segunda-feira, 30 de novembro de 2015

Crônica de uma morte anunciada

Ângela acusa o jovem Santiago de tê-la desonrado. Seus irmãos pelo ignóbil ato praticado, em nome da honra, da dignidade familiar, pela vingança, matam Santiago. A desforra iminente, a represália esperada, a punição pelo crime anunciada, por tudo isso, nada salvaria Santiago de seu funesto destino. Sabia-se que ele morreria, a comunidade tinha conhecimento, de que o crime estava premeditado. Nada se fez.
Esse enredo no livro “Crônica de uma morte anunciada”, texto do magistral Gabriel Garcia Marques, serve de paradigma, o título paráfrase usual, para tudo aquilo que sabemos que irá acontecer, o sentimento premonitório de que uma tragédia possa ocorrer nada se faz, providências para se evitar uma catástrofe não são tomadas.
Relembremos somente duas. Uma ocorrida há pouco mais de dois anos, em Santa Maria e outra recentemente no município de Mariana.
Na primeira, as necessárias precauções contra incêndio, a segurança do público, nunca foram efetivamente e corretamente avaliadas. Deu no que deu: mais de duas centenas de jovens morreram pelo descaso, pelo relaxamento da autoridade pública. Crônica de uma tragédia anunciada.
Na segunda, a ganância de uma multinacional, a voracidade pelos ganhos de capital proporcionou um verdadeiro tsunami de detritos, a mistura de resíduos de metais com perenes rios, compôs um lamaçal destruidor.
O lucro capitalista é maior quando não se tem maiores despesas com a segurança do trabalho, daí, a crônica anunciada da destruição.
No entanto nem todos os acontecimentos desastrosos alinham-se como uma crônica anunciada.
Os terríveis, horrendos e fatídicos atos terroristas não se enquadram como atos anunciados. O máximo de quase uma certeza nesses casos é de que de repente eles podem acontecer, são esperados não se sabe quando, a qualquer momento na surpresa trágica, de supetão sinistro e funesto.
 Assim vivem os parisienses em macabra expectativa. O terror está por perto, sabem que pode acontecer. Quando? Nada está anunciado.
Nesse clima de terror pelo mundo afora me empolga, me arrebata pela estupida violência o que ocorreu durante muitos anos na Colômbia, especialmente na cidade de Medellin, quando Pablo Escobar, histórico e poderoso traficante, com seu terrorismo colocou os colombianos em situação de total estresse. Interessei-me por Escobar por não acreditar que um ser humano fosse capaz de tanto terror, com centenas de assassinatos (inclusive de políticos como dois candidatos a presidência da República, senador e ministro de Estado), derrubada de um avião com explosivos (morreram mais de 100 pessoas), edifícios públicos dinamitados. Todo aquele horror da Colômbia naqueles anos de Escobar poderia ser comparado sem titubear, com as ações terroristas do Estado Islâmico. Interessei-me, para poder acreditar, onde pode chegar o rancor, o ódio, do ser humano para com o próximo.
Li Pablo Escobar, livro do jornalista Alonso Salazar que serviu de base para série Pablo Escobar: O senhor do tráfico, que assisti pela GloboSat. Vi pela Netflix, Narcos. Li o recente livro Pablo Escobar, Meu Pai, escrito pelo seu filho Juan Pablo Escobar. Exclusivamente nesse caso de terror proporcionado por Escobar na Colômbia, o colombiano Garcia Marques deveria acreditar mais do que nunca na crônica de uma terribilidade anunciada.




  

Nenhum comentário:

Postar um comentário