domingo, 18 de fevereiro de 2018

Tragédia carioca, segundo Gabriel: o Pensador


Domingo passado no Fantástico. O rapper Gabriel, o Pensador, apresentou uma composição musical na qual comenta a insegurança do povo no Rio Janeiro, as atrocidades, estúpidas tragédias. O sentimento de mal-estar provocado pela falta de segurança deixa o carioca vulnerável com a ansiedade irracional pelo temor ao perigo, apavorado nas incertezas de que algo de trágico na esquina pode acontecer.
Gabriel, o Pensador, com sua aguçada capacidade de ver, sentir e compor, coloca em seu rap toda a dramaticidade de um povo. Seu texto eloquente, de versos de plena clarividência e lucidez, sarcásticos, irônicos, indignados, retratam momentos pungentes, situações patéticas:
“Que tiro foi esse/não vou cair agora no chão/pelo menos agora/sou  brincalhão/mas brincadeira tem hora/lá fora no meu Rio cada vez mais gente chora/ cada vez mais gente boa tem vontade de ir embora...”
Ir embora é a vontade da população, desaparecer do descalabro, fugir da terra do terror. O Pensador verseja dolorosamente sobre o sofrimento do cidadão, a tristeza, sentimentos de piedade que comovem, causam compaixão, das balas perdidas achadas em corpos de vítimas:
“O Rio que a gente adora comemora o carnaval/a violência apavora/ ou você acha normal a bomba que explode/ o silêncio/ o medo, o suspiro da morte banal/ o lamento de um povo que implora uma vitória/ do bem sobre o mal/ a tensão, confusão, invasão/ tiroteio fechando a avenida outra vez/ muita bala voando acertando até mesmo crianças/às vezes bebês/ criança meu irmão não é estatística/ é gente, alguém, de verdade/
como Emily menininha linda/ de três aninhos de idade/ 10 tiros no carro/ não é uma fatalidade/ João Pedro quatro anos/ seguia com o pai e irmãos para a igreja/ mas um tiro acertou suas costas/ Luis Miguel de sete anos/ em casa levantou para pedir um copo d´agua/ uma bala perdida ensanguentou sua mãe”...
A violência passou a ser trivial pela decadência do poder constituído sujeitando-se ao poder paralelo do crime. Clara, calamitosa e injustificável inversão de valores.
Gabriel conhece, sabe de onde vem a balbúrdia institucionalizada.
“A violência estúpida afeta todo mundo/ menos esses vagabundos lá da cúpula corrupta, hipócrita, nojenta/ que alimentam essa guerra/ guerra de muito tempo alimentada/ se morre mais um assaltante ou assaltado tanto faz/ para eles somos todos iguais/ operários, empresários, presidiários e policiais/ nós somos otários ideais/”...
Não há dúvida “que eles” são os políticos, aquela casta estratificada do crime organizado, do poder corrupto, da ladroagem, pilantras aproveitadores do poder, a corja despudorada, habitués palacianos, que fazem parte da curriola criminosa. Prossegue o rapper:
“Será que alguém duvida/ que a fortuna da corrupção bem investida/ teria salvo dezenas, centenas, milhares/ milhões de vidas desde que me conheço por gente/ e até muito antes/ quantas mortes de inocentes valem cada anel de brilhantes/ governantes dão mau exemplo/ os valores são invertidos/”.
O Pensador poetisa as desventuras com funestas rimas.
“Meu surdo/ parece absurdo/mas muitos se forem surdos/ conseguem confundir um fuzil com foguete/ escondem defuntos debaixo do tapete/
e covardes autoridades/ zombam da situação, políticos expertos/ exploram o medo/ qualquer sentimento da população/

