quinta-feira, 20 de março de 2014

Sophia ou Sofia

Andei por aí. Verão de dias ensolarados, de sol brilhante e atraente, de apreciável tempo estival. Período de magnífico amanhecer, de esplendoroso crepúsculo, tempo mais do que nunca delicioso em viver.
Caminhei por praias à beira-mar, pisando em areias alvas e macias. Pelo espírito aventureiro percorri trilhas de piso duro, enlameado e sujo, com dificuldade imensa de locomoção, mas com segurança seguindo experiente guia.
Manhã de verdadeira graça, perfeita lindeza. Desta feita perto do mar. Como parte do meu exercício físico diário o meu percurso programado é de seis quilômetros, ou seja, uma hora de caminhada. O piso areal é agradável e confortável. O mar, em razão de pigmentos amarelos, presentes na matéria orgânica, fazem com que predomine a cor verde, formando um formoso contraste com o brilhantismo da luz solar.
O mar está calmo. Leves ondas delicadamente tocam à areia e em seguida mançamente desfazem-se, depois ao que parece romanticamente beijá-la.
Aquela grande massa de água sossegada parece ser uma imensa piscina e com temperatura agradabilíssima é convidativa para um mergulho.
Caminho. A praia está repleta de banhistas. Senhores e senhoras refestelados em confortáveis cadeiras, verdadeiras espreguiçadeiras. Jovens jogam frescobol. Crianças com o natural e indômito espírito infantil brincam, correm de um lado para outro.
O meu percurso se torna dificultoso. A faixa de areia se torna mais estreita.
Com a ginga do corpo desvio de uma ou outra pessoa. De repente essa ação se torna bem difícil. Vou de um lado para outro. Paro. Tento recomeçar a caminhada. Está difícil. Defronto-me com ela, Sofia. Exuberantemente linda. Cabelos pretos encacheados. Olhos negros amendoados. Pele morena, mais morena do que nunca abençoada divinamente pelo sol. Nos dois titubeamos. Paramos. Um de frente ao outro.
Descubro o nome dela por uma voz masculina e cuidadosa:
- Sofia, olha o tio.
O tio sou eu e Sofia é uma gracinha fofinha entre três ou quatro anos. Delicadamente, mais que isso, amorosamente, digo: “licença Sofia”
Sofia ou Sophia?  De qualquer maneira um bonito nome.
As letras PH, antigamente substituíam o F nas palavras de origem grega. Caso de Sophia. A Sophia com PH é uma figura feminina homenageada como uma deusa da sabedoria pelos gnósticos, que dizem ser ela responsável pela criação do mundo material. O gnóstico faz parte de um grupo religioso e filosófico que afirma ter acesso a um conhecimento secreto que levaria seus membros a salvação e acredita que todos os seres humanos possuem uma centelha divina, predestinados a salvação.
A pequena e bela Sophia é isso: uma divina deusa, a caminho da salvação.
A simplesmente Sofia nos trás à lembrança a misteriosa personagem do livro o Mundo de Sofia, romance filosófico intrigante. A vida de Sofia é perturbada quando aos 14 anos ela recebe mensagens anônimas. Uma delas era a pergunta: “Quem é você ?”.
A outra questionava: “De onde vem o mundo?”. A partir daí Sofia toma conhecimento de sua consciência, de sua condição.
A pequena e bela Sofia, amanhã adolescente, adulta, um dia certamente por sua consciência terá a faculdade da razão para julgar seus próprios atos que serão impostos pelas circunstâncias.
Caminhei até determinado local. No retorno lá está ela. Tomo cuidado para não esbarrá-la. Cumprimento amável: “Oi Sofia”. Ela me responde com um tímido sorriso.  
                                                           *** ***


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