sábado, 11 de abril de 2020

EU PRESO JAMAIS


Decididamente não... Não me considero aprisionado. Jamais tive envolvimento com falcatruas. Não me aceito em prisão domiciliar. Nunca fiz conluio algum com a corrupção. Detido, também não é o caso. Não há necessidade para averiguações. Minha vida pregressa revela um cidadão idôneo, o histórico de meu passado é isento de qualquer nódoa moral, de caráter sem jaça, não tenho mazelas a esconder, estou completamente limpo, tanto quanto, em tempo de coronavírus, as mãos das pessoas que as lavam frequentemente. Fico em casa. Consciente não me sinto sem o direito de ir e vir. Posso assim agir, democraticamente mas irresponsavelmente, indo para a rua. Privado, confinado, enclausurado, na verdade, conforme sugerido, sigo o conselho de cientistas e da OMS, estou em isolamento social e procedendo assim, colaboro para o bem da humanidade. Não me sinto desconfortável. Tomo precauções comigo e para com os outros iguais. Não quero ser o agente maligno de uma doença infecciosa, resguardo-me, não desejo ser um elo contaminador do vírus. Gosto de estar em casa. Claro, nem tudo é perfeito: estou impedido de ir ao cinema, não posso realizar meus exercícios na academia, a novela Amor de Mãe foi suspensa, não posso ir ao bar do Bolacha tomar aquele cafezinho. Tenho lazer em casa. Pela segunda vez assisti na tv o inolvidável filme Encontros e Desencontros, o musical cubano Buena Vista Social Clube, a Orquestra Jazz Sinfônica (SP), a reprise no canal Arte1 de um sensacional e histórico show na Suíça da extraordinária banda Eath Wind & Fire, assim como programações diversas: festivais, documentários, filmes. Somos três em casa: eu minha distinta e amada companheira Neiva e o terceiro personagem, sabem quem? O Tylly (isso mesmo, nome americanizado) fiel canis lúpus familiares, tamanho médio, pelo amaciante e esbelto, cor dourado claro – pessoas afirmam que eu exagero quando digo que se trata de um Golden Retrieve, em tamanho menor. Honestamente Tylly é um animal Sem Raça Definida (SRD), no popular, um vira-latas. É esperto, agitado, carinhoso e dócil. Minha netinha Cecilia (4 anos) gosta muito dele, a reciproca é verdadeira. Tenho afazeres domésticos relacionados a horta e ao jardim. A safra de tomates terminou, agora é a vez dos pimentões. Hortigranjeiros perenes como alface, rúcula e radiche continuam satisfazendo apetites. No jardim, no próximo mês poda das roseiras. Podas também nos gerânios e a devida adubação; Três Marias, logo que terminar a floração merecem poda. São três cores diferentes: encarnada, roxa e amarela. Em tempo de outono o solo do quintal fica multicolorido. Tenho que preparar canteiros para as mudas de flores do clima, no caso do inverno, amor-perfeito. Poucos são os cuidados com as suculentas. Eu, seguido pelo Tylly, verificamos costumeiramente todos os detalhes do meio ambiente local, Noto que a grama tem que ser cortada. Isso é o de menos. Demais é o que faz o coronavírus com a humanidade

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