Compromisso numa concessionária de automóveis em Linha Julieta. Do centro da cidade e ir até lá tenho duas alternativas: ônibus ou táxi. Prefiro uma terceira opção, qual seja caminhar. Além da questão econômica - muito menos importante por ser irrisória -, a caminhada de aproximadamente cinco quilômetros me permite algo bem agradável e saudável, como também me proporciona uma segunda intenção, qual seja, observar em detalhes situações diversas, positivas ou negativas, aquilo que passa despercebido normalmente quando a pessoa percorre qualquer percurso no interior de um veiculo sem atenção devida a paisagem urbana.
A manhã é possuída por um sol esplendoroso, o dia começa completamente iluminado com o céu azul celeste como diria o poeta. A temperatura é amena, bastante confortável.
Desloco-me da redação do jornal ao local desejado descendo a rua Barão do Rio Branco. No cruzamento da RST 453, passo por baixo do viaduto em direção a RS-122 e daí até Linha Julieta. O trajeto é feito com passadas firmes e normais, passos não muito apressados, o que me permite as observações mais apuradas dos detalhes urbanísticos principalmente com recentes empreendimentos imobiliários na região o que é bem positivo. Negativamente se observa diversas infrações no trânsito. Carros trafegando além da velocidade permitida. Motoristas que dirigem em flagrante desrespeito as regras estabelecidas: além do abuso de velocidade, estar dirigindo sem as duas mãos apegadas ao volante, ora falando ao celular, ou com o cigarro entre os dedos, ora o braço apoiado na porta com o cotovelo pelo lado de fora.
A caminhada, particularmente para mim, permite situações inusitadas, zombarias, comicidade, tudo levado na “esportiva”. Não sou nenhuma figura fulgurante, não sou famoso, muito menos celebridade. Sou apenas uma pessoa muito conhecida. Caminho. Passa por mim um furgão de entregas, a velocidade é diminuída e um travesso grita a primeira gaiatice, acompanhada de uma risada de escárnio:
- Pobre tem mais que andar a pé. Ah.ah.ah.
Uma segunda gozação parte de dentro de um automóvel por parte de outro conhecido. Diminui consideravelmente a marcha para que, com um brado enviar a pilhéria:
- Não pagou a financeira. Tiraram o carro. Ah,ah,ah.
O ciclista passa por mim. Eu e ele em cima da calçada. Diminui as pedaladas, olha para trás, e com a uma cara cínica e toda desfaçatez larga o esperado comentário engraçado:
- Não tem dinheiro nem pro ônibus. Ah, ah, ah.
No trevo de retorno, em frente a antiga Faster, o mais desnorteado ocorre. Um cortejo fúnebre passa por ali. Um séqüito de dezenas de carros acompanha o defunto à última morada. Num dos carros alguém me vê quase ao final da peregrinação e oferece:
- Quer uma carona?
O raciocínio é ligeiro, a resposta rápida: Nãaaaaaaa. Sem qualquer ah, ah, ah...
Nenhum comentário:
Postar um comentário