sábado, 26 de novembro de 2011

Elvira e Lula

Elvira é fissurada em rede social pela internet, particularmente no facebook. É fascinada por aquilo que ela publica. As mensagens colocadas em suas páginas têm a capacidade de deixá-la extasiada. Quando falo de Elvira, apaixonada pela comunicação via internet, não estou falando de uma adolescente, de uma jovem extrovertida e deslumbrada em busca de notoriedade numa rede social. A Elvira aqui referida é um ser adulto, de plena maturidade, uma mulher de 50 e poucos anos, beirando os 60. Elvira gosta de aparecer e o facebook é o seu caminho. Adora se mostrar. Emergente na internet é envolvida pelo brilho demasiado de suas realizações fúteis, proclamadas às amigas. Vaidosa.
Envia seus monólogos em busca de diálogos. Difícil. Fala unicamente de si.
Diz de suas viagens espetaculosas como prova de ostentação. Comenta de forma pomposa sua última aquisição, peça sofisticada, uma bolsa Louis Vuitton. Fotografias do ambiente reservado familiar vão às telas do computador, fotos que serviriam mais para um álbum de família. A intimidade é revelada sem necessidade. Nesse caso pode passar até como uma figura ridícula, motivo para despertar o riso de circunstantes.
Elvira pode ser comparada a muita gente que faz uso das redes sociais. Pessoas que vaidosamente buscam elogios, ou a ilusão que querem ter êxito diante de todos. Pernósticas, não adquiriram a humildade de olhar para dentro de si mesmo. Colocam máscaras de criaturas impecáveis, superiores pela grandeza exposta, querendo sempre estar em evidência.
As redes sociais é uma forma de comunicação autêntica entre amigos, troca de informações sobre o cotidiano, compartilhamento de idéias. Nada de sofisticação, de vaidade, megalomania.
As redes sociais são as evidências da democracia, a própria liberdade de expressão. Permitem até que qualquer bobagem seja postada. Por isso têm outros afins, como por exemplo, ser instrumento de preconceituoso protesto, não ter um fundamento racional, ser uma manifestação oportunista, servir de degrau para a zombaria, para o riso sem graça. Foi o que aconteceu com Lula e a sua doença. Mensagens de conceito ridículo buscando o engraçado com coisa muito séria, como a doença e por essa razão procurar tratamento no SUS. Falta de respeito com um cidadão emérito, desconsideração com o sujeito de origem humilde que necessita unicamente do serviço de saúde estatal.
Os autores da mensagem inescrupulosa e seus seguidores nunca precisaram do SUS, devem ter seus planos de saúde privados. Falam sem conhecimento de causa. É bom saberem que se precisar de um transplante ou realizar uma cirurgia de redução de estomago terão que recorrer ao SUS. Não há nenhum plano particular que pague certos procedimentos. Lula sempre teve seu plano de saúde, não precisou do SUS. Alias o que diriam as redes sociais, se por acaso Lula se tratasse pelo SUS. Os preconceituosos oportunistas no mínimo o chamariam de demagogo.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Ainda a ficha limpa

