Jornal “O Farroupilha”, na edição de
9/12/1988, quando das comemorações dos 54 anos de emancipação do município, publicou
uma reportagem cujo conteúdo foram entrevistas com três figuras históricas que
viveram o processo emancipatório, testemunhas oculares da data magna
farroupilhense - independência do município – que presenciaram a histórica
efeméride, a transição da antiga vila Nova Vicenza para o novo município de
Farroupilha.
O médico Jayme Rossler, prefeito no
quatriênio (1951/1955) não participou ativamente do processo de criação do
município. Nos primórdios da rebelião colonial era um estudante de medicina,
porém seu sogro (Faustino Gomes) foi um dos líderes do movimento. Ele se lembra
daquele tempo quando percebia-se o vertiginoso desenvolvimento da vila,
principalmente pelo comércio envolvendo o turismo, principalmente em época de
veraneio em Desvio Blauth e na casa do Mate (na cidade). Por tudo isso havia
imensa euforia pela autonomia, emancipar-se do domínio caxiense.
Segundo personagem entrevistado,
comerciante Germano Pessin, fez um trágico depoimento. Ano da emancipação 1934.
Uma festa acontecia quanto uma confusão teve desfecho numa tragédia. O pai de
Germano, Augusto Pessin, um dos pioneiros na região, tempo de colonização, foi
a primeira vítima da violência, de um crime de morte, esfaqueado por um
desafeto, no recente criado município.
O terceiro protagonista na entrevista
foi o dentista Edmundo Hilgert e eventualmente juiz de paz substituto. O senhor
Hilgert narra episódios que mais parece “causos”. Na época da emancipação
estava em substituição ao juiz efetivo. Em razão de sua função não poderia
participar do movimento rebelde.
Caxias do Sul, em termos de política
tinha muita força política junto ao governo estadual e fazia uso dela para não
perder o promissor e desenvolvido segundo distrito, excelente fonte de
arrecadação. Em certa ocasião, narra o dentista e eventual juiz, o interventor
e governador do Estado general Flores da Cunha, em campanha eleitoral para o governo
do Estado na eleição de 1935, em direção à Caxias do Sul, viajando de trem em
vagão especial, sabendo de sua passagem por aqui a população aglomerou-se na
estação ferroviária de Nova Vicenza. O trem parou, Flores da Cunha, saudou a
população – claro pedindo votos - e prometeu a emancipação, o que ocorreu por
decreto, ainda em 1934, quando reassumiu o governo do estado (estava licenciado
pela campanha).
Na campanha, naquele trem, afirma
Hilgert, havia dois escrivães acompanhando o candidato elaborando uma lista de
nomes com todos aqueles que concordavam com a emancipação. Havia uma corrente
muito forte contra a emancipação, liderada pelo dono do hospital local, o
caxiense Dionísio Cibelli, que tinha muitas regalias junto ao poder político
caxiense. Como a maioria da população era a favor da emancipação estava na
lista, inclusive assinaturas de quem trabalhava para Cibelli. Ao que parece não
foi bem assim: um funcionário do hospital negou que aquela assinatura contida
na lista não era sua, era falsificada. Hilgert, não condição de juiz
substituto, junto com os dois escrivães, procurou o sujeito para que confirmasse
a negação. Ele confirmou. Diante disso, na condição de juiz, teve que verificar
se as assinaturas, calculadas em aproximadamente 500, eram verídicas. Junto com
os escrivães, com carro pago pelo povo, percorrendo até o interior, com a
colaboração da população, as assinaturas foram legitimadas. Assim, a lista foi
para Porto Alegre aprovada pelo general Flores da Cunha e consequentemente a
emancipação.
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