quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

Quem viveu em Nova Vicenza


Jornal “O Farroupilha”, na edição de 9/12/1988, quando das comemorações dos 54 anos de emancipação do município, publicou uma reportagem cujo conteúdo foram entrevistas com três figuras históricas que viveram o processo emancipatório, testemunhas oculares da data magna farroupilhense - independência do município – que presenciaram a histórica efeméride, a transição da antiga vila Nova Vicenza para o novo município de Farroupilha.
O médico Jayme Rossler, prefeito no quatriênio (1951/1955) não participou ativamente do processo de criação do município. Nos primórdios da rebelião colonial era um estudante de medicina, porém seu sogro (Faustino Gomes) foi um dos líderes do movimento. Ele se lembra daquele tempo quando percebia-se o vertiginoso desenvolvimento da vila, principalmente pelo comércio envolvendo o turismo, principalmente em época de veraneio em Desvio Blauth e na casa do Mate (na cidade). Por tudo isso havia imensa euforia pela autonomia, emancipar-se do domínio caxiense.
Segundo personagem entrevistado, comerciante Germano Pessin, fez um trágico depoimento. Ano da emancipação 1934. Uma festa acontecia quanto uma confusão teve desfecho numa tragédia. O pai de Germano, Augusto Pessin, um dos pioneiros na região, tempo de colonização, foi a primeira vítima da violência, de um crime de morte, esfaqueado por um desafeto, no recente criado município.
O terceiro protagonista na entrevista foi o dentista Edmundo Hilgert e eventualmente juiz de paz substituto. O senhor Hilgert narra episódios que mais parece “causos”. Na época da emancipação estava em substituição ao juiz efetivo. Em razão de sua função não poderia participar do movimento rebelde.
Caxias do Sul, em termos de política tinha muita força política junto ao governo estadual e fazia uso dela para não perder o promissor e desenvolvido segundo distrito, excelente fonte de arrecadação. Em certa ocasião, narra o dentista e eventual juiz, o interventor e governador do Estado general Flores da Cunha, em campanha eleitoral para o governo do Estado na eleição de 1935, em direção à Caxias do Sul, viajando de trem em vagão especial, sabendo de sua passagem por aqui a população aglomerou-se na estação ferroviária de Nova Vicenza. O trem parou, Flores da Cunha, saudou a população – claro pedindo votos - e prometeu a emancipação, o que ocorreu por decreto, ainda em 1934, quando reassumiu o governo do estado (estava licenciado pela campanha).
Na campanha, naquele trem, afirma Hilgert, havia dois escrivães acompanhando o candidato elaborando uma lista de nomes com todos aqueles que concordavam com a emancipação. Havia uma corrente muito forte contra a emancipação, liderada pelo dono do hospital local, o caxiense Dionísio Cibelli, que tinha muitas regalias junto ao poder político caxiense. Como a maioria da população era a favor da emancipação estava na lista, inclusive assinaturas de quem trabalhava para Cibelli. Ao que parece não foi bem assim: um funcionário do hospital negou que aquela assinatura contida na lista não era sua, era falsificada. Hilgert, não condição de juiz substituto, junto com os dois escrivães, procurou o sujeito para que confirmasse a negação. Ele confirmou. Diante disso, na condição de juiz, teve que verificar se as assinaturas, calculadas em aproximadamente 500, eram verídicas. Junto com os escrivães, com carro pago pelo povo, percorrendo até o interior, com a colaboração da população, as assinaturas foram legitimadas. Assim, a lista foi para Porto Alegre aprovada pelo general Flores da Cunha e consequentemente a emancipação.





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