A Rede Globo, nos anos 80, lançou em sua
programação, exibida por volta das 23 horas, as minisséries, programas com
roteiros ficcionais, mas que abordavam a realidade, o cotidiano dos diversos
segmentos da sociedade, o prazer com as fases felizes, os lamentos com os infortúnios,
regozijo com a alegria, a lastima com a tristeza. Na época as minisséries
tinham como tempo de exibição um mês, no máximo 20 episódios. Contemporaneamente
as minisséries passaram a ser séries com a duração de meses, com dezenas de
capítulos e assim transformaram-se em “novelão das 11”.
Com a série “Os dias eram assim”
imaginava-se um roteiro histórico, relembranças do período da ditadura militar,
a possibilidade de reviver os infortunados anos de chumbo, como ficou sendo
conhecida aquela época.
A série retratou superficialmente aquele
passado. Em seu introdutório se mostrava abranger substancialmente o
autoritarismo do regime militar. Não foi bem assim. Foi exibido um dramalhão com
a duração de cinco meses em 84 capítulos com excessos de tragédias, exageros nas
tensões emocionais, longos e desnecessários relacionamentos frustrados, traições
amorosas sem contexto, personagens dispensáveis. O roteiro se aproxima de
romances, senão impossíveis, incompreensíveis. Todo esse conteúdo dramatúrgico de
qualidade discutível se entende como um melodrama. Diversas tramas paralelas sem
sentido e assim não empolgaram. Na verdade nem todo enredo foi desprezível. Há sim
referências quanto a ditadura militar. Aparecem cenas de tortura, assassinatos
em nome da ordem pública, ultraje aos direitos do cidadão, afronta ao estado
democrático. Todo esse pavor consumou-se, foi facilitado pela união dos
militares com empresários. Na série o execrável fato é mostrado com o empresário
de nome Arnaldo, espécime golpista comungado com a ditadura militar. É ficção,
mas não longe da realidade. Empresários paulistas junto com militares formaram uma
força de repressão que ficou conhecida como Operação Bandeirantes cometendo toda
espécie de arbitrariedades e violações. Dela fazia parte, entre outros, o
famigerado delegado Fleury (Doi-Codi) que no folhetim da Globo se faz presente
como o odioso delegado Amaral.
“Os dias eram assim” começa seu roteiro
nos anos 70 com a ditadura militar. Chega a década de 80 e com ela o começo da
devastadora epidemia da AIDS, que contaminou e matou milhões de pessoas mundo
afora. A moléstia especialmente fez do amor e do sexo um prazer perigoso. Na
série esse assunto é mencionado. A protagonista do episodio tem o nome de Nanda.
Uma aidética. Sua interpretação proporciona cenas pungentes. Tratava-se de uma
doença quase sempre fatal que consumia seus pacientes de forma lenta e sofrida.
A jovem Nanda não escapa desse périplo maligno. Em fase terminal vê dissipar-se
seu futuro, desvanecer sua vida. Para Nanda seus dias foram assim, desesperadamente
sofridos.
*** ***
Discutível
o roteiro da série, o desenrolar da trama. O que se impõe, indiscutível, é a qualidade
da trilha sonora. São quase 30 belíssimas composições musicais, destacando-se
sucessos de Chico Buarque, Gilberto Gil, Secos e Molhados, Raul Seixas, entre
outros.
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