Pela quarta vez consecutiva o Brasil classificou-se como o campeão mundial da felicidade. A pesquisa foi feita por uma instituição estrangeira ( Instituto Gallup) em parceria com a Fundação Getulio Vargas. A pesquisa ouviu mais de 200 mil pessoas em 158 paises. O Brasil foi o vencedor em todos os quesitos concernentes a ser feliz. A pesquisa mede o nível de satisfação com a vida em cinco anos e que oferece o IFF (Índice de Felicidade Futura).
Será verdade toda essa felicidade brasileira? Colocar em dúvida o Gallup, questionar a FGV - duas renomadas instituições – pelo resultado da pesquisa realizada é desmerecer a capacidade, autenticidade e competência das duas entidades.
Então, acreditamos. Somos os mais felizes do mundo embora pareça algo surreal, uma bizarra constatação, pelo país que conhecemos, com uma boa parte de população miserável, de sofridos contrastes, do luxo à indigência.
Pelo resultado de sermos os mais felizes do mundo, o pesquisador deve ter entrevistado o sujeito refestelado numa cadeira à beira-mar, totalmente despreocupado, desfrutando do ócio. A pergunta: “Você é feliz?” Resposta imediata, de imensa satisfação: “Claro que sou muito feliz”.
O cidadão em requintado restaurante, saboreando delicias de um ágape divinamente preparado, degustando fino bordeaux de primeira linha é indagado se é feliz.
Mastigando a comida não espera educadamente engoli-lá.para responder. Como guloso glutão e em meio a inebriante luxuria tem pressa em responder convicto: “Felicíssimo”.
Esse tipo de pessoas, para a nossa grande felicidade, provavelmente foi o maior número de entrevistados. Não obstante, a mesma pergunta ao individuo que levantou as cinco horas e que está se deslocando em lotado segundo ônibus a caminho do trabalho:
- O senhor é feliz? A resposta malcriada retratando o mau humor : “Vai se ferrar”.
Pergunte ao torcedor colorado depois do show de Neimar se ele é feliz. Certamente no mínimo dirá: “Cala a boca”.
Aproxima-se do contribuinte do Leão nessa época do ano, aporrinhado com a declaração de rendimentos e procure saber como está a felicidade: “Vai se catar”
Porém... Sempre há o contudo, todavia ou entretanto, no embaraço da resposta a pergunta se é feliz. Procure saber do catador de lixo ou aquele que sobrevive em total estado de miséria deplorável vasculhando no lixão restos, que mais parecem porcos resíduos, imundos detritos, buscando a sobrevivência, se ele está feliz. Para quem foi feita a pergunta é inadvertida, sem propósito, gaiata, preconceituosa, mas entrou no somatório do brasileiro ser o mais feliz do mundo. “Você é feliz ?”
Acredite que ele poderá responder sim, resposta com o gozo mórbido por seu próprio sofrimento, retratando o sentido de vida de um masoquista.
Feliz sim, apesar da amargura, da condição de penúria, da vida lastimável e indigna.
Feliz sim, simplesmente porque sobrevive.
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