Caminho, não contra o vento. A brisa em movimento diante da minha cara me causa desconforto. Melhor caminhar a favor do vento. Levo comigo sempre um lenço, não daqueles de pano de antigamente, que mais pareciam um guardanapo. Uso o lencinho de papel, moderninho, de suave frescor, manuseio delicado, gostosamente perfumado, porém eficiente em seu uso, lenitivo para quando a irritante, alérgica e incomodativa rinite atacar. É providencial caminhar de posse de um documento. Necessário mostrar a autoridade policial quando de repente for interpelado para identificar-se ou, serve para mostrar quem é você, se por ventura no meio da rua, for acometido de um piripaque.
Como se nota cuidados requisitados, precauções necessárias para caminhar. Muito diferente do que diz a antiga, contestadora e irreverente canção de Caetano Veloso (Alegria, Alegria), que provoca ao aconselhar em caminhar contra o vento, sem lenço e documento, coisas de pequena relevância, diante das tantas dificuldades que se tem em caminhar pelas ruas da cidade. Caminhar contra o vento, sem lenço e documento é de somenos importância.
A caminhada pela rua proporciona dissabores. A calçada esburacada, tornada assim, pela frágil camada de cimento que a cobre. Desgastada pelo tempo surgem os buracos. Em outro tipo de calçada formatada por lajes retangulares ou redondas, algumas bastante irregulares, cuja colocação é feita em desníveis acentuados, proporcionando perigo aos pedestres. A ponta de uma laje mais proeminente que a outra é a condição especial para o sujeito tropeçar. A diferença de nível da calçada faz o transeunte tropicar. Essas condições são propícias para se dar uma topada. Esse tipo de choque diz a sabedoria popular é a única maneira de colocar pobre para frente. Na verdade coloca a cara das pessoas de frente contra o solo. Topadas que proporcionam xingamentos à autoridade pública, à ineficiência da fiscalização.
Outra praga que se encontra pelas ruas, principalmente naquelas de maior movimento, são as pessoas obcecadas por celular, que caminham completamente absortas, entretidas por alguma mensagem, um vídeo qualquer ou algum joguinho imbecil.
Essa distração proporciona esbarrões, encontrões, uma serie de dificuldades para quem utiliza o passo mais rápido. O caminhante exercitando-se com exigidas passadas não quer nem saber daqueles distraídos com os mimos tecnológicos. Insolente o passo é mantido firme o que determina propositais choques. O resultado é algum passante reclamando, um começo de confusão, um raivoso desafeto surgindo, a agressão verbal, um celular espatifando-se no solo. O desafiante, o proposital arranjador da encrenca incólume segue o caminho até que um buraco na calçada faça torcer o tornozelo ou o passante fortão dono não tão distraído de um celulífero, que não gostou do esbarrão. Nesse caso o atrevido desafiante ao invés de caminhar vai se exercitar correndo.
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