A vida vale a pena quando nosso jeito
de agir e de amar deixa marcas na memória e no coração das pessoas com quem
vivemos, repartimos projetos e sonhos. Ricki tua vida não foi em vão. Tua marca
em nós ficará para sempre.
O texto foi publicado como convite para
a missa do quinto ano de falecimento do jovem Ricardo Custódio.
Recordo o passado, reminiscências que se
mantém na memória, uma data inesquecível de muita felicidade, para mim e minha
mulher. 25 de janeiro, a cada ano a comemoração de um feliz casamento. 25 de
janeiro, a cada ano o registro trágico de funesta consequência para 242 pais. 25
de janeiro há cinco anos passados. Domingo pela manhã. No jardim de minha casa
apreciava a beleza das flores. Os gerânios vicejantes de variadas cores, as
viçosas tagetas com predominância da cor amarela, as multicoloridas cravinas. Com
deleite olhava aqueles seres floridos, mágicos e delicados. Mais do que nunca,
não poderia ser diferente, a sensação aprazível, afinal comemoraria mais um ano
de casamento com um almoço em família. Contemplando a natureza o devaneio é
estupidamente interrompido: minha filha esbaforida, assustada, me informa que
mais de 200 pessoas tinham morrido num incêndio em Santa Maria.
Arrasante notícia. Sentiu-se de que não
havia ânimo para comemorações. Suspenso
o almoço festivo. O trágico acontecimento abalou qualquer ser humano. Uma
desgraça que acabou com vidas de jovens em torno de 20 anos. A boite Kiss
tornou-se uma fornalha. De repente um monte de plástico com imensa facilidade
incendiou-se, virou o Inferno de Dante na Divina Comédia. Imagine-se aqueles
jovens correndo na tentativa de fugir das chamas incendiárias. Atônitos não
encontraram a porta de saída. Na confusão, no iminente trágico desenlace,
acredita-se, ocorreram choques, empurrões, desesperados procurando a salvação, Não
encontraram nada. Corpos sucumbiram empilhados de maneira horrenda. Buscavam a
vida. Encontraram a morte.
No teatro grego os dramas trágicos
encerravam-se com a morte do personagem principal. No trágico palco da
realidade morreram 242 personagens.
Fatalidade não. A tragédia poderia ser
evitada. Por falta de fiscalização, de uma
vistoria rigorosa, de desrespeito as exigências legais, a tragédia não foi uma
fatalidade pois havia previsão de que com aquelas mazelas, uma consequência
poderia ocorrer. Ocorreu.
Ricardo era um jovem farroupilhense.
Cheio de vida, de projetos, vivendo a alegria da juventude. Pretendia se
divertir naquele sábado em Santa Maria com amigos. Avisou a mãe que domingo à
noite estaria de volta, necessitava viajar a trabalho. Não voltou com vida.
Conversei com a professora Rosaura,
mãe de Ricardo, parecia falar de modo
tranquilo, embora a voz se mostrasse embargada pela emoção. Demonstrou que contra
o destino nada poderia fazer, mas uma coisa afirmou com segurança: ter a faculdade
de conservar e lembrar sempre a memória do filho. No diálogo Rosaura não
mostrou inquietude. Mas quem saberá o que ocorre no âmago, na alma, no coração
de uma mãe marcada por trágica desventura. Profundos sentimentos aflitivos e
angustiantes irão conviver dramaticamente e inevitavelmente com Rosaura e
outras 241 mães por longos e dolorosos anos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário