sexta-feira, 17 de julho de 2020

DILÚVIO: NOÉ E SUA ARCA

Chuva é um fenômeno comum no meio ambiente. Cientificamente a chuva é a precipitação de água, em forma de gotas, como afirmam os meteorologistas: “proveniente da condensação do vapor de água existente na atmosfera”. Ela geralmente está em estado líquido, embora às vezes surja em estado sólido (chuva de granizo). Quando as chuvas em gotas são bem menores, até incomodativas, trata-se de um fenômeno denominado garoa. Há chuvas amenas, oferecendo fertilidade e fecundidade, condição sine qua non para desencadear a vida. Chuva fértil e fecunda, excelente para a natureza, para o cultivo de plantações, irrigação do solo, enfim, em todos os sentidos propícios à vida humana. Tem gente que não gosta de chuva, não a suporta, mas ela é prioritária para o planeta até para quem dela não goste. Tem gente que tem temor as chuvaradas, e não é para menos, compreende-se: chuvas fortes, temporais, que em muitas ocasiões transformam-se em violenta agitação atmosférica, acompanhada de granizo, ventania, relâmpago, trovão, fenômenos que formam uma mistura, conjunto denominado por tempestades, verdadeiros cataclismas, intempéries que provocam inundações, desmoronamento de morros, desabrigo aos ribeirinhos, rios transbordando e por aí afora, série de transtornos às populações. Tempestade, toró, tromba d´agua, seja o que for em termos de tormenta, tudo que provoca danos, como os que se observaram, na natureza nesses últimos dias. Católicos, com toda fé, queimaram ramos distribuídos no Domingo de Ramos e/ou rezaram para Santa Bárbara. Os índices pluviométricos ultrapassaram 250 mm. Muita chuva. O mundo vai acabar? É o dilúvio? Seria viável se o povo desesperado implorasse a presença de Noé e sua arca salvadora. O povo, com água quase no pescoço, prestes a morrer afogado, com esperança aguardava a salvação por Noé, homem virtuoso, salvo por Deus que o embarcou junto com a família, na arca. Os terráqueos impacientes, esperando por Noé. Repentinamente envolvido pelas nuvens, no horizonte surgiu, sem máscara, mostrando-se imune ao vírus, afinal era ele o porta-voz de Deus – também imune -, informou a todos que não havia lugar para o pecador, o desobediente a vontade de Deus, o impuro, a raça humana contaminada pelo demônio, e, portanto, sem direito à salvação, morreriam todos afogados em meio ao dilúvio. Porém, para dar continuidade à vida animal, determinou que casais de toda a espécie de bicho embarcasse na arca, com uma ressalva: não foi permitido o embarque, de pulgas, morcegos e ratos, para que não houvesse contaminação.

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A quem interessar possa: Canal Bis, dia desses, reapresentação do sensacional show da banda de Paulo Simon, da dupla de Simon/Gafunkel, no Hyde Park, no centro de Londres.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                       

quinta-feira, 16 de julho de 2020

Brasileira Natalia Borges Polesso no jornal inglês The Observert

O jornal inglês The Observer escolheu seis escritores ao redor do mundo para relatar a experiência do isolamento social e a vida na pandemia. A revista Carta Capital publicou o texto londrino com a seguinte manchete: “Planeta Vírus”. Participaram os escritores Tayari Jones (Estados Unidos), Maxim Leo (Alemanha), Emily Perkins (Nova Zelândia), Domenico Starnone, (Itália) Sjón (Islândia), e a escritora brasileira, natural de Bento Gonçalves, Natalia Borges Polesso                                                                              