O sujeito vai em busca de emprego. Deixa seu curriculum em diversas empresas e agências. Aguarda. Em determinado momento é convidado para uma entrevista. Apresenta-se. Há o primeiro contato diante do funcionário responsável pelo setor de recursos humanos que deseja descobrir o jeito de ser do candidato, indícios de seu comportamento, detalhes de sua personalidade. O encontro trás resultado positivo ao aspirante de emprego. A próxima etapa é a realização de um teste de conhecimentos. Não há maior dificuldade. Depois, importante pela exigência de lei, o exame médico. Na seqüência natural em busca de uma colocação há a apresentação indispensável de documentos, carta de recomendação com histórico profissional de outras empresas onde trabalhou. Todas as exigências satisfatoriamente cumpridas. Empregado.
Concurso ao emprego público. O passo inicial é a inscrição. Depois o concorrente mostra seus conhecimentos afins numa prova. É aprovado. A segunda etapa consiste numa avaliação da saúde, saber de seu estado físico. Indispensável o atestado de bons antecedentes e se necessário a ficha de sua vida pregressa, enfim mostrar a ficha limpa.
Nas empresas privadas, no serviço público, todas essas obrigações são cumpridas à risca. Diante disso a pergunta é necessária: porque assim não deveria ser para o candidato ao cargo público por indicação (o conhecido cargo de confiança) ou eletivo como de vereador? Sim. Todos eles ou qualquer um teria que ter reputação ilibada, conduta irrepreensível, caráter de uma vida incorruptível, o que significa possuir ficha limpa. Na Câmara de Vereadores de Farroupilha, numa medida salutar e digna, determinado vereador tentou fazer prevalecer a ficha limpa. O projeto surpreendentemente foi repudiado pela maioria dos vereadores. A ficha limpa foi aprovada no Congresso Nacional graças a mobilização de milhões de brasileiros e se tornou um marco fundamental para a democracia e a luta contra a corrupção, a impunidade no país. Será que milhares de farroupilhenses terão que ser mobilizarem para que a ficha limpa local seja aprovada? Qual é o problema para que um direito tão democrático do povo não seja aprovado? A questão da não aprovação do projeto da direito ao eleitor de ao menos desconfiar de que há gente com interesse na ficha suja.
Aliás, essa questão levou para uma discussão tola, de total inépcia, de que se tratava de inconstitucionalidade. Trata-se de enrolação, com o uso da dialética sem necessidade, da deslumbrada retórica em vão, de uma eloqüência desnecessária. Pouco importa qual seja o designativo. Antes de qualquer regimento legal, trata-se somente do bom senso, muito mais que isso, de um direito da cidadania e o Direito pressupõe como contrapartida os deveres a quem de direito, como por exemplo, aprove a ficha limpa.
Mais um detalhe. Acreditar que a ficha limpa não foi aprovada por ter sido iniciativa de um vereador do PT é demais. Se assim for a política farroupilhense está envolta em picuinhas, em sórdida mesquinhez. Uma medida salutar foi impedida de vigorar por bizarra pirraça. Trata-se de politicagem.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Arquivo minhas colunas pela data da edição do jornal em que ela é publicada. De repente me chama a atenção, me dou conto que hoje é o dia 11 de novembro de 2011, ou seja, reduzindo a nomenclatura: 11.11.11.
A estranha coincidência de três dezenas iguais, conseqüência da ordenação do calendário despertou minha curiosidade pelos três números semelhantes e me fez averiguar, realizar uma pequena pesquisa (Google), buscando saber se há algo cabalístico, descobrir se algum mistério envolve os três 11 juntos, ou se a coincidência permite alguma interpretação mística. Afinal 11.11.11 é o dia décimo do décimo primeiro mês, dia também do décimo primeiro ano do novo milênio.
Por isso o dia 11.11.11 foi aguardado por muitos movimentos esotéricos como novembro da nova era, um marco energético. Alguém afirmou que a data servirá pela hierarquia da luz para ajudar no campo magnético a relação de amor e paz no planeta.
Dizem mais: O 11 é o numero mestre que reflete a transformação do físico no divino. 11 do 11, do 11, é entendido como uma configuração numérica cabalística. Dizem mais, que toda a vida pode ser reduzida ou explicada por números. As correntes dessa sequência numérica reúnem uma série de novos entendimentos que ajudarão a ajustar e equilibrar o ser humano.
Por tudo isso o número 11 significa muita energia, mas também significativamente um número desesperador em termos de desgraça e pelos fatos históricos, muito mais que o número 13, determinado por muita gente como número do azar. Vejamos:
- New York City das Torres Gemeas, tem 11 letras.
- Afeganistão, invadido pelos americanos, 11 letras.
- The Pentagon, o famoso edifício da Defesa americana, atacado por terrorista, 11 letras
- George W. Bush, presidente que invadiu o Iraque e dos ataques suicidas, 11 letras.
- Nova York é o estado americano de número 11.
- O primeiro dos voos que arremeteu contra as Torres Gêmeas era o de número 11.
- O voo número 11 levava a bordo 92 passageiros: 9 + 2 = 11
- O outro voo que derrubou as torres levava a bordo 65 passageiros: 6 + 5 = 11
- A tragédia ocorreu no dia 11.
- As vitimas que faleceram nos aviões foram 254: 2+5+4 = 11
- O dia 11 de setembro no calendário é o de número 254 do ano.
Pois então. O número 11 pode ter uma interpretação mística, cabalística como fonte de energia, como também interpretado pelas coincidências como muito desditoso.
Em termos de benéfica coincidência o leitor talvez esteja lendo essa coluna de 11.11.11 as 11 horas, 11 minutos e 11 segundos.
Lembrando que um time de futebol tem 11 jogadores, mas parece que a dupla Grenal está jogando com muito menos. Tem mais. Quem gosta de uma “fezinha” o número 11 na corretagem zoológica é burro.
Um bom dia no dia 11 de novembro de 2011.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Ah, Ah, Ah...2

