Faz 102 anos. Tempos desafortunados. Guerra em 1918 e
o início da propagação de uma gripe mortal que ganhou o nome de espanhola. Os
terráqueos viviam em plena angústia, amedrontados, com duas periclitantes situações:
luta armada entre nações e uma doença infectocontagiosa. A guerra começou ao
início daquele ano e a peste logo depois. O conflito na Europa ceifou 17
milhões de guerreiros e a pandemia gripal, mais de 50 milhões de vítimas civis.
A vasta e mortal enfermidade começou nos Estados Unidos, mais exatamente no
estado do Kansas, num campo de treinamento de soldados, que se preparavam para
ir à Europa lutar na 1ª Guerra Mundial, quando surgiram os primeiros sintomas
da gripe espanhola. Aliás, nada a ver com a Espanha. Recebeu esse nome pela razão
da Espanha não participar da guerra e por isso informar verdadeiramente o que
ocorria com a hedionda guerra e a repulsiva gripe. Outros países boicotavam as
reais notícias para não causar pânico na população. No início, lá no campo de
treinamento americano, a gripe começou pouca intensa. Tempos depois a peste
atingiu a Europa de modo impactante, inapelavelmente letal, matando soldados
entrincheirados. Mais adiante, pelo contágio iminente, a pandemia atingiu a
população civil em quase todos os continentes. O surto foi devastador, a
virulência assoladora. A guerra, com soldados dentro de trincheiras, agrupados,
sujeitos a intempéries, frio, todo o tipo de fenômeno natural, facilitava a
disseminação da moléstia. Em hospitais uma pior situação: doentes aglomerados, debilitados
e desnutridos, a pestilência matando. Naquele ano, como sempre acontecia,
navios europeus atracavam em portos brasileiros. Um deles, um inglês, trouxe
uma passageira fatídica e amaldiçoada, um tipo da gripe influenza. Do porto
onde atracou, a moléstia contagiosa espraiou-se pelo país inteiro, colocando em
óbito 35 mil brasileiros. Chegou a afetar a política. O presidente eleito
Rodrigues Alves faleceu antes de assumir seu segundo mandato. O vice Delfim
Moreira tornou-se presidente, desfecho político natural. As pandemias envolvem
discussões, controvérsias na busca de lideranças, do poder político e daí advém
erros desastrosos. Em São Paulo, o governo acreditou tratar-se de um
resfriadinho. Geograficamente a Europa ficava muito longe e dificilmente, mesmo
que fosse uma forte gripe, jamais abalaria os paulistas. Porém, mesmo assim se caso
aportasse, o governo estava plenamente capacitado para enfrentar a “espanhola”.
Ledo engano. Não estava. A espanhola chegou em setembro de 1918 e foi aquele
desastre. Para o combate à moléstia o governo, pelo Serviço Sanitário,
propagandeou uma série de cuidados para a população se prevenir. Além disso o
poder político teve o direito a excepcionais verbas para dizimar a gripe. Não
adiantou. Ao final do ano de 1918, quase 6.000 paulistas tinham morrido. São
Paulo foi o exemplo do que aconteceu no plano nacional de histórica lentidão e
incompetência, institucionalização errônea dos governos, a inépcia dos serviços
de saúde.
Ano de 1918, ano de 2020, gripe espanhola, covid 19,
parece que as coisas se repetem, existe uma analogia nas tomadas de decisões,
incertezas no governo federal, a segurança plena em tomar atitudes dos governos
estaduais. É bem assim.
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