O primeiro
prefeito de Farroupilha (1934/37), o
jovem Armando Antonello, 32 anos,
nascido em 1902, falecido em 1973, com 71 anos, escreveu artigo no jornal “A
Gazeta Farroupilhense” (abril 1972) relatando a ligação Farroupilha/Porto
Alegre de antanho até aquele ano (1972), texto de importante valor histórico.
Escreveu: “Dentro de poucos dias repetir-se-á pela terceira vez a velha
caminhada traçada há 96 anos pelo calcanhar da imigração italiana, há 40 anos
por Torres Gonçalves através da Julio de Castilhos e agora pelo asfalto através
da RS-4”.
Antonello,
quando diz que pela terceira vez a velha caminhada traçada há 96 anos, refere-se
a primeira caminhada dos imigrantes italianos na subida da serra quase ao final
no século XIX. A segunda, a partir de 1903, com o início da construção da
estrada Julio de Castilhos. A terceira, nos anos 70, trata-se da construção
RS-4 ligando Farroupilha à São Vendelino, hoje com a nomenclatura de RS-122.
A construção da estrada Julio de Castilhos
teve a responsabilidade do engenheiro Carlos Torres Gonçalves que por seu
traçado ligaria São Sebastião do Cai à Vacaria.
De forma
histórica em série e até mesmo romântica, segue Antonello em seu texto. “A
todos esses caminhos marcados pela pata de burro, pela carreta ou pelo asfalto
destaca-se a convergência na culminância da encosta: Farroupilha, daí
irradiando-se para Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Garibaldi, Antonio Prado e
etc.”.
Em razão
disso, ao seu tempo, a Julio de Castilhos de forma ufanista era o paradigma
integracional, modelo incomum em estradas de rodagem.
Naquela
época, primórdios do século XX, informa Antonello, os automóveis tinham no
mostrador o máximo de 60 kms por hora, todavia, velocidade nunca atingida. Diz
mais, que ao longo da subida da Julio de Castilhos havia cochos de água para
matar a sede da mulada e refrescar os fumegantes Ford, modelo A. O primeiro
munícipe em sua deslumbrante retórica prossegue quanto a construção da estrada,
destacando o subdesenvolvimento: “A Julio de Castilhos que atravessa montes e
vales foi feita toda ela a mão. Nenhuma máquina. O animais de aço não chegavam
até nós porque éramos sub-infra-desenvolvidos, mas o meláfiro e o basalto das
Antas caíram ante o ímpeto da dinamite e marreta.
Em sua
eloqüência, agora critica, afirma Antonello: “Nos gabinetes oficiais, no
entanto, preparavam-se novos traçados rodoviários. O pior era de que o que o
órgão federal fazia, o estadual nem dele sabia e nossa riqueza andava aos
tropeços entre buracos, pedras e poeiras, passos e barcos e vencia mortificada
a amargura de uma época diferente até que um dia surgiu a notícia da BR-2, que
partiria de Jaguarão e atravessaria o Brasil continental. O Rio Grande do Sul
passaria a ter o privilégio de sua fenomenal rodovia, a segunda em importância
na economia da Nação. Mas a BR-2 não passaria por Caxias do Sul e sim pelos
lados de São Francisco de Paula, contornando as cabeceiras dos nossos
mananciais hidráulicos e de vales profundos. O lançamento veio precedido de
retumbante noticiário laudatório. Os caxienses não gostaram”.
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