Passageiros da Agonia: embarcados no coronavírus

Vida sofrida, existência dolorida, vivência lastimável. Não deveria ser assim, mas uma infinita parte da humanidade, comunidades vulneráveis, sobrevivem em derradeira indigência. Na passagem pela vida milhões de seres humanos são verdadeiros passageiros da agonia. Resignados, não tem direito a qualquer coisa, algo que possa oferecer uma breve satisfação, um pequeno limite de contentamento, um exíguo momento de felicidade. Acreditam ainda numa pequena parcela de esperança, no âmago de cada um, o diminuto sentimento de coisa melhor. Buscam estoicamente uma saída onde somente encontraram a entrada da penúria, da deplorável mendicidade. Desiludidos e desconsolados, não têm mais a expectativa de dias melhores. Enfrentam periculosidades, expõem-se as ameaças de agressões, correm riscos quanto a integridade física. Não há medo do medo. Indigentes da espécie humana e o que lhes sobram para sobreviverem é a compaixão e a piedade, queiram ou não, de seus outros irmãos em situação mais confortável.

Miséria, pobreza extrema em que as vítimas são cadáveres da desigualdade social, a abismal distância existente entre as classes sociais, párias, excluídos do convívio social, à margem da sociedade. Pelo mundo, por todo planeta Terra é assim: famintos na África, famélicos na Índia, na periferia das cidades brasileiras, nas recônditas regiões do país, em muitos lugares, gente que morre de fome, desumanidade em forma de atrocidade, crueldade, barbaridade, selvageria, enfim, qualquer adjetivo que classifique a malevolência.

Para quem tem condições de alimentar-se, a produção de alimentos pode abastecer a população mundial, porém essa situação caracterizada pelo bem-estar pode ser discutida pela aguda insegurança alimentar: no mundo a cada quatro segundos uma pessoa morre de fome. O Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF) alerta: 1,4 milhão de crianças correm o risco de morrer com “o surto da fome”, em países africanos e, que padecem muito mais pela desnutrição, que pela doença proporcionada pelo coronavírus.

No Brasil, no último boletim, dado disponível do Ministério da Saúde (2017), uma média de mais de 15 pessoas morreram por dia, 6 mil em todo ano pela desnutrição. O grande alerta da ONU é de que o catastrófica pandemia poderá colocar quase 270 milhões de pessoas no mundo, por falta de alimentos no severo roteiro da fome. Covid-19 não tem parâmetros para a escolha de suas vítimas: idosos, jovens, crianças, bebês de até dois anos de idade.  O Brasil já ultrapassou 60.000 mortes. Somente, entre quarta e quinta-feira, ou seja em 24 horas, foram quase 1.300 vítimas fatais. No R.G. Sul até quarta-feira notificação de 636 óbitos, 22 em 24 horas e quase 1.300 casos. Necessário lembrar que Minas Gerais e Paraná, tinham baixos índices de óbitos, repentinamente surge um surto da doença, quando tudo parecia normalizado. Outrossim, segundo cientistas o Covid-19, terá sua maior ascendência no RS neste mês de julho. Cuidado: muitos sobrevivem, passageiros da agonia

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Para reflexão; entre a cruz e a espada, dilema: certamente, em determinado momento, a economia irá se recuperar. A mesma oportunidade de recuperação não existirá para a vida que foi ceifada pelo coronavírus.

 

 

 

 

  


Corunavirus: começo zona sul

Os primeiros casos de contaminação no Rio de Janeiro aconteceram em meados do mês de março, na zonal sul da cidade carioca. Casos de fácil explicação, isso porque nos bairros de Ipanema, Leblon, Arpoador e Copacabana, a maioria que por ali reside é abastada, com uma posição financeira e social de prestígio invejável, pessoas consumidoras em lojas de grife e que viajam constantemente pela Europa, mundo afora. Um caso explicito: a madame viajou à Itália, voltou infectada pelo Govid-19, não informando à empregada doméstica que estava com a doença contagiante e assim infectou-a.

