quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Rolezinhos

Pois bem, diríamos, poderia ser bem assim.
O segurança com aquela tradicional vestimenta (conjunto de terno, gravata, camisa, sapato preto) parecendo mais um agente funerário, apavorado comenta com o colega: “É hoje... isso ai vai da confusão”.
O sujeito branco, esportivamente bem arrumado, típica personagem frequentadora de shopping, vê a estranha movimentação de jovens e exclama estupefato: “Não aqui não. O que querem nesse local essa gentinha atrevida, insolente”.
A branquela, com vestuário na exigência da moda, segura com firmeza junto ao colo a sua bolsa de grife famosa, Hermés Birking, de legitimo couro na cor laranja, fica desatinada, entorpecida com a arruaça e medita: ¨Ahh.. Deus meu... vou ser assaltada”.
Essas exclamações, aqueles raciocínios, podem ser tratados como fictícios, frutos da imaginação de alguém. O diálogo temeroso, os pronunciamentos balbuciantes e preconceituosos, feitos por supostos protagonistas, referem-se a um modismo social de jovens conhecido como rolê que significa “andar por aí. dar uma volta, dar um giro”.
Os rolezinhos são formados a partir de contatos via facebook para encontros, passeios em shoppings, turmas formadas por adolescentes, a maioria moradora na periferia.
Eis a questão, o ponto nevrálgico de uma tese, de uma discussão social e ai surgem os preconceitos, foge-se do convencionalismo, estabelece-se o ranço social, surge o ressentimento segregacional contra pobres, negros, gente suburbana.
Como pode essa turba de negros, com imitações prosaicas de grifes, aquelas brancas azedas com adereços da moda atual, pirataria comprada em camelôs, freqüentar as catedrais supremas da burguesia, da elite consumidora, da dominadora classe média.
- Não eles não podem freqüentar nossos santuários burgueses, proclamam as elites.
Ao início do texto, mencionadas prováveis elucubrações.
Porem, em um shopping de Guarulhos (SP), durante um rolê, nada do imaginário.
A coisa real, a existência de um fato, relatada pela repórter Laura Capriglione da \Folha de São Paulo. Disse uma desatinada empresária: ¨ Esses maloqueiros deveriam ser proibidos de entrar num lugar como esse ”.
Pior mesmo foi uma anterior afirmação em outro shopping de um segurança - captada por um jovem - dizendo de maneira raivosa, discriminada e desatinada, que com essa gente só no “cacete”, “tem que cagar todos eles a pau”, claro referindo-se aos rolezeiros.
Revelações vulgares e preconceituosas contra o povo da periferia, pessoas da classe média baixa, pertencentes a camada social designadas pelas letras C e D.
Essa turma, discriminada pela senhora empresária paulista, proibida de freqüentar shoppings teria como oportunidade de freqüência e alternativa de compras e passeios os camelódromos, que preconceituosamente afirma-se: que o lugar deles.
Os rolezinhos começaram junto ao Shopping Metrô Itaquera, no bairro do mesmo nome na região leste da cidade de São Paulo, perto de onde está sendo edificado o estádio do Corinthians conhecido como Itaquerão ou Luluzão.
Antes, muito antes, aproximadamente há seis anos, estudantes calouros da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP se reúnem em determinado shopping ao início de todo ano letivo. Os universitários, a maioria de classe média e cor branca entoam cantos, gritos até com palavrões, zorra total, baderna e algazarra e lotam o local e são assistidos com olhar benevolente por seguras, lojas não fecham as portas, as pessoas não se incomodam.
Pois bem. Esses estudantes em forma de provocação afirmam pelo conceito de Justiça social, pelo direito de ir e vir, pela liberdade de se movimentarem, pela igualdade constitucional. sem qualquer constrangimento, que os eventos são similares (reunião de grupos, passeios) e que portanto o tratamento deva ser o mesmo indiferente, a quem freqüente o shopping e por conseguinte sem discriminação, sem preconceito. Que assim seja.
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Lula molusco... você sabe quem sou eu...sabe com quem está falando. Essas e outras, acesse: falasimpatia.blogspot.com









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