Dolorosos cinco anos: boite Kiss


A vida vale a pena quando nosso jeito de agir e de amar deixa marcas na memória e no coração das pessoas com quem vivemos, repartimos projetos e sonhos. Ricki tua vida não foi em vão. Tua marca em nós ficará para sempre.
O texto foi publicado como convite para a missa do quinto ano de falecimento do jovem Ricardo Custódio.
Recordo o passado, reminiscências que se mantém na memória, uma data inesquecível de muita felicidade, para mim e minha mulher. 25 de janeiro, a cada ano a comemoração de um feliz casamento. 25 de janeiro, a cada ano o registro trágico de funesta consequência para 242 pais. 25 de janeiro há cinco anos passados. Domingo pela manhã. No jardim de minha casa apreciava a beleza das flores. Os gerânios vicejantes de variadas cores, as viçosas tagetas com predominância da cor amarela, as multicoloridas cravinas. Com deleite olhava aqueles seres floridos, mágicos e delicados. Mais do que nunca, não poderia ser diferente, a sensação aprazível, afinal comemoraria mais um ano de casamento com um almoço em família. Contemplando a natureza o devaneio é estupidamente interrompido: minha filha esbaforida, assustada, me informa que mais de 200 pessoas tinham morrido num incêndio em Santa Maria.
Arrasante notícia. Sentiu-se de que não havia ânimo para comemorações.  Suspenso o almoço festivo. O trágico acontecimento abalou qualquer ser humano. Uma desgraça que acabou com vidas de jovens em torno de 20 anos. A boite Kiss tornou-se uma fornalha. De repente um monte de plástico com imensa facilidade incendiou-se, virou o Inferno de Dante na Divina Comédia. Imagine-se aqueles jovens correndo na tentativa de fugir das chamas incendiárias. Atônitos não encontraram a porta de saída. Na confusão, no iminente trágico desenlace, acredita-se, ocorreram choques, empurrões, desesperados procurando a salvação, Não encontraram nada. Corpos sucumbiram empilhados de maneira horrenda. Buscavam a vida. Encontraram a morte.
No teatro grego os dramas trágicos encerravam-se com a morte do personagem principal. No trágico palco da realidade morreram 242 personagens.
Fatalidade não. A tragédia poderia ser evitada.  Por falta de fiscalização, de uma vistoria rigorosa, de desrespeito as exigências legais, a tragédia não foi uma fatalidade pois havia previsão de que com aquelas mazelas, uma consequência poderia ocorrer. Ocorreu.  
Ricardo era um jovem farroupilhense. Cheio de vida, de projetos, vivendo a alegria da juventude. Pretendia se divertir naquele sábado em Santa Maria com amigos. Avisou a mãe que domingo à noite estaria de volta, necessitava viajar a trabalho. Não voltou com vida.
Conversei com a professora Rosaura, mãe  de Ricardo, parecia falar de modo tranquilo, embora a voz se mostrasse embargada pela emoção. Demonstrou que contra o destino nada poderia fazer, mas uma coisa afirmou com segurança: ter a faculdade de conservar e lembrar sempre a memória do filho. No diálogo Rosaura não mostrou inquietude. Mas quem saberá o que ocorre no âmago, na alma, no coração de uma mãe marcada por trágica desventura. Profundos sentimentos aflitivos e angustiantes irão conviver dramaticamente e inevitavelmente com Rosaura e outras 241 mães por longos e dolorosos anos.