Ela, a empregada, como muitos outros trabalhadores, moradores da pequena cidade de Miguel Pereira (RJ), distante aproximadamente 100 quilômetros da capital fluminense, dali saem para prestar serviços na metrópole. A empregada doméstica citada, trabalhando no Leblon, passava a semana no emprego e, nos fins de semana, retornava à sua cidade para visitar a família. Numa dessas idas e vindas o inesperado trágico ocorreu: a patroa retornou, como se sabe, com o seu organismo portador de agentes infecciosos do coronavírus e, o que era óbvio aconteceu: a transmissão da doença ocorreu facilmente no contato direto. Vida que segue. Fim de semana, a doméstica visita parentes e, inapelavelmente, pela sequência funesta e execrável de transmissão do parasita hospedeiro, deixa vítimas e estigmas, na pequena cidade fluminense. Naquela semana sobreveio somente para a doméstica a vinda, a ida jamais: ficou em sua cidade eternamente sepultada.

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Country Club do Rio de Janeiro, a centenária sociedade, situa-se em Ipanema, uma quadra perto da praia. Clube de elite social, sofisticado, ostentoso, frequentado pela grã-finagem, pessoas de condição social elevada. Pertinho da famosa praia de Ipanema, mas para aquela gente requintada pouco importa, afinal quem tem uma sociedade que tudo oferece (quadras de esportes, piscinas, bela área paisagística), não necessita daquela praia frequentada pela aquela menina cheia de graça. Além do mais, aquelas pessoas socialmente de classe elevada, jamais iriam se misturar com aquela massa ignara, a desprezível classe pobre, com ninguém que seja um Zé Ninguém. Festas suntuosas ali realizam-se, jantares com chef francês, casamentos e etcetera. Uma estrutura enorme necessita de dezenas de empregados. Noite dessas um jantar concorrido, todos convidados sem máscaras, sentem-se incólumes ao vírus. Fim de festa, pessoal da limpeza em ação. Uma faxineira, moradora no subúrbio da zona norte, adquiriu o coronavírus e assim infectou parentes e vizinhos.

De outra feita, festa de casamento. Garçons atendendo aos convidados. Um deles em sua função é contaminado por alguém sem máscara. Dessa forma contraí o maligno coronavírus, ser inerte, parasita hospedeiro, dependente de outra células para se reproduzir. O citado garçom serviu para reprodução do vírus, colocando na estatística mais um óbito. Como o corona vírus tem princípios democráticos reconheça-se, atingindo vítimas de qualquer raça, gente pobre, gente rica. Uma grã-fina participante do lauto ágape, foi também vítima fatal da festa. Entre idas e vindas a vida segue, sobreviventes enfrentando a maldita moléstia.                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                                      

terça-feira, 7 de julho de 2020

SOMOS TODOS MASCARADOS

O local é denominado Cais da Alfandega, zona nobre, na capital de Recife, onde está construído um condomínio de três torres, empreendimento de alto padrão, planificado com luxuoso e faustoso projeto arquitetônico, conhecido como torres gêmeas.  Além da beleza, o residencial está adjacente ao mar, com um aprazível panorama do horizonte. O domínio predial, por toda sua estrutura, por sua magnificência e ostentação, com todos os requintes de conforto de quem deseja como moradia, certamente deve ser habitado por gente que faz parte da sociedade endinheirada, local propício para a vida burguesa. Numa daquelas torres, exatamente no nono andar, mora uma família afortunada, que desfruta de todos os bens materiais possíveis. Naquele endereço trabalhava a empregada doméstica de nome Mirtes, ela que em plena pandemia continuava trabalhando. Enquanto isso, a creche onde ficava o menino Miguel (cinco anos), filho de Mirtes, estava inativa. A solução para o imprevisto foi solicitar à patroa que “desse uma olhadinha em Miguel”. A solicitação foi feita, em razão de que Mirtes iria passear com o cachorrinho de raça, na parte externa e térrea do prédio, assim Mirtes cumpria sua obrigação passeadora canina. Miguel ficou aos cuidados da patroa. Repentinamente disse que estava com saudade da mãe, queria encontrá-la, determinado queria ver a mãe. A patroa o atendeu. Um vídeo gravou o drama, a caminhada de Miguel para a morte. Porta do elevador aberta, elevador de serviço (Miguel é um negrinho), a patroa lhe diz alguma coisa, aperta determinado botão, a porta do ascensor fecha-se, assim o menino é catapultado para a desgraça, tragédia consumada. A patroa volta para o apartamento para que a manicure termine seu serviço.  A porta do elevador abre-se e o garoto se enreda por caminho desconhecido, chegando até uma abertura. Por ali pretende encontrar a mãe, não a encontra, encontrou a morte. Cai de uma altura de 35 metros, no chão um corpo estatelado mortalmente. Foi dessa trágica maneira que Mirtes pela última vez viu seu filho. A patroa que deveria proteger Miguel, não o fez. Uma verdadeira mãe jamais teria o descuido com os filhos de outra mãe.

