Afinal, o que ele estaria fazendo naquele lugar? Esperando
alguém ou ninguém?
O local, uma pequena arborizada e frondosa praça, semelhante
a tantas outras do interior, espetacularmente linda, com jardins e canteiros
repletos de flores, com imensa variedade de cores, numa miscelânea adorável
multicolorida.
Com tanta beleza natural, o que estaria ali fazendo Carlos
Augusto? Apreciando tão somente aquele magnífico cenário que comprova a
existência da vida?
Caminha, anda de um lado para outro, dá inúmeras voltas e de
súbito está envolvido com uma pequena multidão. São algumas dezenas de pessoas
totalmente desconhecidas.
Tem a sensação de perdido no meio daquele grupamento. Afinal
nada tem a ver com o ambiente. As pessoas ali postadas se mostram agitadas. Dão
a nítida impressão de que estão esperando a chegada de alguém ou outrem .
Conversam de maneira animada, mostram-se alegres e felizes,
exaltando satisfação.
Evidentemente que aguardam parentes ou queridos amigos.
Num canto, num pequeno grupo, alguém conta uma aventura
hilariante e os circunstantes dão gostosas gargalhadas.
Carlos Augusto ouve, não acha graça alguma. Acha sim, coisa
bem boba.
Outra meia dúzia de gente conversa, falam de assuntos comuns,
do cotidiano, das vantagens e realizações de cada um, coisas de final de anos, coisas
despropositadas para a oportunidade. E Carlos Augusto, fazendo o quê ali?
Filosoficamente como se diz, um rosto perdido no meio da multidão.
Passa o tempo, não sabe exatamente quanto. Uma hora, talvez.
Tempo em que Carlos Augusto se sente desnorteado, sem rumo, decididamente
perdido.
De repente há um burburinho, um alvoroço através de uma
manifestação alegre e agitada. Pessoas com os braços levantados e sacolejantes é a demonstração de contagiante alegria. É
quando a ansiedade se desfaz.
Aproxima-se um ônibus. Agora se sabe o porquê das pessoas
ali reunidas.
Esperavam o ônibus com seus passageiros, aguardados com
angstia.
Os passageiros descem vagarosamente do coletivo e são efusivamente
recepcionados pelos que os esperam. Muitos beijos e abraços. Lágrimas emotivas
são derramadas pela sensibilidade do tão esperado reencontro.
Carlos Augusto a média distância observa. Ele que estava
completamente alheio ao ambiente sente alguma emoção. Emoção pela alegria que é
uma forma de felicidade.
Carlos Augusto em observância continua seduzido, atraído
pela movimentação.
Desceram, não contou, mas aproximadamente 15 passageiros. O
ritmo da emoção prossegue quando uma linda moça, deslumbrante pela beleza,
loira de profundos, belíssimos e estonteantes olhos azuis chama a atenção do
nosso observador.
Seus olhos, como um instantâneo fotográfico, gravam a imagem
daquela divindade feminina. Sentiu-se desconexado, apalermado, surpreendido,
espantado, enfim boquiaberto, quando aquele encanto de mulher gritou:
- Carlos Augusto.... Carlos Augusto... Sou eu, Virginia.
Carlos Augusto esfregou as mãos sobre a pele. Chamou
baixinho a si pelo seu próprio nome para ter certeza de que era ele o Carlos
Augusto chamado.
Mas é quem era Virginia? A Virginia, casta, virgem, da
lucidez incomum, das coisas certas. Seria essa a Virginia? Ou simplesmente uma
ilusão, algo enganador, uma coisa efêmera? Ouve de novo com insistência por
três, quatro vezes: Carlos Augusto, Carlos Augusto... Ele se aproxima daquela
que poderia ser sua mulher, mais que isso sua deusa. Sente aquele odor
perfumado, não pela fragrância de um produto industrializado, mas pelo seu
natural e atraente aroma produzido pelo aquele corpo divino.
Carlos Augusto está pertinho dela. Carlos Augusto e Virginia
beijam-se. Sons de sininhos distantes, luzes, muitas luzes, alegria e emoção.
Na verdade tudo longe da realidade. Imagens de um sono, pura
fantasia, somente devaneio. Simplesmente um sonho de uma noite.