Imaginação livre, solta. Ficção pura. Inventemos que a taça
da Copa do Mundo, fosse um ser humano, de existência real, feminina, linda em
sua formosura, bela por seu brilhante dourado, desejo profundo de posse,
importantíssima pelo seu significado no mundo esportivo. Ela como rainha do
universo, representando o galardão máximo a ser alcançado, troféu do futebol almejado
por nações. Prêmio que um brasileiro afirmou que iríamos ganhar e que outro
disse que já estávamos com uma das mãos em sua posse (tolas, fantasiosas e
exageradas pretensões) e que os argentinos realmente estiveram pertinho em
conquistá-la. Pois bem argentinos. A Copa, não que ela seja volúvel, leviana,
frívola, mas como mulher na nossa imaginação, somente iria para as mãos fortes,
para o talento, para a conquista de verdadeiros e merecidos campeões.
Por isso a Copa, ser feminino, linda e bela, poderia cantar,
plagiando o espetáculo teatral musical dramático bibliográfico Evita (como se
ela a Copa fosse a própria Evita), “Não chores por mim Argentina”.
Foi um abalo profundo para os argentinos. Perder a Copa do
Mundo uma comoção generalizada argentina. Além, por si só, do alto significado
da conquista, foi perdê-la em terra brasileira e com isso o final da zombaria, da
zoeira, da gozação para cima dos brasileiros, a partir daquela musiquinha incômoda,
chata e imbecil: “ Brasil decime que se siente...”. Felizmente por muito tempo
ficarão com a boca fechada.
Uma perda de tão grande valor e mais um episódio dramático na
vida argentina. A Argentina é um tango, uma música nada alegre, muito ao
contrário. De uma musicalidade melancólica e dramática, mescla paixão,
sexualidade e agressivo ( na dança se observa o machismo, o domínio do homem
sobre a mulher), profundamente triste, extasiante, arrebatador como lamento,
como a própria vida dos argentinos.
A Argentina vez por outra convive com profundas crises, seja
ela política, econômica ou social. Agora, duas crises são bem atuais: na
economia, com a divida externa e o pagamento urgente de bilhões de dólares aos que
eles chamam de “abutres” e na esfera esportiva, a perda da Copa do Mundo.
E é por essas e outras, que os argentinos se encontram com o
seu amor masoquista e talvez por isso a Argentina é o país que tem a maior
quantidade de psicólogos: 1 para cada 649 habitantes. Na América Latina a média
é de 65 psicólogos a cada 100 mil habitantes. Assim é que no cotidiano
argentino se segue culturalmente e de forma terapêutica a interpretação do
pensamento de Freud e dizem até que ele é argentino.
Na Argentina repensar e rever o passado é vital para prever o
horizonte, como por exemplo, ganhar uma Copa do Mundo no futuro. De fato os
argentinos têm uma relação de amor com a psicanálise. Verdadeira fascinação
cultural. Engana-se que a psicologia na Argentina é modismo de ricos. Nas
camadas mais populares é comum encontra-se a busca para um tratamento
terapêutico, um analista. 32% por cento dos argentinos, numa população de um
pouco mais de 40 milhões de habitantes, ou seja, quase 13 milhões, regularmente
realizam tratamento psicológico. Para se ter uma ideia dessa cultura
psicológica e como retrato convincente a Tv argentina apresentou uma série
dramática chamada “Trata-me bem” – o nome já sugestivo – baseada nas agruras de
um casal. Marido e mulher cada um tem seu psicólogo. Diante de uma crise de
meia-idade, os dois tomam uma decisão importante: consultar um terceiro
analista para que juntos possam fazer outra terapia, a de casal.
Por tudo isso nós todos choramos por ti Argentina.
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