Foi um retorno difícil, mas consegui, voltei.
Caminhei. Fui e vim perdido entre atalhos na busca de outros caminhos, entre rotas
estranhas, na tentativa de encurtar a caminhada. Tudo em vão. Itinerante, em encruzilhadas
me perdi. Deixei caminhos secundários e fui procurar o caminho principal. Nessa
trajetória momentos de alegria com vitórias conquistadas. Em outros, a aflitiva
convivência com a derrota e a desafortunada esperança. Sofri, padeci. Parecia o
prognóstico da desventura, o infortúnio anunciado, quase me torno um
depressivo. Senti-me esgualepado. Superei percalços e até sortilégios de gente
mesquinha e invejosa. Com dedicação e obstinação consegui o sucesso, a
conquista, a volta. Finalmente a satisfação, a glória, alegria depois de vagar em
imenso vazio. Rodei muito. Sei lá, umas 36 rodadas, mas voltei.
Depois de idas e vindas, encontrei o
acertado caminho da volta. Percorri infernos, passei pelo purgatório, mas agora
padeço no Paraíso.
Estou retornando. A vereda é a mesma, o
caminho de casa. Continua simplesmente encantadora com aquela miscelânea de
cores vivazes das margaridas silvestres, formando maravilhoso e decorativo
mosaico.
Nada mudou. Tudo está no mesmo lugar. Sim,
alguma coisa mudou em razão do passar do tempo: a desbotada pintura da casa, o
banco do jardim meio apodrecido, o campinho de futebol com a grama perdida entre
as ervas daninhas. Coisas materiais, mas sentimentalmente tudo está como antigamente.
Estou de volta e com a volta uma única
certeza: aqui é o meu lugar, é onde devo ficar. Voltei para todas as coisas que
deixei principalmente as conquistas.
Aproximo-me em passo lento, revivendo o
passado. Saudade. Estou em frente ao mesmo portão com a pintura descorada. Um
latido nunca esquecido. È daquele vira-lata, preto e branco, de focinho
atrevido, de nome Espoleta. Rosna, parece não me reconhecer. Chega mais perto. O
cheiro do meu corpo faz ativar seu faro. Sou reconhecido. Festa, saltitos e
lambidas. Mostra os dentes significando o sorriso canino
Paro. Reparo em tudo ao meu redor. Fico
a vontade, desfaço-me da mochila. Continuo olhando no entorno e de fato nada
mudou.
É primavera. Lá está o portentoso
jacarandá florido. No outro lado o ipê gigantesco, imponente com o forte e vivo
amarelo de suas flores.
Meia-volta. Vejo a porta aberta, entro.
Não encontro ninguém, ninguém me espera. Parece casa abandonada. Os mesmos móveis
escanecidos, necessitando de uma restauração.
No canto da sala lá está o sofá
envelhecido onde assistia os jogos daquele time. Reparo com cuidado o ambiente.
Chama atenção na parede aquele quadro com a fotografia já meio amarelada,
daquele time de camisa vermelha.
Paro com o pensamento das reminiscências.
Não mais necessito das imagens lembrando o passado, passado de que nunca
deveria ter existido. Voltei. Agora vivo o presente, pensando no futuro.
Sai de onde nunca deveria ter saído. Perdi-me
em terras brasileiras recentemente, logo eu que andei pelas Américas, pelas
bandas do Oriente sempre como umvencedor, afinal eu sou um cara “internacional”.
De repente, quando antes era tudo
silêncio, o abandono, a vizinhança se
próxima e aos gritos proclama: “ele voltou”.
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