Todo esse funesto fato mostra, dolorosamente, a desigualdade social, as diferentes condições de maternidade envolvendo a mãe rica, a mãe pobre.  Mirtes, a empregada, a mãe, de condições financeiras precárias, como tem que trabalhar, lhe é negado o direito legítimo da maternidade, cuidar e criar dignamente o filho Miguel, é obrigada a terceirizar o filho, por força de seu trabalho cotidiano, de ida e volta, da favela para o trabalho. Entrevistada, Mirtes fala numa dor muito forte no peito. Sente que algo está engasgado em sua garganta, quase sufocando-a, sente a aspereza no ar. Tristeza e angústia, unem-se em profundo sentimento de amargura. Tudo acontece no inesperado e precoce velório de Miguel. Desesperada, afligida e soluçante chora, verte lágrimas, diante do corpo inerte, sem vida, do filho, marcado pelos desígnios da vida. O desígnio de Miguel, foi marcado pela negligência, pelo modo relapso, pela irresponsabilidade daquela patroa.


TRAGICO DESTINO DE MIGUELZINHO

O local é denominado Cais da Alfandega, zona nobre, na capital de Recife, onde está construído um condomínio de três torres, empreendimento de alto padrão, planificado com luxuoso e faustoso projeto arquitetônico, conhecido como torres gêmeas.  Além da beleza, o residencial está adjacente ao mar, com um aprazível panorama do horizonte. O domínio predial, por toda sua estrutura, por sua magnificência e ostentação, com todos os requintes de conforto de quem deseja como moradia, certamente deve ser habitado por gente que faz parte da sociedade endinheirada, local propício para a vida burguesa. Numa daquelas torres, exatamente no nono andar, mora uma família afortunada, que desfruta de todos os bens materiais possíveis. Naquele endereço trabalhava a empregada doméstica de nome Mirtes, ela que em plena pandemia continuava trabalhando. Enquanto isso, a creche onde ficava o menino Miguel (cinco anos), filho de Mirtes, estava inativa. A solução para o imprevisto foi solicitar à patroa que “desse uma olhadinha em Miguel”. A solicitação foi feita, em razão de que Mirtes iria passear com o cachorrinho de raça, na parte externa e térrea do prédio, assim Mirtes cumpria sua obrigação passeadora canina. Miguel ficou aos cuidados da patroa. Repentinamente disse que estava com saudade da mãe, queria encontrá-la, determinado queria ver a mãe. A patroa o atendeu. Um vídeo gravou o drama, a caminhada de Miguel para a morte. Porta do elevador aberta, elevador de serviço (Miguel é um negrinho), a patroa lhe diz alguma coisa, aperta determinado botão, a porta do ascensor fecha-se, assim o menino é catapultado para a desgraça, tragédia consumada. A patroa volta para o apartamento para que a manicure termine seu serviço.  A porta do elevador abre-se e o garoto se enreda por caminho desconhecido, chegando até uma abertura. Por ali pretende encontrar a mãe, não a encontra, encontrou a morte. Cai de uma altura de 35 metros, no chão um corpo estatelado mortalmente. Foi dessa trágica maneira que Mirtes pela última vez viu seu filho. A patroa que deveria proteger Miguel, não o fez. Uma verdadeira mãe jamais teria o descuido com os filhos de outra mãe.

