quarta-feira, 2 de abril de 2014

Águas de março

Acabou-se o que era doce em referência ao clima, especialmente para aquelas pessoas que gostam do calor, que fazem do verão a melhor estação do ano.
Final do mês de março, calor e verão se foram. Terminou o adorável tempo de estio, acabaram os deliciosos, claros e plenos dias do período estival. Fim da temporada de veraneio dos dias longos, luminosos, das horas bem desfrutadas que deveriam ser intermináveis, das vigílias nunca cansativas, das noites brilhantes com o céu cheio de estrelas espraiadas em todos os cantos do firmamento  estável e inabalável,  em que dormir é o menos que se deva fazer. Quem faz do verão a melhor estação é esperar, aguardar o próximo solstício em dezembro, a expectativa de realizar-se mais um movimento de translação, deixar passar as águas de março e esperar 276 dias. Deixar o tempo passar, o mundo girar. Verão que chegou ao seu fim, outono o começo, na sucessão das quatro temporadas que se repete anualmente, as estações da vida com o frio do inverno e a florida primavera. Aqui pelo sul quando sol alcança o equinócio de março, o tempo muda, o verão acaba, o outono chega o que determina o período sazonal chuvoso e ventoso. Tempo decadente do clima, do triste ocaso, do desaparecimento do sol no escuro horizonte, da chuva chata e miúda e infelizmente das enxurradas, das inundações, formadoras de catástrofes. Dos ventos uivantes que provocam nas esquinas soturnas um assobio de som prolongado, misterioso e amedrontador. Período das árvores ficarem desnudas, dos galhos secos, das folhas de cores vermelhas do plátano e de outras cores mortas pelo chão. Sim, também quando as cigarras não cantam mais.
Há outonos mais tristes, de maior melancolia como o outono de 31 de março de 50 anos atrás, quando as águas de março se transformaram em enxurradas de desrespeito a liberdade, quando uma corrente impetuosa da ditadura, do regime de exceção, do autoritarismo, de um golpe militar, levou de roldão os direitos do povo.
Tempo do pau, da pedra, do fim do caminho, das águas de março de Jobim.
Felizmente outros outonos vieram, novos meses de março surgiram, as águas de março mais amenas, os verões deslumbrantes com a democracia, o povo livre.
Ainda tem gente de mente retrógrada, de princípios cívicos obsoletos, da unilateralidade de governo, que deseja a volta daquele outono, do março antidemocrático, das caudalosas, obscuras, lamacentas e imundas águas de março daquele tempo, de 50 anos atrás.
O mundo deve ser democrático e livre, pois nem tudo é um outono obscuro, dos regimes despóticos, da tirania militar, dos civis a serviço do poder arbitrário e absoluto, outono de um desprezível e maculado trinta e um de março de 1964, data que é uma nódoa, uma mancha infame na história brasileira.
A Natureza á sábia, organizada e disciplinada. Para se chegar às belezas do verão, há necessidade de um inverno para fazer brotar os ramos das arvores, que irão florescer na primavera, tudo iniciado no outono com a fecundidade das sementes.
Na verdade, tem coisas boas derivadas do outono, como a deliciosa composição de Antônio Carlos Jobim Águas de Março. A inesquecível gravação de Nat King Cole, denominada Autumn Leaves, baseada no outono das folhas mortas. Enfim as águas de março fecharam o verão. Agora as folhas que caem, voam pela janela, as folhas dourada e vermelhas de outono. Ate o próximo verão.
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A primeira turma de Educação Física da UCS, vestibular de 1977, formatura em 1981. Daquela turma, 27 professores se reuniram na noite de sexta-feira numa pizzaria de Farroupilha comemorando 31 anos de formatura. Lembranças, recordações, reminiscências.
O encontro bem organizado pelas colegas farroupilhenses Carmem, Dorly e Adriana.





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