Ângela acusa
o jovem Santiago de tê-la desonrado. Seus irmãos pelo ignóbil ato praticado, em
nome da honra, da dignidade familiar, pela vingança, matam Santiago. A desforra
iminente, a represália esperada, a punição pelo crime anunciada, por tudo isso,
nada salvaria Santiago de seu funesto destino. Sabia-se que ele morreria, a
comunidade tinha conhecimento, de que o crime estava premeditado. Nada se fez.
Esse enredo
no livro “Crônica de uma morte anunciada”, texto do magistral Gabriel Garcia
Marques, serve de paradigma, o título paráfrase usual, para tudo aquilo que
sabemos que irá acontecer, o sentimento premonitório de que uma tragédia possa
ocorrer nada se faz, providências para se evitar uma catástrofe não são
tomadas.
Relembremos
somente duas. Uma ocorrida há pouco mais de dois anos, em Santa Maria e outra
recentemente no município de Mariana.
Na primeira,
as necessárias precauções contra incêndio, a segurança do público, nunca foram efetivamente
e corretamente avaliadas. Deu no que deu: mais de duas centenas de jovens
morreram pelo descaso, pelo relaxamento da autoridade pública. Crônica de uma
tragédia anunciada.
Na segunda,
a ganância de uma multinacional, a voracidade pelos ganhos de capital
proporcionou um verdadeiro tsunami de detritos, a mistura de resíduos de metais
com perenes rios, compôs um lamaçal destruidor.
O lucro
capitalista é maior quando não se tem maiores despesas com a segurança do
trabalho, daí, a crônica anunciada da destruição.
No entanto
nem todos os acontecimentos desastrosos alinham-se como uma crônica anunciada.
Os
terríveis, horrendos e fatídicos atos terroristas não se enquadram como atos
anunciados. O máximo de quase uma certeza nesses casos é de que de repente eles
podem acontecer, são esperados não se sabe quando, a qualquer momento na
surpresa trágica, de supetão sinistro e funesto.
Assim vivem os parisienses em macabra
expectativa. O terror está por perto, sabem que pode acontecer. Quando? Nada
está anunciado.
Nesse clima
de terror pelo mundo afora me empolga, me arrebata pela estupida violência o
que ocorreu durante muitos anos na Colômbia, especialmente na cidade de Medellin,
quando Pablo Escobar, histórico e poderoso traficante, com seu terrorismo colocou
os colombianos em situação de total estresse. Interessei-me por Escobar por não
acreditar que um ser humano fosse capaz de tanto terror, com centenas de
assassinatos (inclusive de políticos como dois candidatos a presidência da
República, senador e ministro de Estado), derrubada de um avião com explosivos
(morreram mais de 100 pessoas), edifícios públicos dinamitados. Todo aquele
horror da Colômbia naqueles anos de Escobar poderia ser comparado sem titubear,
com as ações terroristas do Estado Islâmico. Interessei-me, para poder
acreditar, onde pode chegar o rancor, o ódio, do ser humano para com o próximo.
Li Pablo
Escobar, livro do jornalista Alonso Salazar que serviu de base para série Pablo
Escobar: O senhor do tráfico, que assisti pela GloboSat. Vi pela Netflix,
Narcos. Li o recente livro Pablo Escobar, Meu Pai, escrito pelo seu filho Juan
Pablo Escobar. Exclusivamente nesse caso de terror proporcionado por Escobar na
Colômbia, o colombiano Garcia Marques deveria acreditar mais do que nunca na crônica
de uma terribilidade anunciada.
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