Obra magistral, poema do notável João
Cabral de Melo Neto, narra a trajetória, o percurso de morte e vida, o destino
trágico de Severino, retirante nordestino, marcado pela presença constante da
morte miserável, de emboscada antes do 20 anos, de velhice antes dos 30 de fome
a cada dia. Severino são todos os nordestinos. Assistiu muitas mortes em sua
trajetória, descobre que é ela a morte, a maior empregadora do sertão. Ela dá
empregos, do médico ao coveiro, da rezadeira ao farmacêutico. Severino é
nordestino, com o destino da morte. Inexoravelmente somos todos severinos. O nascimento
de Severino e de todos os seres humanos, aguarda o derradeiro dia da morte. Vida
curta ou longa. O recém-nascido pode ter uma vida breve, morte inesperada: motivo
descaso da saúde pública. A criatura pode não chegar à adolescência, a criança morre
estupidamente por uma bala perdida, resultado trágico do conflito da ignorância
entre polícia e bandido. O jovem não chega a idade madura. A irresponsabilidade
no trânsito, o desastre, a morte. A morte precoce é ocasionada também pela
rivalidade, pelo poder no tráfico de drogas. Antigamente a pessoa chegava aos
60, 70 anos, considerava-se estar na velhice, morte à espreita. Hoje, morrer
naquela faixa etária, é morrer precocemente. Medicina avançada, a cultura pelo
corpo, cuidado, prevenção, condição de se chegar aos 100 anos, alguns cansados
da vida.
A morte é a parte terminante da vida.
Faz sentido de que pessoas de todo mundo, de todas as culturas e origens,
tenham suas próprias maneiras de manifestação para honrar aqueles já faleceram.
A data é o símbolo da lembrança e do legado de quem já se foi, marcada por
vários rituais. O mais marcante em quase todas as regiões é a visita ao
cemitério. Pode ser o maltratado cemitério da periferia, pode ser o cemitério
das elites. Há famosos como o Recoleta, necrópole da decrépita aristocracia
argentina. No Rio de Janeiro o cemitério da nobreza, dos ricos da Zona Sul
chama-se São João Batista. Na entrada, escrito está em bronze e arco, para
ricos e pobres: Lembras homem que és pó e pó voltares a ser.
Vida, a passagem do ser humano por esse
planeta Terra, vida e morte. Mistério, culto secreto, dogma religioso? Qualquer
que seja o motivo implica ao ser humano a incompreensão, não há resposta para o
raciocínio explicito. Trata-se de algo implícito sem indicação, sem qualquer
manifestação, incapacidade para compreender, para perceber uma explicação.
A percepção vida e morte é alvo de
analise, de interrogação, que nos induz para aquelas intrigantes e inquietantes
perguntas de todos os séculos, de todas as gerações, buscando-se respostas,
nunca encontradas: de onde viemos? Para aonde vamos? O que estamos fazendo
aqui? Qual a essência da vida? Por que temos de morrer? Qual a causa dos
sofrimentos? Tudo acaba com a morte? Ser ou não ser? Com todas dúbias
interrogações por que nascer? A morte é respeitada, sempre lembrada ao incauto
ser humano, no dia 2 de novembro, Dia de Finados, Dia dos mortos ou Defuntos.
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