segunda-feira, 5 de março de 2012

Os que foram

Retorno. Fico algum tempo afastado da cidade e a volta me trás profunda tristeza por notícia de lamentáveis ocorridos com a morte de pessoas, uma a mim ligada por parentesco e as outras por longo conhecimento. Pessoas idosas, que em determinado momento – ninguém é imortal – predestinadas a ordem natural das coisas: a morte. Nem sempre essa disposição ou colocação metódica prevalece pela inversão ilógica da existência quando alguém morre antes do tempo estabelecido por uma faixa etária, caso da morte de um jovem. Mas para o idoso a morte é o futuro. Irremediável destino. Ele está indubitavelmente na ordem natural do fim da vida.
Nesse caso da idade avançada diríamos tecnicamente que a morte é o fim da vida animal ou vegetal; a cessação da existência quando se chega a última etapa da vida. Desde o início de sua vida o ser humano sabe que está sujeito a supressão de sua existência, destinado a morrer, cedo ou tarde. Obviamente tarde sempre é melhor.
Caso da minha tia Docha que morreu aos 96 anos. No período em que estive viajando morreram ainda René Farinon (87) dona Norma Tartatarroti (86) e Theodosio Bartelle (90). Conheci todas essas pessoas, claro com uma convivência maior com a minha tia. Theodosio Bartelle, que me chamava de Seu Gomes, sem qualquer explicação para tanto respeito, se dizia meu leitor assíduo, era meu consultor, por sua experiência e vivência, para a realização de alguma pesquisa histórica de Farroupilha. Encontrava-o sempre nas imediações da antiga fabrica de móveis da família.
Coincidentemente essas três finadas pessoas moravam na mesma rua Paim Filho. Situada no centro da cidade trata-se de um logradouro dos mais antigo e tradicional, que ainda mantém certo romantismo, que não foi invadido por portentos espigões..
Na mesma Paim Filho, nas duas primeiras quadras, moram por ali famílias residentes a mais de meio século. Minha família morava no número 1, ao lado onde hoje é o Posto de Reni Broilo, vizinha da família Mancalossi.
Pela ordem, ainda do mesmo lado esquerdo, a casa da tia Docha, das famílias Tartarotti e Farinon. Do outro lado da rua (direito) a família Rombaldi.
Em frente, novamente à esquerda, a mansão das famílias Bartelle e Grendene. Adiante a casa de Zilco Ornaghi.
Encontro Clovis Tartarotti (90 anos) morador também da rua Paim Filho. Com ele faço um exercício de rememoração em razão dos três falecimentos ocorridos.
Fala com muita segurança, revive rápidos acontecimentos, não titubeia em qualquer momento, mostra que a idade não lhe afetou a racionalidade, com pleno poder de sua faculdade mental e comando firme em suas condições físicas.
O assunto era pertinente, a pergunta necessária para quem de 90 anos assistiu o falecimento das pessoas da Paim Filho, vizinhas de muitos e muitos anos.
Clovis Tartarotti não foge do assunto. Com certa irreverência e muita espiritualidade faz comentários e afirma que ainda tem gente por ali, “vivinhos da silva”, uns três ou quatro, em torno da idade de 90 anos.

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