A coluna escrita e publicada no "O Farroupilha", na edição da última sexta-feira (09.04) tratou especificamente da solicitação de dois leitores. Um querendo saber na íntegra o poema de Orestes Barbosa, Chão de Estrelas. Outro, conhecer um pouco mais do poeta Lêdo Ivo. Isso porque semanas atrás, no mesmo espaço, comentei a entrevista do poeta alagoano no programa Dossie da Globo News, em que, entre tantas coisas, afirmou que Manuel Bandeira tinha como predileção o poema Chão de Estrelas. Eis, a coluna de sexta-feira passada.
Pois bem. Vou escrever sobre poesia e começo evocando um trecgo poético do grande Camões: "Cesse tudo o que a musa antiga canta, que outro alor mais alto se alevanta". Nesse começo o que a ver a obra de Camões? Pois então. Encontra na posta restante do meu correio eletrônico, dois pedido de dois leitores relacionados a uma coluna semanas atrás, escritas nesse espaço. No entanto, "valores mais altos se alevantaram" com assuntos mais pertinentes nas colunas subsequentes. Atendo agora. Numa conversa com o poeta Manuel Bandeira, o também poeta Lêdo Ivo, perguntou qual o poema mais bonito que conhecia. Bandeira respondeu: Chão de Estrelas de Orestes Barbosa, versos musicalizados e imortalizados na interpretação de Silvio Caldas. O leitor deseja saber o conteúdo completo. Eis a singeleza do poema:
"Minha vida era um palco iluminado/ Eu vivia vestido de doirado/ Palhaço das perdidas ilusões/ Cheios de quizos falsos da alegri/ Andei cantando a minha fantasia/ Entre as palmas febris dos corações/ No nosso barracão no morro do Salgueiro/ Tinha o cantar alegre de um viveiro/ Foste a sonoridade que acabou/ E hoje, quando o sol, a claridade/ Forra o meu barracão, sinto saudade/ Da pomba-rola que voou/ Nossas roupas dependuradas/ Na janela qual bandeiras agitadas/ Pareciam um estranho festival/ Festa dos nossos trapos coloridos/ A mostrar que nossos mal vestidos/É sempre feriado nacional/ A porta do barraco era sem trinco/ Mas a lua furando nosso zinco/ Salpicava de estrelas nosso chão/ Tu pensavas nos astros distraída/ Sem saber que a ventura desta vida/ É a cabrocha, o luar e o violão.
O outro leitor pede poema de Lêdo Ivo. Pois então, A Passagem:
"Que me deixem passar - eis o que peço diante da porta ou diante do caminho/ E que ninguém me siga na passagem/ Não tenho companheiro de viagem/ Nem quero que ninguém fique ao meu lado/ Para passar, exijo estar sozinho somente de mim acompanhado/ Mas caso me proibam de passar/ Por ser diferente ou indesejado/ Mesmo assim passarei/ Inventarei a porta e o caminho e passarei sozinho.
Chamado de Rimbaud brasileiro, de Lêdo Ivo, outra jóia, Queimada:
Queime tudo o que puder/ as cartas de amor/ as contas telefônicas, o rol de roupas sujas/ as escrituras e certidões, as inconfidências dos compadres ressentidos/ a co~fissão interrompida/ o poema erótico que ratifica a impotência e anuncia a arteriosclerose.
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