domingo, 5 de maio de 2013

Johnson, a farsa, a mentira


Deveria ser um local solene, decente e respeitoso, frequentado por parlamentares responsáveis em suas atitudes, fieis aos preceitos de bom comportamento, exemplos do cumprimento do dever, por estar ali estabelecida uma das mais importantes representações democráticas dos negócios públicos e fatos republicanos de um país.

O Senado Federal, numa metáfora religiosa, seria a catedral de um culto, análogo a liturgia dos rituais não de uma igreja, mas da ordem política, do cerimonial republicano.  Talvez esse sentido figurado, o ponto de semelhança colocado seja um exagero, mas jamais seria lugar para uma bizarrice, para uma chanchada.

Sessão do Senado Federal em transmissão pela TV Senado.

Terça-feira à tarde, portanto um dia normal de trabalho, de expediente para qualquer cidadão que exerça uma função em sua atividade profissional.

No entanto, na contramão de um dia de trabalho, o plenário do Senado está vazio, com a impressão de uma casa abandonada por aqueles, senhores senadores, pagos com dinheiro dos contribuintes, que ali deveriam estar presentes em defesa dos negócios públicos e republicanos. Pelo Rio Grande do Sul não se sabe por onde estavam e o que faziam os senadores Simon, Paim e Ana Amélia.

Por estar desocupado, abandonado, o ambiente de um dos poderes da República se oferece, para um momento propício, um oportunismo inusitado para uma farsa, bandalheira montada por embusteiro.

Parece ser uma encenação, palco de uma comédia burlesca que ridiculariza instituições, que consiste em uma parodia ou sátira aos costumes e valores sociais. O recinto respeitoso republicano foi transformado, por tudo aquilo que ocorreu em um picadeiro circense com palhaços, atores do ridículo e fingimento.

Ratificando, plenário vazio. Não. Na verdade somente dois figurantes, dois senadores, um verdadeiro, o outro, um fantoche. O senador autêntico manobra o boneco protagonista da farsa em humilhante cena.  Um humilde servidor é solicitado para um papel caricato, personagem ridículo no palco do teatro burlesco da política nacional.

Johnson Alves Moreira se passa, é o fingido senador, ele na realidade, um garçom que serve água e cafezinhos aos genuínos senadores.

João da Costa, esse sim, senador pelo desconhecido e inexpressivo (PPL) Partido da Pátria Livre, de Tocantins, é o único presente no recinto e, por conseguinte faz tudo no momento, secretaria e preside a sessão. Da tribuna se esforça em sua eloqüência, exagera na verborragia e loquacidade. A retórica do discurso está em 14 páginas e com estilo empolado faz uma explanação sobre o aborto “direitos do nascituro a luz do sistema do Direito romano e do ordenamento jurídico brasileiro”.

Mas ele não vai falar para o nada, para ninguém. Há necessidade para a lengalenga de platéia, nem que seja um único ouvinte. Com mais atenção se observa sentado na cadeira como representante republicano um único assistente, tratando-se de um pseudo senador, o garçom Johnson, convidado especial de João da Costa, que passa por um momento de sentimento de júbilo ou vergonha.

Assim está composto o cenário cômico da vergonha, a encenação do ridículo, o disfarce da mentira, a dissimulação da verdade.

Naturalmente o diretor de imagens da televisão tem o cuidado de focar unicamente as duas figuras protagonistas da farsa: o verdadeiro João e o falso Johnson.

Dessa forma fica registrado em áudio e em vídeo, a simulação, o disfarce, o registro do grotesco. O senador João da Costa é um artista, caricatura do burlesco. Inicia de forma solene, mas paradoxalmente patética: “Senhores e senhoras, senadores e senadoras aqui presentes...” A TV  não mostra que todos eles estavam ausentes.

Quanto a sua excelência Johnson não se sabe se recebeu alguma gorjeta como senador ou garçom.

 

 

 

 

 

 

          

 

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