Sala de espera no foro da Justiça do Trabalho. Diversas
pessoas no aguardo para audiências. Estão ali em situação desconfortável. O
calor é quase insuportável. Não há ventilação alguma. O vento fornecido pela
Natureza não tem condições por ali circular.
Auxilio mecânico, um simples ventilador, para amenizar o
calorento ambiente, inexiste.
O desconforto é sentido também no descanso. Aquelas
criaturas humanas, esperam sentadas em duros bancos de madeira, a ocasião de serem
atendidas.
Cidadãos: jovens, gente de meia-idade, idosos. Cada um deles
tentado resolver suas questões, buscando seus direitos junto a Justiça
trabalhista.
Homens e mulheres. Mulheres. Lá está uma delas. Um
espetáculo. Não merecia estar naquele ambiente por se tratar de uma deusa, uma
rainha.
Merecia estar num templo ou num palácio possuído por
climatizador, com temperatura agradável, refestelada em macias poltronas de
couro vermelho.
O espetáculo é a advogada ali presente. Ela prende a
atenção, atrai a vista. Dessa forma é contemplada, ser protagonista de olhares
embevecidos.
É uma figura deslumbrante, chega a turvar os olhos de
mulheres invejosas.
Sedutora, é a expressão da sexualidade. Poderosa, altaneira,
porque não gostosa, tem a química do encanto, da sensualidade explicita, inspiradora
de desejos.
Portentosa, tem a consciência de sua força manipuladora.
Em pé, observou-se não ser muito alta. A simetria do rosto é
arredondada. A anatomia do semblante tem uma disposição harmônica bem
semelhante. As maçãs do rosto são rosadas e salientes. Os olhos esverdeados bem
configurados. Cabelos castanhos, lisos, por sobre os ombros lembra Jennifer
Lopez. A boca parecida com a de Julia Roberts. Os lábios carnosos, pintados com
batom de vigorosa cor escarlate semelhantes aos de Angelina Jolie. Um belo,
fascinante e espetacular conjunto artístico.
O decote acentuado, por
isso magnânimo aos olhares, faz o imaginário pensar em lindos seios. As mãos
bem delicadas, os dedos finos e alongados. Unhas pintadas mais vermelhas que a
camisa colorada. O vestido é colante, justo ao corpo. Curto, deixa amostra, as
pernas roliças, longelineas. Tem na mão o smartphone, Não se sabe o que ela procura
ou tenta descobrir.
Na sua busca, impacientemente cruza e descruza as pernas.
Nesse movimento um dos rapazes presente aposta que a cor da calcinha é azul. O
outro ao seu lado não tem tanta certeza. Um senhor aprecia e é um dos
deslumbrados contempladores da beleza exposta a sua frente, relembrando saudoso
seu passado de jovem. Ahhh... se pudesse.
Três idosas, com causas semelhantes em juízo aguardam e
cochicham.
- Matilde, olha só que pouca-vergonha. Que indecência de
roupa.
- Isso é um acinte, um verdadeiro desaforo aos bons
costumes, diz indignada Eufrásia.
Mais radical Maria das Graças demonstra sua repulsa.
- Essa sirigaita
deveria ser proibida de freqüentar esse local.
Vamos deixar de intrigas. A bacharela em Direito, por seu
comportamento pode estar buscando sua própria afirmação por ser limitada pela
timidez.
É a vez dela e o seu constituinte serem atendidos.
Levanta. Puxa, num mecânico e desnecessário movimento o
curto vestido para baixo não se sabe o por quê. Adentra ao recinto da
audiência.
Juíza presente. À sua frente a mesa retangular e em cada um
dos lados os oponentes em juízo. Empregador de um lado e seu representante. Do
outro, a dita cuja advogada e seu cliente, o empregado. A ação trabalhista tem
a fase inicial buscando uma conciliação.
A advogada mencionada e descrita inicia sua oratória.
- Excelência. Digníssima meretriz.
O ambiente ficou pesado. Presentes entreolharam-se apalermados,
abobalhados.
Explica-se. Não se trata de ofensa, de desacato ao tribunal.
Trata-se de uma feiúra ignara dentro de um belo porte físico: é a estupidez
pelo desconhecimento de linguagem ao confundir meritíssima com meretriz.
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