Contei semana passada as minhas peripécias numa caminhada na cidade na extensão de mais ou menos cinco quilômetros e duração aproximada de 40 minutos.
Pois bem. Tudo o que foi narrado não foi verdadeiramente tudo, em razão do esgotamento de espaço reservado à escrever a coluna. Sim, aconteceram mais coisas e que posso contar no espaço disponível nessa edição, a saber:
Caminho. Sigo pela calçada. Atrás de mim sinto aproxima-se um barulho ensurdecedor, uma total algazarra, uma grande presepada, formada por intermitente zoada de buzinas causadas sob a pressão do ar comprimido, evidentemente para me chamar a atenção. Trata-se de uma carreta, uma daquelas de cinco rodados e 22 pneus. O potente caminhão para no acostamento ao meu lado. A parada, com a freada motivada por freios a vácuo, com aquele som característico de chiado fortíssimo é outro festival de estrepolia sonora, fuzarca em altos decibéis.
Do alto da cabine de quase três metros de altura uma voz conhecida me sacaneia:
- Hei, Carioquinha, vai pro Rio a pé? Sobe aqui na boleia que lhe dou uma carona.
Invocado, apoquentado, sacaneado, respondo em alto e bom som, sem pestanejar:
- NÃÃÃÃÃO. Quer saber? Sabe para onde estou indo? Para a ponte que caiu.
Ando, penso, e chego a conclusão que é melhor deixar pra lá. Quem mandou andar a pé.
Fico resignado com as gozações recebidas, na verdade, com um jeito de vaidade, satisfeito e gratificado pelo reconhecimento.
No entanto nem todos que por mim passaram possuíam o espírito jocoso, o engraçado como natural. Um conhecido, de forma séria, prestativo em me fazer um favor, para ao meu lado. Baixa o vidro da porta e gentilmente pergunta se eu desejo uma carona.
Como até aquele momento todas as interpelações foram de forma espirituosa, provocações com gracejos, dessa maneira entendi o amável convite e a resposta foi dada naquele tom um tanto quanto descortês:
- Não enche o saco, prefiro ir pé.
O sujeito, naturalmente por não aceitar o obséquio e pela resposta interpretada como mal-educada, se mostrou desvairado pela arrancada repentina com o seu carro, cantando pneus. Meditei e me indaguei. Qual seria o motivo que deixara a pessoa fula da vida? Não haveria causa aparente e me propôs a responder aleatoriamente com três respostas: de fato fui malcriado, ou o sujeito sentiu que o tinha menosprezado ou ainda porque não teria qualquer confiança com ele ao volante.
Enfim cheguei à Linha Julieta na concessionária de automóveis. Então voltei e voltei motorizado, a bordo – sorry periferia - de uma Captiva.
Chegou a minha vez: ah, ah, ah...

quarta-feira, 2 de novembro de 2011

Ah, ah, ah......

Compromisso numa concessionária de automóveis em Linha Julieta. Do centro da cidade e ir até lá tenho duas alternativas: ônibus ou táxi. Prefiro uma terceira opção, qual seja caminhar. Além da questão econômica - muito menos importante por ser irrisória -, a caminhada de aproximadamente cinco quilômetros me permite algo bem agradável e saudável, como também me proporciona uma segunda intenção, qual seja, observar em detalhes situações diversas, positivas ou negativas, aquilo que passa despercebido normalmente quando a pessoa percorre qualquer percurso no interior de um veiculo sem atenção devida a paisagem urbana.
A manhã é possuída por um sol esplendoroso, o dia começa completamente iluminado com o céu azul celeste como diria o poeta. A temperatura é amena, bastante confortável.
Desloco-me da redação do jornal ao local desejado descendo a rua Barão do Rio Branco. No cruzamento da RST 453, passo por baixo do viaduto em direção a RS-122 e daí até Linha Julieta. O trajeto é feito com passadas firmes e normais, passos não muito apressados, o que me permite as observações mais apuradas dos detalhes urbanísticos principalmente com recentes empreendimentos imobiliários na região o que é bem positivo. Negativamente se observa diversas infrações no trânsito. Carros trafegando além da velocidade permitida. Motoristas que dirigem em flagrante desrespeito as regras estabelecidas: além do abuso de velocidade, estar dirigindo sem as duas mãos apegadas ao volante, ora falando ao celular, ou com o cigarro entre os dedos, ora o braço apoiado na porta com o cotovelo pelo lado de fora.
A caminhada, particularmente para mim, permite situações inusitadas, zombarias, comicidade, tudo levado na “esportiva”. Não sou nenhuma figura fulgurante, não sou famoso, muito menos celebridade. Sou apenas uma pessoa muito conhecida. Caminho. Passa por mim um furgão de entregas, a velocidade é diminuída e um travesso grita a primeira gaiatice, acompanhada de uma risada de escárnio:
- Pobre tem mais que andar a pé. Ah.ah.ah.
Uma segunda gozação parte de dentro de um automóvel por parte de outro conhecido. Diminui consideravelmente a marcha para que, com um brado enviar a pilhéria:
- Não pagou a financeira. Tiraram o carro. Ah,ah,ah.
O ciclista passa por mim. Eu e ele em cima da calçada. Diminui as pedaladas, olha para trás, e com a uma cara cínica e toda desfaçatez larga o esperado comentário engraçado:
- Não tem dinheiro nem pro ônibus. Ah, ah, ah.
No trevo de retorno, em frente a antiga Faster, o mais desnorteado ocorre. Um cortejo fúnebre passa por ali. Um séqüito de dezenas de carros acompanha o defunto à última morada. Num dos carros alguém me vê quase ao final da peregrinação e oferece:
- Quer uma carona?
O raciocínio é ligeiro, a resposta rápida: Nãaaaaaaa. Sem qualquer ah, ah, ah...