O moço é um
desses inúmeros comunicadores de uma rádio qualquer do interior.
O nome dele
é Jair. Pela foto postada na internet trata-se de um rapaz de boa aparência,
boa pinta. Deve fazer sucesso entre as mulheres. A cor dos seus olhos não se
sabe, estão escondidos atrás das lentes escuras de um par de óculos conhecido
pelo modelo “aviador”. Bem aquele tipo de óculos de sol, usado à noite por
celebridades, principalmente quando vão a velórios de alguma outra celebridade.
Jair faz
sucesso com o seu público e não é só de mulheres. Os homens também o escutam,
até o Chico. Na tarde de sexta-feira passada Jair “ao vivo” apresentava seu
programa. Programação definida, músicas escolhidas, a serem tocadas na ordem
desejada. Corria tudo bem quando o telefone toca com um pedido musical. A
solicitação é o sucesso de Xirú Missioneiro, Corpo Esgualepado.
Jair diz que
a música é inadequada ao tipo de programação. O pedinte da música, dizem o tal
de Chico, revoltado e indignado, pelo pedido não atendido, armado com uma adaga
encara um Jair amedrontado, demonstra sua ira com uma sequência raivosa de
algumas pancadas sobre a mesa do estúdio com a genérica da espada.
A situação
dramática, periclitante, terminou com a interferência da polícia graças ao
microfone aberto, o que tornou a cena prosaica, mas temerosa, pública. O
programa do Jair nada tem a ver com o tipo de música solicitada, música do
cancioneiro gauchesco. Além de que Corpo Esgualepado é uma música chamativa,
apelativa, desbocada, esculachada, que invoca um erotismo pejorativo, de mau
gosto com humor, como diz o gaúcho, bem bagaceira.
A música
retrata um gaúcho esquisito, avariado, judiado, escangalhado, cansado, doente,
enfim um corpo esgualepado, que a cada dia que passa surge sintomas de coisa
ruim, resultado de uma dura vida campeira, da tropiada, da esquila, da doma e
por isso vai buscar solução para os seus males com uma consulta médica.
Toda essa
situação ele descreve a um parceiro. Conta os percalços, o incômodo e o
transtorno da consulta junto a uma médica.
Inicia: “Sinhá
dotora aresorva meu drama”. Prossegue no seu arrazoado ao companheiro,
descrevendo os fatos da consulta.
“A dotora me
atô pelo meu braço/Apertando uma bola medindo a pressão/Fez respiração boca a
boca/Bateu chapa do meu coração/Atracou um apareio na luz/Que ela apelidou de
tar computação/Viu minha carcaça toda esbodegada/E ela me amostrando minhas
peça estragada/retratando na televisão.”
Conta ainda
que a tal “dotora” lhe explicou:
“A tua vida
tá muita atrasada/Os teu bofe não existe mais/A bebida de arco diluiu a
buchada/Teus purmão tá igual a foles de gaita/Tua bexiga esgualepada”.
A consulta
prosseguiu: “Me fez uriná em frente dela/Meio contrariando tive que mijá”.
O guasca diz
ainda ao companheiro que naquele momento da consulta, de repente “a tar dotora”
começou a rir muito.
“A dotora
então dava de ri/Esse teu tareco de fazer xixi/ Tá sem serventia/ Já não serve
pra mais nada”. No entanto, o otimismo, a satisfação: “Depois exigiu que eu
sacasse a minha roupa/A dotora apertando os pertence, disse/A tua doença eu já
sei o que é/Tua situação já muito agravada/Então pra te cuidá arruma duas
muié”.
Conta ainda
o esgualepado que a “dotora”, sem rir, muito séria e preocupada, diagnóstica:
“Teu culesterol tá em quinhentos/As tuas veia tão tudo trancada/tua coluna
afrouxou os quarto/A tua espinha tá descornotada”.
Assim termina
a história de um corpo esgualepado, de um final de consulta médica, porém
gaúcho macho, cheio da libido, ainda com muita energia pelo instinto sexual,
diríamos chega ao seu epitáfio.
“A dotora já
me desenganou/E já que eu tô virando um bagaço/Me agarrei nela e um pedido fiz/A
última coisa que te pede um infeliz/Então me permita que eu morra em seus
braços.”
Nenhum comentário:
Postar um comentário