdade.
Naturalmente o diretor de imagens da televisão tem o cuidado
de focar unicamente as duas figuras protagonistas da farsa: o verdadeiro João e
o falso Johnson.
Dessa forma fica registrado em áudio e em vídeo, a
simulação, o disfarce, o registro do grotesco. O senador João da Costa é um
artista, caricatura do burlesco. Inicia de forma solene, mas paradoxalmente patética:
“Senhores e senhoras, senadores e senadoras aqui presentes...” A TV não mostra que todos eles estavam ausentes.
Quanto a sua excelência Johnson não se sabe se recebeu alguma
gorjeta como senador ou garçom.
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