quinta-feira, 8 de janeiro de 2015

Epaminondas, não o general greco, mas o barnabé brasileiro

Epaminondas é o nome dele. Recebeu de sua mãe esse nome simplesmente porque achou bonito e ai se coloca em discussão o dúbio gosto materno. Não, nunca, jamais pensou em homenagear o político e general grego do século IV a.C., por não saber nada, não o menor conhecimento da história graga. Foi melhor assim. O Epaminondas de hoje, homem de simplista cidadania, que ganhou o nome de batismo por simples escolha materna, nada tem a ver, portanto com o estadista da antiga Grécia. Um nome excêntrico e esquisito e até por sua sonoridade ao pronunciá-lo, familiares, amigos ou apenas conhecidos o chamam de Epa ou Nondas. Epaminondas, Epa ou Nondas como queiram é um barnabé, modesto servidor público estadual, que faz parte daquele grupo de funcionários de salário arrochado, sinônimo, porque assim não dizer, de deplorável e humilhante pela retribuição de serviços prestados com honradez e afinco ao estado, digno de profundas lamentações e justificadas lamúrias, claro flagrante da injustiça salarial que vem a ser a social.
Na verdade Epa poderia se consolar com algo pior: ele tem salário um pouco mais superior que os vencimentos de professores. O salário dele é tão desprezível, ordinário mesmo, que nesse ano ele terá como proventos menos de 10% daquilo que receberão governador, deputados, juízes, promotores, coronéis, delegados e outros afortunados, ditosos e bem-aventurados assalariados, pertencentes a elite salarial.
Vida assalariada de um barnabé pressupõe métodos financeiros de equilíbrio indispensável. Não pode haver exageros. A vida tem que ser levada em termos de dinheiro com muita humildade, com racionalidade total para evitar gastos com tudo que se diz supérfluo. Especialmente por isso, pelos parcos recursos advindos de seus proventos, todo o ano ao seu início, no festejado Ano Novo, Epaminondas se inspira de todo e qualquer jeito com crenças e crendices para alcançar um ano melhor. Apega-se a fé, com convicções esperançosas, a espiritualidade, ao esoterismo, a tudo que tem direito, pelas coisas terrenas, pelas propriedades extraterrenas, pelo surreal, por estigmas supersticiosos, pelas simpatias populares, fantasias e quimeras. O vale tudo pela esperança de bom novo ano. Foi cumpridor fiel de algumas dessas exigências populares. Comeu quase um quilo de lentilha, alimento que cresce e faz crescer a pessoa, não fisiologicamente, mas na vida profissional. Para crescer como humano ao menos no salário subiu até numa escada de madeira encostada no muro. Para atrair dinheiro chupou não sete, mas uma dúzia de romãs. Aquela folha do loureiro guardada na carteira ano passado para ter sorte, jogou fora – não adiantou para nada – mas colocou uma nova folha de louro de novo esse ano na carteira: existe esperança. Para que tudo desse certo conforme conceitos popularescos, Epaminondas foi ao mar. Ficou num hotel em Curumin para dar aqueles ridículos saltinhos por sobre as ondas. Epaminondas, homem na faixa etária de 50 anos, solteiríssimo por não muita convicção. Até que tentou mudar seu estado civil e sujeitou-se a mais uma crendice popular. Relógio marcando meia-noite de um novo ano. Diz a crença para arranjar uma namorada, a futura esposa, deve naquele momento abraçar e beijar a mulher mais próxima. Epaminondas nunca deu sorte. Sempre ao seu lado, a primeira mulher avistada era uma baranga, em outra ocasião uma mocreia, até dragão surgiu ao seu lado. Preferiu ficar solteiro.
Entre tantos pedidos de sorte, dinheiro, dois sobressaíram-se: que o Zé Ivo, governador eleito gaúcho,não atrase o salário e que consiga ganhar o auxílio-moradia.  


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Verão...Beleza. Vou andar por aí, naturalmente como sempre gosto de fazer, beirando o litoral do oceano Atlântico sul.

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