quinta-feira, 23 de novembro de 2017

O colorado voltou

Foi um retorno difícil, mas consegui, voltei. Caminhei. Fui e vim perdido entre atalhos na busca de outros caminhos, entre rotas estranhas, na tentativa de encurtar a caminhada. Tudo em vão. Itinerante, em encruzilhadas me perdi. Deixei caminhos secundários e fui procurar o caminho principal. Nessa trajetória momentos de alegria com vitórias conquistadas. Em outros, a aflitiva convivência com a derrota e a desafortunada esperança. Sofri, padeci. Parecia o prognóstico da desventura, o infortúnio anunciado, quase me torno um depressivo. Senti-me esgualepado. Superei percalços e até sortilégios de gente mesquinha e invejosa. Com dedicação e obstinação consegui o sucesso, a conquista, a volta. Finalmente a satisfação, a glória, alegria depois de vagar em imenso vazio. Rodei muito. Sei lá, umas 36 rodadas, mas voltei.
Depois de idas e vindas, encontrei o acertado caminho da volta. Percorri infernos, passei pelo purgatório, mas agora padeço no Paraíso.
Estou retornando. A vereda é a mesma, o caminho de casa. Continua simplesmente encantadora com aquela miscelânea de cores vivazes das margaridas silvestres, formando maravilhoso e decorativo mosaico.
Nada mudou. Tudo está no mesmo lugar. Sim, alguma coisa mudou em razão do passar do tempo: a desbotada pintura da casa, o banco do jardim meio apodrecido, o campinho de futebol com a grama perdida entre as ervas daninhas. Coisas materiais, mas sentimentalmente tudo está como antigamente.
Estou de volta e com a volta uma única certeza: aqui é o meu lugar, é onde devo ficar. Voltei para todas as coisas que deixei principalmente as conquistas.
Aproximo-me em passo lento, revivendo o passado. Saudade. Estou em frente ao mesmo portão com a pintura descorada. Um latido nunca esquecido. È daquele vira-lata, preto e branco, de focinho atrevido, de nome Espoleta. Rosna, parece não me reconhecer. Chega mais perto. O cheiro do meu corpo faz ativar seu faro. Sou reconhecido. Festa, saltitos e lambidas. Mostra os dentes significando o sorriso canino
Paro. Reparo em tudo ao meu redor. Fico a vontade, desfaço-me da mochila. Continuo olhando no entorno e de fato nada mudou.
É primavera. Lá está o portentoso jacarandá florido. No outro lado o ipê gigantesco, imponente com o forte e vivo amarelo de suas flores.
Meia-volta. Vejo a porta aberta, entro. Não encontro ninguém, ninguém me espera. Parece casa abandonada. Os mesmos móveis escanecidos, necessitando de uma restauração.
No canto da sala lá está o sofá envelhecido onde assistia os jogos daquele time. Reparo com cuidado o ambiente. Chama atenção na parede aquele quadro com a fotografia já meio amarelada, daquele time de camisa vermelha.
Paro com o pensamento das reminiscências. Não mais necessito das imagens lembrando o passado, passado de que nunca deveria ter existido. Voltei. Agora vivo o presente, pensando no futuro.
Sai de onde nunca deveria ter saído. Perdi-me em terras brasileiras recentemente, logo eu que andei pelas Américas, pelas bandas do Oriente sempre como umvencedor, afinal eu sou um cara “internacional”.

De repente, quando antes era tudo silêncio, o abandono,  a vizinhança se próxima e aos gritos proclama: “ele voltou”.    

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