quinta-feira, 31 de outubro de 2019

Dia de Finados, dos mortos ou defuntos


Obra magistral, poema do notável João Cabral de Melo Neto, narra a trajetória, o percurso de morte e vida, o destino trágico de Severino, retirante nordestino, marcado pela presença constante da morte miserável, de emboscada antes do 20 anos, de velhice antes dos 30 de fome a cada dia. Severino são todos os nordestinos. Assistiu muitas mortes em sua trajetória, descobre que é ela a morte, a maior empregadora do sertão. Ela dá empregos, do médico ao coveiro, da rezadeira ao farmacêutico. Severino é nordestino, com o destino da morte. Inexoravelmente somos todos severinos. O nascimento de Severino e de todos os seres humanos, aguarda o derradeiro dia da morte. Vida curta ou longa. O recém-nascido pode ter uma vida breve, morte inesperada: motivo descaso da saúde pública. A criatura pode não chegar à adolescência, a criança morre estupidamente por uma bala perdida, resultado trágico do conflito da ignorância entre polícia e bandido. O jovem não chega a idade madura. A irresponsabilidade no trânsito, o desastre, a morte. A morte precoce é ocasionada também pela rivalidade, pelo poder no tráfico de drogas. Antigamente a pessoa chegava aos 60, 70 anos, considerava-se estar na velhice, morte à espreita. Hoje, morrer naquela faixa etária, é morrer precocemente. Medicina avançada, a cultura pelo corpo, cuidado, prevenção, condição de se chegar aos 100 anos, alguns cansados da vida.
A morte é a parte terminante da vida. Faz sentido de que pessoas de todo mundo, de todas as culturas e origens, tenham suas próprias maneiras de manifestação para honrar aqueles já faleceram. A data é o símbolo da lembrança e do legado de quem já se foi, marcada por vários rituais. O mais marcante em quase todas as regiões é a visita ao cemitério. Pode ser o maltratado cemitério da periferia, pode ser o cemitério das elites. Há famosos como o Recoleta, necrópole da decrépita aristocracia argentina. No Rio de Janeiro o cemitério da nobreza, dos ricos da Zona Sul chama-se São João Batista. Na entrada, escrito está em bronze e arco, para ricos e pobres: Lembras homem que és pó e pó voltares a ser.
Vida, a passagem do ser humano por esse planeta Terra, vida e morte. Mistério, culto secreto, dogma religioso? Qualquer que seja o motivo implica ao ser humano a incompreensão, não há resposta para o raciocínio explicito. Trata-se de algo implícito sem indicação, sem qualquer manifestação, incapacidade para compreender, para perceber uma explicação.
A percepção vida e morte é alvo de analise, de interrogação, que nos induz para aquelas intrigantes e inquietantes perguntas de todos os séculos, de todas as gerações, buscando-se respostas, nunca encontradas: de onde viemos? Para aonde vamos? O que estamos fazendo aqui? Qual a essência da vida? Por que temos de morrer? Qual a causa dos sofrimentos? Tudo acaba com a morte? Ser ou não ser? Com todas dúbias interrogações por que nascer? A morte é respeitada, sempre lembrada ao incauto ser humano, no dia 2 de novembro, Dia de Finados, Dia dos mortos ou Defuntos. 

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