Todo esse funesto fato mostra, dolorosamente, a desigualdade social, as diferentes condições de maternidade envolvendo a mãe rica, a mãe pobre.  Mirtes, a empregada, a mãe, de condições financeiras precárias, como tem que trabalhar, lhe é negado o direito legítimo da maternidade, cuidar e criar dignamente o filho Miguel, é obrigada a terceirizar o filho, por força de seu trabalho cotidiano, de ida e volta, da favela para o trabalho. Entrevistada, Mirtes fala numa dor muito forte no peito. Sente que algo está engasgado em sua garganta, quase sufocando-a, sente a aspereza no ar. Tristeza e angústia, unem-se em profundo sentimento de amargura. Tudo acontece no inesperado e precoce velório de Miguel. Desesperada, afligida e soluçante chora, verte lágrimas, diante do corpo inerte, sem vida, do filho, marcado pelos desígnios da vida. O desígnio de Miguel, foi marcado pela negligência, pelo modo relapso, pela irresponsabilidade daquela patroa.


CORONAVIRUS: ONDE TUDO COMEÇOU

TEMPO DE TORTURA: CORONAVIRUS

Faz 102 anos. Tempos desafortunados. Guerra em 1918 e o início da propagação de uma gripe mortal que ganhou o nome de espanhola. Os terráqueos viviam em plena angústia, amedrontados, com duas periclitantes situações: luta armada entre nações e uma doença infectocontagiosa. A guerra começou ao início daquele ano e a peste logo depois. O conflito na Europa ceifou 17 milhões de guerreiros e a pandemia gripal, mais de 50 milhões de vítimas civis. A vasta e mortal enfermidade começou nos Estados Unidos, mais exatamente no estado do Kansas, num campo de treinamento de soldados, que se preparavam para ir à Europa lutar na 1ª Guerra Mundial, quando surgiram os primeiros sintomas da gripe espanhola. Aliás, nada a ver com a Espanha. Recebeu esse nome pela razão da Espanha não participar da guerra e por isso informar verdadeiramente o que ocorria com a hedionda guerra e a repulsiva gripe. Outros países boicotavam as reais notícias para não causar pânico na população. No início, lá no campo de treinamento americano, a gripe começou pouca intensa. Tempos depois a peste atingiu a Europa de modo impactante, inapelavelmente letal, matando soldados entrincheirados. Mais adiante, pelo contágio iminente, a pandemia atingiu a população civil em quase todos os continentes. O surto foi devastador, a virulência assoladora. A guerra, com soldados dentro de trincheiras, agrupados, sujeitos a intempéries, frio, todo o tipo de fenômeno natural, facilitava a disseminação da moléstia. Em hospitais uma pior situação: doentes aglomerados, debilitados e desnutridos, a pestilência matando. Naquele ano, como sempre acontecia, navios europeus atracavam em portos brasileiros. Um deles, um inglês, trouxe uma passageira fatídica e amaldiçoada, um tipo da gripe influenza. Do porto onde atracou, a moléstia contagiosa espraiou-se pelo país inteiro, colocando em óbito 35 mil brasileiros. Chegou a afetar a política. O presidente eleito Rodrigues Alves faleceu antes de assumir seu segundo mandato. O vice Delfim Moreira tornou-se presidente, desfecho político natural. As pandemias envolvem discussões, controvérsias na busca de lideranças, do poder político e daí advém erros desastrosos. Em São Paulo, o governo acreditou tratar-se de um resfriadinho. Geograficamente a Europa ficava muito longe e dificilmente, mesmo que fosse uma forte gripe, jamais abalaria os paulistas. Porém, mesmo assim se caso aportasse, o governo estava plenamente capacitado para enfrentar a “espanhola”. Ledo engano. Não estava. A espanhola chegou em setembro de 1918 e foi aquele desastre. Para o combate à moléstia o governo, pelo Serviço Sanitário, propagandeou uma série de cuidados para a população se prevenir. Além disso o poder político teve o direito a excepcionais verbas para dizimar a gripe. Não adiantou. Ao final do ano de 1918, quase 6.000 paulistas tinham morrido. São Paulo foi o exemplo do que aconteceu no plano nacional de histórica lentidão e incompetência, institucionalização errônea dos governos, a inépcia dos serviços de saúde.

