domingo, 31 de maio de 2015

Fachin: interrogatório de réu

A indicação, depois a aprovação, a consequente nomeação de um candidato postulante a ser ministro da Suprema Corte, segue a vigente legislação, passa pelos trâmites administrativos, aquela lenga-lenga que para o leigo na linguagem popular, na gíria, está mais para parangolê. A indicação parte da presidência da República e obviamente trata-se de uma escolha pessoal, de alguém confiável, mas que exige do preferido requisitos indispensáveis como a irrefutável aptidão ao desempenho do cargo, capacidade do conhecimento de notável saber jurídico, idoneidade, reputação ilibada, caráter sem jaça. A escolha do nome do candidato é uma deferência especial pelo poder maior da República. A condescendência ao aspirante a nobre cargo de juiz do STF o encaminha ao protocolo constitucional com seus artigos rígidos e regulamentos inflexíveis. Inicialmente, de acordo com as formalidades, comparece perante a Comissão Constituição e Justiça, procedimento de praxe irrelevante uma vez que historicamente no regime republicano (presidente Floriano Peixoto) somente um nome foi rejeitado, quando se associou a questão política à inaptidão ao cargo.
Pois bem. A presidenta Dilma Rousseff, de acordo com o direito constitucional acima descrito, escolheu o advogado Luiz Edson Fachin, como pretendente a 11ª vaga no Supremo Tribunal Federal. O individualismo na escolha talvez tenha sido um reconhecimento a declaração pública do apoio de Fachin a candidatura de Dilma, quem sabe pelo seu pensamento progressista e liberal, ou pelo seu indiscutível e inquestionável saber jurídico, provavelmente pelas três razões reunidas.
O preferido designado para respeitável, colenda e venerável função, encaminhou-se para defrontar-se com alguns, talvez nada respeitáveis, colendos e veneráveis senadores da CCJ. Membros da comissão (27 senadores) organizaram-se para entrevista, a sabatina para destrinchar em detalhes a vida pregressa de Fachin.
Esses momentos, que provocam enorme retumbância junto a mídia, oportunizam aos políticos aparecerem e se exibirem para espectadores da TV Câmara, canais noticiosos de assinatura paga. Por isso, pelo exibicionismo, os 27 senadores da CCJ inscreveram-se para fazer perguntas ao possível ministro. Pelas 27 indagações notou-se que algumas eram descabidas, repetitivas, outras irrelevantes.  
Ficou assuntado que cada senador teria o tempo máximo de cinco minutos para proferir sua pergunta. No entanto, um senador, um grandalhão com jeito de fazendeiro demorou 14 minutos para a sua interrogação. Foi a maior presepada. O ridículo terminou com a rebelião na platéia dos colegas daquela “Vossa Excelência” que foi chamado até de autista. Apesar dos cinco minutos ou de até um pouco mais para as perguntas a entrevista demorou quase 12 horas. Por esse tempo de duração na verdade o que ocorreu não foi uma sabatina, desenvolveu-se uma inquirição para destrinçar a vida pregressa do candidato, interrogatório tal e qual feito a um réu.
A motivação para o demasiado tempo da sessão foi o ranço político. A manifestação de Fachin, pelo direito da liberdade de expressão, que se pronunciou em apoio a candidatura a presidenta Dilma provocou uma questão política e por isso verificou-se a briga entre situação e oposição. Fachin superou o martírio, a mazela provocada de tantas horas. Saiu-se bem, com dignidade. Venceu a pugna de goleada 20x7.
Apesar de tudo, ao término do processo - pode se ser pensar aborrecido e de “saco cheio” – foi elegante, distinto, com fineza, disse: “Estou feliz e honrado por ser destinatário de tamanha atenção dos senadores”
Tamanha atenção mesmo, de quase 12 horas.


         

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