Assedio sexual: homens cuidem-se


Seriado americano famoso, de grande sucesso, Mad Men, aborda o ambiente sedutor numa agência de publicidade. Focado na década dos anos 60, vivencia o relacionamento entre funcionários, a intimidade entre homens e mulheres, chefes e secretárias, muito além das questões funcionais. O apetite sexual da época talvez não fosse provocado pelo figurino feminino de saias nunca acima dos joelhos, mas certamente pelos vestidos ajustados, ousadamente colantes ao corpo, modelos tipo “tubinho”, delineando generosas linhas curvilíneas a partir dos seios, da cintura fina, dos quadris,, modelo feminino conhecido como “violão”. A indumentária de silhueta erótica provoca, por sua passagem, o olhar dos homens obrigando-os virarem a cabeça e apreciar o derriere. Seria a homenagem a beleza e o charme da mulher. Assédio sexual? Tempo em que não havia radicalismo,  o patrulhamento, a insistência do assunto tratado hoje como assédio sexual. Tempo em que a moça da saia abaixo do joelho, do vestido “tubinho” era homenageada pela rapaziada com o termo da época “ô boa”, que hoje seria “ô gostosa”. Não ocorreu nenhum avanço sexual. A moça segue em frente deslumbrada, com o seu ego massageado. Em outros tempos a mulher passa por uma construção e o servente de pedreiro emite aquele assovio, tipo “fiu/fiu”. Para sua faceirice, um elogio. No momento atual, a mulher em razão do “fiu/fiu”: “Não tem vergonha seu atrevido, tarado. Isso se chama assédio sexual”.
Os inocentes ditos “essa é a nora que minha mãe deseja” ou “você lá em casa para sermos felizes”, hoje, galanteios tidos provavelmente como assédio sexual. Cuidados são necessários em tempo atual. O tradicional cumprimento do beijinho no rosto do chefe à funcionária é perigoso, pode denotar assedio. Convidar a colega de trabalho para happy hour seria de bom alvitre ter companhia. A conversa do patrão com a estagiaria deve ter a porta do escritório aberta. Carona para aquela moça será sempre em grupo. Sentir aquele perfume de mulher pode, o que não pode é elogiá-lo. Cuidados a tomar para não haver riscos em incorrer no condenável assédio sexual. Simples beijos, despretensiosos convites, podem ser condutas impróprias na interpretação das vigilantes do assédio sexual.
Homens tem que se adequar, obedecer aos ditames impostos ao momento atual dos exageros quanto ao comportamentos sexual.  Tem que se policiar em suas atitudes quanto ao sexo oposto. O relacionamento no local de trabalho, num encontro social ou casual, não pode ultrapassar de um bom-dia, boa-tarde ou boa-noite, preferencialmente de longe. Aperto de mão pode ser interpretado como um avanço sexual. O preceitos de comportamento entre sexos supera o bom senso.
Homens tem que dominar seus ímpetos sexuais embora sejam provocados, como se notou em Los Angeles, num evento de tapete vermelho. Mulheres revoltadas contra o assédio, vestidos pretos. Somente uma de vestido longo vermelho, com generoso decote e uma fenda até os quadris. Muita tentação. A rapaziada tem que se conter, autodomínio pleno, evitar o assédio visualizando a malandra Anita, com aquele biquíni preto, que mais parece um tapa-sexo, feito com fita isolante. 





sábado, 10 de fevereiro de 2018

Mensalão, petrolão, tudo ladrão


Quando a sociedade brasileira acreditava que a corrupção nacional com a descoberta e investigação do Mensalão havia sido extinguida com seus envolvidos penalizados. Quando se pensava - com muita desconfiança – depois do acontecido, que habitava-se um país com razoáveis valores de honestidade, de ética e moral, todo mundo se enganou. Soube-se com o Mensalão e depois com Lava Jato que o povo brasileiro habitava uma construção de material apodrecido, feita com mão de obra fraudulenta. Por isso ocorreu o desmoronamento dos princípios éticos, a demolição da doutrina moralista, enfim virtudes perdidas. Em meio aos escombros lá estava misturada a dignidade humana, sucumbidas entre resíduos de entulhos lá estavam as observâncias que pautam os deveres da probidade, os princípios inerentes a obediência das normas e regras da civilidade.
O mensalão foi protagonizado pelo PT. Outros partidos, principalmente os santificados na época, PP e PMDB, vibravam com os petistas ardendo nas labaredas do inferno. Pensava-se que com o Mensalão tudo estaria resolvido quanto a corrupção. Engano. Políticos e empresários, em esdrúxula simbiose, não tomaram jeito. Surgiu o consorcio da ladroeira chamado de Lava Jata. Com ele novos protagonistas que fizeram parceria com o PT, os antigos PMDB e PP, dois agora, pecadores na fornalha infernal. O atual MDB tem políticos ditos importantes respondendo a inquéritos. Vergonha. Destaques para o Presidente Michel, seus asseclas, amigões de fé, companheiros nas investigações, Moreira Franco e Eliseu Padilha. Situação mais constrangedora e humilhante, o antigo PMDB no Rio de Janeiro. Presos o govenador Sergio Cabral, o presidente da assembleia Jorge Picciani. Desagradáveis e vergonhosos sentimentos, desonra, o pejo. O MDB nacional é também o MDB gaúcho. MDB de Simon, de Sartori, dos radicais antipetistas, bajuladores de Michel: Alceu Moreira, Darcidio Perondi, Mauro Pereira, correligionários de Michel, Padilha, Moreira Franco, Cabral, Picciani, Renan Calheiros, Romero Jucá...
O antigo PP, agora simplesmente Progressista, é o partido que tem o maior número de políticos investigados na Lava Jato, a começar pelo seu presidente senador Ciro Nogueira. Partido do deputado Paulo Maluf (finalmente preso) e da senadora gaúcha Ana Amélia.
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