Domingo passado no Fantástico. O rapper
Gabriel, o Pensador, apresentou uma composição musical na qual comenta a insegurança
do povo no Rio Janeiro, as atrocidades, estúpidas tragédias. O sentimento de
mal-estar provocado pela falta de segurança deixa o carioca vulnerável com a
ansiedade irracional pelo temor ao perigo, apavorado nas incertezas de que algo
de trágico na esquina pode acontecer.
Gabriel, o Pensador, com sua aguçada
capacidade de ver, sentir e compor, coloca em seu rap toda a dramaticidade de
um povo. Seu texto eloquente, de versos de plena clarividência e lucidez,
sarcásticos, irônicos, indignados, retratam momentos pungentes, situações
patéticas:
“Que tiro foi esse/não vou cair agora
no chão/pelo menos agora/sou brincalhão/mas brincadeira tem hora/lá fora no
meu Rio cada vez mais gente chora/ cada vez mais gente boa tem vontade de ir
embora...”
Ir embora é a vontade da população, desaparecer
do descalabro, fugir da terra do terror. O Pensador verseja dolorosamente sobre
o sofrimento do cidadão, a tristeza, sentimentos de piedade que comovem, causam
compaixão, das balas perdidas achadas em corpos de vítimas:
“O Rio que a gente adora comemora o
carnaval/a violência apavora/ ou você acha normal a bomba que explode/ o
silêncio/ o medo, o suspiro da morte banal/ o lamento de um povo que implora
uma vitória/ do bem sobre o mal/ a tensão, confusão, invasão/ tiroteio fechando
a avenida outra vez/ muita bala voando acertando até mesmo crianças/às vezes
bebês/ criança meu irmão não é estatística/ é gente, alguém, de verdade/
como Emily menininha linda/ de três
aninhos de idade/ 10 tiros no carro/ não é uma fatalidade/ João Pedro quatro
anos/ seguia com o pai e irmãos para a igreja/ mas um tiro acertou suas costas/
Luis Miguel de sete anos/ em casa levantou para pedir um copo d´agua/ uma bala
perdida ensanguentou sua mãe”...
A violência passou a ser trivial pela
decadência do poder constituído sujeitando-se ao poder paralelo do crime. Clara,
calamitosa e injustificável inversão de valores.
Gabriel conhece, sabe de onde vem a
balbúrdia institucionalizada.
“A violência estúpida afeta todo mundo/
menos esses vagabundos lá da cúpula corrupta, hipócrita, nojenta/ que alimentam
essa guerra/ guerra de muito tempo alimentada/ se morre mais um assaltante ou
assaltado tanto faz/ para eles somos todos iguais/ operários, empresários,
presidiários e policiais/ nós somos otários ideais/”...
Não há dúvida “que eles” são os
políticos, aquela casta estratificada do crime organizado, do poder corrupto,
da ladroagem, pilantras aproveitadores do poder, a corja despudorada, habitués
palacianos, que fazem parte da curriola criminosa. Prossegue o rapper:
“Será que alguém duvida/ que a
fortuna da corrupção bem investida/ teria salvo dezenas, centenas, milhares/
milhões de vidas desde que me conheço por gente/ e até muito antes/ quantas
mortes de inocentes valem cada anel de brilhantes/ governantes dão mau exemplo/
os valores são invertidos/”.
O Pensador poetisa as desventuras com
funestas rimas.
“Meu surdo/ parece absurdo/mas muitos
se forem surdos/ conseguem confundir um fuzil com foguete/ escondem defuntos
debaixo do tapete/
e covardes autoridades/ zombam da
situação, políticos expertos/ exploram o medo/ qualquer sentimento da
população/
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