Acabou-se o que era doce em referência ao clima,
especialmente para aquelas pessoas que gostam do calor, que fazem do verão a
melhor estação do ano.
Final do mês de março, calor e verão se foram. Terminou o
adorável tempo de estio, acabaram os deliciosos, claros e plenos dias do
período estival. Fim da temporada de veraneio dos dias longos, luminosos, das horas
bem desfrutadas que deveriam ser intermináveis, das vigílias nunca cansativas,
das noites brilhantes com o céu cheio de estrelas espraiadas em todos os cantos
do firmamento estável e inabalável, em que dormir é o menos que se deva fazer. Quem
faz do verão a melhor estação é esperar, aguardar o próximo solstício em
dezembro, a expectativa de realizar-se mais um movimento de translação, deixar
passar as águas de março e esperar 276 dias. Deixar o tempo passar, o mundo
girar. Verão que chegou ao seu fim, outono o começo, na sucessão das quatro
temporadas que se repete anualmente, as estações da vida com o frio do inverno
e a florida primavera. Aqui pelo sul quando sol alcança o equinócio de março, o
tempo muda, o verão acaba, o outono chega o que determina o período sazonal
chuvoso e ventoso. Tempo decadente do clima, do triste ocaso, do desaparecimento
do sol no escuro horizonte, da chuva chata e miúda e infelizmente das
enxurradas, das inundações, formadoras de catástrofes. Dos ventos uivantes que
provocam nas esquinas soturnas um assobio de som prolongado, misterioso e
amedrontador. Período das árvores ficarem desnudas, dos galhos secos, das
folhas de cores vermelhas do plátano e de outras cores mortas pelo chão. Sim,
também quando as cigarras não cantam mais.
Há outonos mais tristes, de maior melancolia como o outono
de 31 de março de 50 anos atrás, quando as águas de março se transformaram em
enxurradas de desrespeito a liberdade, quando uma corrente impetuosa da
ditadura, do regime de exceção, do autoritarismo, de um golpe militar, levou de
roldão os direitos do povo.
Tempo do pau, da pedra, do fim do caminho, das águas de
março de Jobim.
Felizmente outros outonos vieram, novos meses de março
surgiram, as águas de março mais amenas, os verões deslumbrantes com a democracia,
o povo livre.
Ainda tem gente de mente retrógrada, de princípios cívicos
obsoletos, da unilateralidade de governo, que deseja a volta daquele outono, do
março antidemocrático, das caudalosas, obscuras, lamacentas e imundas águas de
março daquele tempo, de 50 anos atrás.
O mundo deve ser democrático e livre, pois nem tudo é um
outono obscuro, dos regimes despóticos, da tirania militar, dos civis a serviço
do poder arbitrário e absoluto, outono de um desprezível e maculado trinta e um
de março de 1964, data que é uma nódoa, uma mancha infame na história
brasileira.
A Natureza á sábia, organizada e disciplinada. Para se
chegar às belezas do verão, há necessidade de um inverno para fazer brotar os
ramos das arvores, que irão florescer na primavera, tudo iniciado no outono com
a fecundidade das sementes.
Na verdade, tem coisas boas derivadas do outono, como a
deliciosa composição de Antônio Carlos Jobim Águas de Março. A inesquecível
gravação de Nat King Cole, denominada Autumn Leaves, baseada no outono das
folhas mortas. Enfim as águas de março fecharam o verão. Agora as folhas que
caem, voam pela janela, as folhas dourada e vermelhas de outono. Ate o próximo
verão.
*** ***
A primeira turma de Educação Física da UCS, vestibular de
1977, formatura em 1981. Daquela turma, 27 professores se reuniram na noite de
sexta-feira numa pizzaria de Farroupilha comemorando 31 anos de formatura.
Lembranças, recordações, reminiscências.
O encontro bem organizado pelas colegas farroupilhenses
Carmem, Dorly e Adriana.
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