quarta-feira, 18 de novembro de 2015

RS: da antiga estrada Julio de Castilhos, a RS-4, o caminho até RS-122

O primeiro prefeito de Farroupilha (1934/37), o jovem Armando Antonello, 32 anos, nascido em 1902, falecido em 1973, com 71 anos, escreveu artigo no jornal “A Gazeta Farroupilhense” (abril 1972) relatando a ligação Farroupilha/Porto Alegre de antanho até aquele ano (1972), texto de importante valor histórico. Escreveu: “Dentro de poucos dias repetir-se-á pela terceira vez a velha caminhada traçada há 96 anos pelo calcanhar da imigração italiana, há 40 anos por Torres Gonçalves através da Julio de Castilhos e agora pelo asfalto através da RS-4”.
Antonello, quando diz que pela terceira vez a velha caminhada traçada há 96 anos, refere-se a primeira caminhada dos imigrantes italianos na subida da serra quase ao final no século XIX. A segunda, a partir de 1903, com o início da construção da estrada Julio de Castilhos. A terceira, nos anos 70, trata-se da construção RS-4 ligando Farroupilha à São Vendelino, hoje com a nomenclatura de RS-122.
 A construção da estrada Julio de Castilhos teve a responsabilidade do engenheiro Carlos Torres Gonçalves que por seu traçado ligaria São Sebastião do Cai à Vacaria.
De forma histórica em série e até mesmo romântica, segue Antonello em seu texto. “A todos esses caminhos marcados pela pata de burro, pela carreta ou pelo asfalto destaca-se a convergência na culminância da encosta: Farroupilha, daí irradiando-se para Caxias do Sul, Bento Gonçalves, Garibaldi, Antonio Prado e etc.”.
Em razão disso, ao seu tempo, a Julio de Castilhos de forma ufanista era o paradigma integracional, modelo incomum em estradas de rodagem.
Naquela época, primórdios do século XX, informa Antonello, os automóveis tinham no mostrador o máximo de 60 kms por hora, todavia, velocidade nunca atingida. Diz mais, que ao longo da subida da Julio de Castilhos havia cochos de água para matar a sede da mulada e refrescar os fumegantes Ford, modelo A. O primeiro munícipe em sua deslumbrante retórica prossegue quanto a construção da estrada, destacando o subdesenvolvimento: “A Julio de Castilhos que atravessa montes e vales foi feita toda ela a mão. Nenhuma máquina. O animais de aço não chegavam até nós porque éramos sub-infra-desenvolvidos, mas o meláfiro e o basalto das Antas caíram ante o ímpeto da dinamite e marreta.
Em sua eloqüência, agora critica, afirma Antonello: “Nos gabinetes oficiais, no entanto, preparavam-se novos traçados rodoviários. O pior era de que o que o órgão federal fazia, o estadual nem dele sabia e nossa riqueza andava aos tropeços entre buracos, pedras e poeiras, passos e barcos e vencia mortificada a amargura de uma época diferente até que um dia surgiu a notícia da BR-2, que partiria de Jaguarão e atravessaria o Brasil continental. O Rio Grande do Sul passaria a ter o privilégio de sua fenomenal rodovia, a segunda em importância na economia da Nação. Mas a BR-2 não passaria por Caxias do Sul e sim pelos lados de São Francisco de Paula, contornando as cabeceiras dos nossos mananciais hidráulicos e de vales profundos. O lançamento veio precedido de retumbante noticiário laudatório. Os caxienses não gostaram”.  
 


   

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