domingo, 27 de julho de 2014

Dilma console-se: até defunto é vaiado

Já foi dito: o efeito das vaias, seus motivos, suas conseqüências. Ratificando. Trata-se. Trata-se do instrumento para revelar desagrado com uma pessoa, sinaliza ao desgosto com alguma coisa. É aquele “UUU!” ecoado de maneira prolongada. É a maneira de manifestar desaprovação com algum ato político, esportivo, artístico e etc.
Enfim, a vaia é a expressão pública, coletiva e democrática, de sentimentos e opiniões. É o exercício do legítimo direito de discordância ou crítica em relação a algo ou alguém. Em alguns momentos ela pode ser insolente, desrespeitosa em demasia, até mesmo atrevida e mais que isso, ofensiva. Em alguma outra ocasião ela pode ser caluniosa, injusta e injuriosa. E então ela esta fora do conceito, errada e improcedente.
Existe a vaia desrespeitosa, aquela em que um orador tenta fazer seu pronunciamento, mas é tolhido pelo incessante grito formado pelos “us”.
A vaia se desqualifica quando ela é ultrajante, maldosa e afronta principalmente a memória de alguém. Jogo no Mineirão, semana passada, entre Cruzeiro X Vitória, instantes antes do início da partida é anunciado um minuto de silêncio em homenagem póstuma ao ex-árbitro Armando Marques. Pois bem. A torcida cruzeirense uníssona vaiava e gritava ladrão. Isso tudo em razão de que, no longínquo ano de 1974. Armando apitando um jogo decisivo pelo campeonato brasileiro entre Cruzeiro x Vasco no Maracanã visivelmente prejudicou o time mineiro anulando um gol do Cruzeiro de maneira errada, o que lhe tirou o título de campeão.
Nelson Rodrigues dizia que o torcedor no estádio vaia até minuto de silêncio. Pode ser. Mas vaiar um defunto é demais.
Rock in Rio foi local para monumentais vaias. Em muitos espetáculos, o público presente, aficionado e delirante admirador do rock internacional, não se cansou de vaiar estrepitosamente nomes nacionais artísticos como Erasmo Carlos, Lobão, Carlinhos Brown e até a Claudia Leite.
Vaia memorável e estrondeante ocorreu em 1968, III Festival Internacional da Canção. Ao seu final é anunciada a música vencedora, Sabiá de Chico Buarque e Tom Jobim e de imediato o imensurável apupo, isso porque, a canção preferida de todo o público, de sucesso imediato, foi aquela que ficou em segundo lugar, “Para não dizer que falei das flores” de Geraldo Vandré.
A presidenta Dilma nesse ano foi vaiada em dois momentos no evento da Copa do Mundo (na abertura e encerramento, no Itaquerão e Maracanã, respectivamente). A vaia é pública e democrática confirma-se, mas em certos momentos deve ser evitada, principalmente para com uma presidenta legalmente e democraticamente eleita, mais que isso uma mulher.
A vaia surgiu acompanhada de um palavreado indecente, obsceno e vulgar, que exibido pela televisão em centenas de países se tornou uma vergonha nacional. Dessa forma a vaia é considerada um ato grosseiro e vexatório, de cretina e imbecil hostilidade, por uma grande parte das culturas, pelos povos civilizados. Ocorreram mais vaias, não tão somente além das grosseiras, vexatórias, cretinas e imbecis, como aquela de característica pela incivilidade e a outra de predicado xenófobo.
Hino Nacional Brasileiro, conforme determinação da FIFA, por ser longo é executado somente em sua primeira parte. Em alguns estados brasileiros, conforme exigência da lei (em qualquer competição oficial é obrigatório a execução do Hino Nacional), acontece o mesmo e como já é habito, os torcedores continuam o hino em sua segunda parte na base da “capela” (o hino cantado sem acompanhamento instrumental). Pois bem. Com o Hino Nacional do Chile, acontece o mesmo, porém, no jogo entre Brasil X Chile, no momento em que chilenos continuaram o hino na base da “capela”, o momento de incivilidade, a falta de moral cívica, a vaia desaforada dos torcedores brasileiros. Coisa feia. 
O brasileiro Diego Costa naturalizou-se espanhol e dessa maneira adquiriu a condição de jogar pela seleção da Espanha, o que aconteceu. Em determinado jogo Diego foi substituído e na saída do campo recebeu homérica vaia da torcida brasileira como se ele fosse um traidor, um expatriado, um apátrida. Xenofobia autêntica.
 Vaias desse tipo só poderia ser prática de uma ralé, da massa ignara. No entanto, nos dois estádios, os torcedores eram representantes da classe média alta (ingressos a de 200 a 900 dólares), ricaços do rico interior de São Paulo, conservadores, eleitores da oposição, do PSDB, enfim a classe da elite branca.
Como está inserido no texto acima até defunto é vaiado (Armando Marques). Na Grécia Antiga, há 100 anos a.C., era costume vaiar ou aplaudir as execuções de criminosos ou traidores do Estado, como uma demonstração ou não a condenação. A vaia também tem seus abomináveis e tétricos exageros.


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