Ano de 1918, ano de 2020, gripe espanhola, covid 19, parece que as coisas se repetem, existe uma analogia nas tomadas de decisões, incertezas no governo federal, a segurança plena em tomar atitudes dos governos estaduais. É bem assim.

   

 

  

 

 


PANDEMIA: ONTEM E HOJE

PAIXÃO DE VERÃO

E DAÍ???

FOLHAS DE OUTONO

O grande sucesso musical da década dos anos 50, foi Autumn Leaves (Folhas de Outono) cantada por Nat King Cole. Dezenas de outras gravações ocorreram desde aquele tempo, destacando-se Frank Sinatra e recentemente Bob Dylan. Autumn Leaves, trata-se de uma composição musical talentosa, de inspiração romântica e sentimental. A poesia é de amorosa sensibilidade.  Na tradução, o primeiro verso:

“As folhas que caem no chão em direção a minha janela/As folhas de outono de vermelho e ouro”

Folhas de outono, secas ou mortas. Outono estação espremida na transição entre o calorento verão e o friolento inverno, duas estações contrapostas evidentemente. O agora outono austral, iniciado em março, modifica o mundo natural, fenômeno físico que se caracteriza com a diminuição da luz solar. O escurecer da noite chega cedo, diminuindo o espaço da tarde e consequentemente o dia. O crepúsculo vespertino, tempo macambuzio, oportuniza para refletir, meditar, analisar, as circunstâncias entre tantas, comportamentos, fatos e conceitos. Outono, a estação que causa melancolia, observando-se as folhas dos arvoredos, que já foram verdes, cheias de vida, agora tristonhamente empalecidas, amareladas, folhas secas. O tempo de outono determina que elas abandonem os galhos das árvores. São folhas de outono, impelidas inexoravelmente a cair. Tentam evitar esse malogrado destino para não serem estupidamente pisoteadas e inclementemente varridas, causando o pungente som da folhas secas pisadas. Assim esvoaçam demoradamente ao sabor do vento frio, na tentativa de não chegar ao indefectível destino. Folhas ao léu, que deveriam proteger árvores as deixam indefesas, desnudas, pelo castigo da intempérie. Folhas no chão. Nenhum empecilho ocorreu para aquilo que estava fadado. Mesmo assim, são predestinadas a promover outra beleza natural. No chão, espalhadas colorem com diversos matizes, do amarelo ao vermelho, tons indefinidos de beleza. Parecem ainda cheias de vida.  Passantes comuns não observam aquele encanto disperso. Já as pessoas, amantes da natureza, caminhando em parques, ficam deslumbradas, têm a simples, cativante e agradável sensação de ouvir aquele som, quase silencioso, do vento movendo as folhas secas. O vento pode levá-las a lugares incertos e desconhecidos. Atiradas no chão uma varredura acontece para deixar o local limpo. Varridas, algumas ainda têm utilidade, tornando-se lixo orgânico. Outras não têm serventia alguma por ignorância das pessoas, são atiradas em lugar fétido num lixão, misturando-se com toda espécie de excrementos. Folhas que viram lixão atiradas em covas simples, preparadas para as folhas mortas, ou cadáveres, sem qualquer respeito, piedade, consolação, ali enterrados como se fossem indigentes.

O texto pode ser interpretado como metáfora, pode ser interpretado como mera coincidência

Enfim, folhas de outono, folhas secas, folhas mortas.